Imagine poder interagir com um livro sobre os animais que vivem perto da casa da gente? Essa é a proposta da obra “Tem uma cidade no meu mato”, onde as crianças podem conferir histórias sobre algumas espécies. Além de recursos digitais e sonoros, o livro contém mini-jogos para interagir e movimentar a história. Qualquer pessoa pode conferir o livro na íntegra e de graça acessando o site: amazoniaurbana.com.br
As biólogas Giulliana Appel, Lídia Martins e Tainara Sobroza, doutoras em Ecologia pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, sediado em Manaus (AM), criaram o projeto ‘Amazônia Urbana’ após as três terem recebido financiamentos para pesquisas pelo conceituado grupo norte-americano National Geographic.
“Nós víamos a necessidade de mostrar às pessoas a importância da fauna urbana e, também, os problemas mais recorrentes que esses animais enfrentam como o desmatamento, ataques por animais domésticos e atropelamentos”, relata a pesquisadora Tainara Sobroza.
Segunda ela, no início o grupo ficou em dúvida sobre fazer um jogo educativo ou um material didático e, também, tinham incertezas em como chegar ao público em um período de pandemia. Após conversarem com o colega e designer Pedro Figueira, decidiram produzir o livro ‘Tem uma cidade no meu mato!’
“A Giulliana surgiu com a proposta de fazermos um projeto educativo com um eixo temático que conectasse nossas pesquisas: a urbanização. A princípio, pensávamos em fazer eventos presenciais e interagir pessoalmente com pessoas de Manaus e região, mas por conta da pandemia reformulamos para o formato digital e percebemos que o livro tem o potencial de atingir bem mais crianças e, também, ter uma abrangência espacial maior indo além de Manaus, coisa que talvez nós não conseguíssemos”, conta.
Sobroza diz que o objetivo da obra é facilitar a conexão da comunidade não-acadêmica com as florestas, incentivando ações para a proteção das áreas verdes e sua biodiversidade em área urbana. “Nossa primeira ação foi gerar esse meio interativo de educação com o foco no público infantil, mas de certa forma, esperamos também sensibilizar os adultos que estejam junto às crianças utilizando o livro”.
Para a cientista, a seleção dos personagens da obra foi bastante natural, pois elas escolheram os grupos de animais nos quais trabalham em suas pesquisas individuais.
“Como a Giulliana trabalha com morcegos e fragmentação florestal, a Lídia com lagartos e mudanças climáticas e eu lido como o impacto do barulho no comportamento de uma espécie de primata, resolvemos ‘dar vida’ à Naldo (morcego insetívoro – Molossus molossus, Silvia (sauim-de-coleira – Saguinus bicolor) e Tosa (iguana – Iguana iguana), entre outros animais. Claro, há mais espécies na região de Manaus e seria interessante abordá-las também, mas isso pode ficar para um futuro próximo. Por enquanto Nado, Silvia e Tosa devem apresentar ao público infantil alguns dos problemas mais comuns para a fauna em florestas urbanas”, deseja Sobroza.
As espécies
Sauim-de-Coleira (Saguinus bicolor)
O sauim-de-coleira é um pequeno primata Amazônico com distribuição geográfica restrita. Devido ao crescimento urbano vem sofrendo com a perda de habitat e é considerado ameaçado de extinção. Vive em grupos pequenos onde há uma única fêmea que se reproduz e coordena as atividades do grupo. As interações entre membros de um mesmo grupo geralmente são pacíficas, portanto, realizam muitas vocalizações para coordenar suas atividades e defender seus territórios.
Morcego-de-cauda-grossa (Molossus molossus)
É um morcego insetívoro que ocorre no Brasil todo. Costuma comer insetos que estão voando, como carapanãs (mosquitos), mariposas, besouros, libélulas e grilos. Eles se adaptam bem à cidade, vivendo em forros de casas e beiradas de prédios. No entanto, com o medo que as pessoas têm sobre a possibilidade de transmissão de doenças, os morcegos sofrem perseguições, além de ataques de animais domésticos. Apresentam grande importância no controle de insetos, podendo comer os mosquitos que transmitem Malária e Zika e os insetos que são “pragas” agrícolas.
Iguana (Iguana iguana)
É um lagarto de grande porte, podendo ultrapassar até 1,5m de comprimento, considerando a longa cauda. No norte do Brasil são chamados popularmente de camaleão, mesmo não sendo pertencentes à família Chamaeleonidae (camaleões que ocorrem na Ásia, África e Europa). São lagartos arborícolas, que se alimentam e se reproduzem no período diurno. Quando estão em período reprodutivo, podem depositar até 71 ovos em uma mesma ninhada durante a estação seca. Durante a fuga de predadores pode correr rapidamente só com as patas traseiras e é um excelente nadador. São majoritariamente herbívoras, mas também podem se alimentar de insetos e ovos de pássaros.
Fonte: G1