Restos de bitucas de cigarro, copos plásticos, linhas, chicletes e até camisinhas. Esses são apenas alguns dos dejetos retirados do estômago de 50 tartarugas marinhas encontradas mortas nas praias da região.
A triste e alarmante constatação é revelada no estudo realizado por Aline Ormedilla e Thais Benedicto, alunas do curso de Biologia Marinha da Universidade Santa Cecília (Unisanta). A pesquisa tem apoio da organização não governamental (ONG) Gremar – Associação de Resgate e Reabilitação de Animais Marinhos.
“O resultado é chocante. Sabíamos que esses animais comem o lixo que vai parar no mar. Mas ainda não tínhamos noção de quão cruel é a ação do homem”, avalia a coordenadora técnica da Gremar, Andrea Maranho. O objetivo do trabalho é alertar autoridades e a população sobre a importância da preservação ambiental. “Queremos mostrar do que a ação do homem é capaz”, diz Aline.
Após concluída, a Gremar pretende expor a pesquisa. “As pessoas precisam entender que o lixo que se joga na praia, no rio e na rua pode matar os animais marinhos porque esses dejetos vão parar no mar e, como mostra a pesquisa, no estômago das tartarugas”, explica Andrea.
Trabalho
No Centro de Reabilitação de Animais Marinhos mantido pela Gremar, na Ilha dos Arvoredos, em Guarujá, as tartarugas foram submetidas a necropsia para retirada do material encontrado no estômago e das fezes no canal retal. “Lavamos tudo e peneiramos, para separar o lixo das matérias orgânicas, que são restos de algas, parasitas e folhas de árvores”, descreve Thais.
Para a supresa das estudantes e dos biólogos da Gremar, muitos tipos de objetos plásticos foram encontrados no interior dos animais. “Elas (estudantes) acharam até óculos de boneca Barbie”, cita Andrea.
As universitárias armazenaram em embalagens distintas o conteúdo retirado de dentro de cada animal. “Ainda vamos catalogar os tipos de plástico e, depois, pesá-los”, conta Aline.
O resultado final será apresentado em dezembro, no Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) das estudantes.
Segundo a Gremar, a iniciativa é inédita no País. “É a primeira vez que se estuda uma amostragem tão grande. As demais pesquisas só analisaram o interior de apenas uma tartaruga”, destaca Andrea Maranho.
Causa de morte
Para ela, o estudo também ajuda a comprovar que o lixo é cada vez mais presente nos oceanos. “A maioria desses animais já aparece morta em nossas praias. E uma das causas mais frequentes dos óbitos tem sido a ingestão de lixo”.
De acordo com a ONG, 60% das tartarugas resgatadas mortas tinham lixo no estômago. As demais causas foram afogamento por captura acidental em redes de pesca (20%), colisão com embarcações (10%) e indeterminada (10%).
Em 2010, a Gremar resgatou 155 tartarugas entre Bertioga e Peruíbe. De 1º de janeiro a 31 de outubro deste ano, o número aumentou para 173.
Os animais vivos são tratados na Ilha dos Arvoredos. “Fazemos o manejo alimentar para que o animal possa eliminar o lixo do organismo. Infelizmente, muitos não conseguem sobreviver porque os dejetos chegam a ocupar metade da capacidade do estômago”, revela o coordenador de Manejo da Gremar, Ivan Gentil.
Morte lenta
A ingestão de lixo é causa direta e indireta de morte de animais marinhos. As ocorrências mais graves são decorrentes de lesões geradas por objetos de plástico rígido.
“Por serem pontiagudos, os restos desses itens, como uma simples pá de plástico, perfuram o esôfago ou o estômago das tartarugas. Neste caso, a lesão é imediata e fatal”, explica Gentil.
Ele explica que os plásticos moles, como sacos e camisinhas, matam os animais lentamente. “As tartarugas comem tudo que flutua. Como parte do alimento é lixo, acabam morrendo de inanição, porque se sentem saciadas com os dejetos no estômago. Elas deixam de procurar comida e ficam definhando no mar até morrer”.
A pesquisadora ainda destaca que o lixo é ingerido junto com o alimento. “Os dejetos também se misturam às algas, ou seja, estão presentes na principal fonte de alimento desses animais”, alerta a estudante Thais Benedicto.
Enquanto a morte não chega, o lixo prejudica a locomoção das tartarugas. “Desnutridas, elas não têm força para nadar rápido e acabam morrendo afogadas nas redes dos pescadores.
Muitas são atropeladas por embarcações”, conta Andrea Maranho. Outros objetos encontrados no estômago das tartarugas durante o estudo foram tampas e argolas plásticas usadas para lacrar garrafas de refrigerantes, restos de brinquedos, óculos, balões de gás, fitas de embalar presentes, prendedores de cabelo e cordas.
O coordenador de Manejo da Gremar ressalta que as tartarugas não são as únicas vítimas. “Outros animais, como toninhas (pequenos golfinhos) e aves marinhas, também ingerem lixo”.
Fonte: A Tribuna