Pela primeira vez, um grupo de pesquisadores registrou, durante oito meses, imagens do namoro, cópula, nascimento e crescimento da harpia, também conhecida como gavião-real ou uiraçu-verdadeiro, em dois ninhos da espécie na Floresta Nacional de Carajás, localizada em Parauapebas, sudoeste do Pará. Uma das sequências de fotografias mais interessantes é a da fêmea levando a caça para o ninho e os filhotes aprendendo a levantar voo. O esforço dos integrantes do projeto foi transformado em um livro de 144 páginas que será lançado hoje, às 18h30, no Salão Nobre da Câmara dos Deputados, em Brasília.
Já extinta no Rio Grande do Sul e ameaçada de desaparecer no Espírito Santo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, a harpia é uma das maiores e mais exuberantes aves do planeta. A fêmea pode atingir aproximadamente 9kg e 2,10m de envergadura, enquanto o macho, de tamanho menor, chega a 5,5 kg e 1,85m.
Autor do livro, João Marcos Rosa fotografou o dia a dia do gavião na Floresta Nacional de Carajás, região com mais de 400 mil hectares de mata tropical primária. A obra, que também mostra a presença da ave em outras partes do Brasil e na Venezuela, faz um alerta sobre como a ação humana pode contribuir tanto para a conservação quanto para a extinção da espécie. “Espero que, ao conhecer melhor essa ave que já habitou todo o continente e que agora corre risco de extinção, o leitor seja sensibilizado também para a importância de se preservar outros animais”, afirma João Marcos Rosa.
O livro foi patrocinado pela Vale que, em parceria com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), realizam o Projeto de Conservação do Gavião-real. Desde 2008, a iniciativa viabiliza uma série de ações para ajudar a manter viva a espécie, atualmente na lista da Convenção sobre o Comércio Internacional de espécies ameaçads.
Os textos da obra são de autoria do analista ambiental do ICMBio e responsável pela Floresta Nacional de Carajás, Frederico Martins, da pesquisadora do Inpa Tânia Sanaiotti, e do pesquisador e presidente da Sociedade de Pesquisa do Manejo e da Reprodução da Fauna Silvestre (CRAX Brasil), Roberto Azeredo.
Medidas pró-cerrado
O governo federal vai reforçar ações para conter o processo de devastação do cerrado, um dos maiores e mais importantes biomas brasileiros, que já tem cerca de 49% de sua cobertura vegetal original destruída. Ontem, em Brasília, o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, anunciou os principais pontos do Plano de Ação para a Prevenção e Controle do Desmatamento e das Queimadas no Cerrado (PPCerrado). Uma das medidas a ser implantadas é a fixação de prazo para que a indústria substitua totalmente o carvão de mata nativa pelo carvão de florestas plantadas ou de áreas de manejo florestal.
O bioma ocupa quase um quarto do país, abrangendo área de 212 milhões de hectares (24% do território nacional), em 12 estados (Minas Gerais, Maranhão, Piauí, Ceará, Bahia, Tocantins, Goiás, Distrito Federal, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná). Em Minas, ocupa a maior parte do território. É considerado a caixa d’água do Brasil, por abrigar as nascentes de três das principais bacias nacionais, dos rios São Francisco, Araguaia-Tocantins e Paraná-Paraguai. Também estão no bioma 73,1% da oferta de energia.
Até o próximo fim de semana, será encaminhado à Casa Civil a minuta do decreto a ser assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, instituindo o PPCerrado. A criação do plano está dentro do plano de metas apresentado pelo Brasil na convenção do clima, em Copenhague (Dinamarca), em novembro. O governo brasileiro firmou o compromisso de reduzir as emissões de gases de efeito estufa provenientes do desmatamento no cerrado em 40% até 2020. “Com as medidas do PPCerrado, nossa intenção é alcançar essa meta já em 2012, porque os índices de devastação são preocupantes”, afirmou Minc.
Entre as medidas que deverão ser tomadas com a assinatura do decreto do PPCerrado está a elaboração uma lista de municípios que mais desmatam as áreas de cerrado, como foi feito na Amazônia.
Fonte: Correio Braziliense