Envolvendo grande quantidade de pesquisadores, um Projeto Temático realizado pela Fapesp e pelo Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas de São José do Rio Preto, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), mapeou e localizou ao menos 14 novos grupos de plantas e animais em fragmentos de florestas nos municípios do noroeste paulista. Entre as cidades pesquisadas, estão Novo Horizonte, Pindorama e Sales.
Todo o trabalho, que teve a duração de cinco anos, transformou-se no livro ‘Fauna e flora de fragmentos florestais remanescentes da região noroeste do Estado de São Paulo’, que será lançado na próxima semana no Sesc de Rio Preto.
A publicação teve apoio da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). As matas estudadas estão localizadas em cidades como Novo Horizonte, Sales, Planalto, União Paulista, São João de Iracema, Nova Granada, Barretos, Bebedouro, Matão, Santo Antonio do Aracanguá, Macaubal, Votuporanga, Turmalina, Palestina, Taquaritinga e Pindorama.
A organização do livro e a coordenação foram feitas pelo professor Orlando Necchi, da Unesp. De acordo com Necchi, a região do noroeste paulista havia sido identificada, em estudos anteriores, como uma das áreas prioritárias para conservação da biodiversidade.
“A região foi diagnosticada como uma das mais carentes de estudos no território paulista e, ao mesmo tempo, como uma das áreas com florestas mais fragmentadas no Estado”, disse Necchi.
O projeto foi organizado no Departamento de Botânica da Unesp de Rio Preto, com participação de pesquisadores, docentes, bolsistas de treinamento técnico e estudantes da iniciação científica ao pós-doutorado.
No total, foram analisados 18 fragmentos florestais da região. “O estudo foi feito em 18 fragmentos florestais do noroeste do Estado de São Paulo. Os resultados demonstraram a importância desses fragmentos na conservação da biodiversidade remanescente”, contou Necchi.
Com o desenvolvimento da pesquisa, o próprio coordenador espantou-se com a quantidade de novas espécies que foram encontradas. “Encontramos uma diversidade acima da expectativa inicial, sendo 14 grupos que foram entre plantas e animais. Estudo amplo e bem geral e serve de base para estudos mais aprofundados para o desenvolvimento de políticas públicas e unidades ambientais de conservação”, continuou o professor.
Os pesquisadores contaram com a colaboração dos proprietários para o desenvolvimento da pesquisa. “Todos eles nos deram autorização formal e por escrito para fazer o trabalho para receber as equipes. Foram feitas coletas durante dois anos e semanalmente, tanto pela manhã quanto a noite, que duravam de três e quatro cinco dias”, explicou.
Desde o início da pesquisa, a proposta inicial seria desenvolver o livro. “A idéia original já era de se constituir um livro. Convertemos todo o resultado final nessa publicação. Demorou-se um ano entre a conclusão do projeto até a sua publicação. No livro, são apresentados os resultados dos levantamentos de cada um dos grupos, bem como análises ecológicas integradas sobre a diversidade nos fragmentos florestais e sua conservação”, relata.
Além de levantar as espécies dos fragmentos estudados, o projeto procurou também analisar possíveis efeitos da fragmentação florestal para a região. Outro objetivo foi avaliar a importância da preservação dos fragmentos na manutenção da biodiversidade. “Um dos dados mais surpreendentes é que cada um dos 18 fragmentos possui uma composição própria de espécies de animais e plantas. Ao contrário do que prevíamos, não há um grande número de espécies presente na totalidade dos fragmentos. Também não imaginávamos que encontraríamos um número tão grande de espécies”, disse Necchi.
“Descobertas Vão Estimular Preservação do Ecossistema Regional”, Diz Proença
José Antonio Proença, titular aposentado da Universidade Federal de São Carlos e professor e coordenador do curso de Ciências Biológicas do Imes/Fafica, analisou como de fundamental importância o descobrimento das novas espécies. Segundo ele, as descobertas vão estimular a preservação do ecossistema regional.
“Acho que esse acontecimento deverá estimular a preservação de ecossistemas nativos. Com certeza todos os nossos descendentes vão sentir orgulho. O Poder Público das cidades citadas também deve enaltecer o trabalho que foi realizado”, comentou.
Com a pesquisa, também foi possível constatar alta diversidade biológica e encontrar espécies que poderiam ser extintas antes mesmo de serem conhecidas. “Essa publicação é resultado de um levantamento inédito de quase 2 mil espécies de animais e plantas existentes em dezoito trechos de mata do noroeste paulista. Foram descobertas novas espécies de insetos , várias espécies inéditas de ácaros , e alguns fungos ainda não descritos na literatura científica. Essas matas estudadas estão situadas em propriedades particulares e, ainda mais, apresentam a vegetação original, isto é, nenhuma foi totalmente desmatada. Essa equipe de cientistas que trabalhou durante cinco anos nestas reservas de matas, realizou um importantíssimo trabalho respeito dos organismos que pertencem a esses ecossistemas, registrando alta diversidade biológica e a presença de espécies ainda não descritas, que poderiam ser extintas mesmo sem terem sido conhecidas”, fala.
Proença diz que o ecossistema na região pode sofrer alterações por conta desses estudos. “Todos os estudos têm a tendência de se ampliarem, pois novos especialistas , normalmente, retomam temas que poderão receber uma nova atenção. É necessário, no entanto, que haja financiamento, pois a pesquisa é muito cara. Devemos esperar continuidade de tais estudos para um melhor conhecimento de nossos ecossistemas, quase já totalmente destruídos”, analisou.
Desmatamento
Atualmente, o percentual de vegetação nativa na região é de 9%, o que significa ter uma das regiões mais desmatadas do Estado. “Nossa vegetação natural é caracterizada como floresta estacional semidecidual e também por savana. Atualmente, restringe-se a cerca de 9% de sua área original, tendo sido substituída por pastagens, culturas diversas ou áreas urbanas. Tal impacto coloca a região como a mais desmatada e fragmentada do estado e com a menor concentração de unidades de conservação”.
Os proprietários das terras onde foram realizadas as pesquisas também devem ser mencionados. “Isso porque conservaram as matas onde foram encontradas as espécies”, finaliza.
Fonte: O Regional