EnglishEspañolPortuguês

POLUIÇÃO

Limpeza dos oceanos - Ameaça microscópica

Apenas invenções tecnológicas e limpeza não solucionam o lixo oceânico – 80% formado por plásticos que se decompõem em micropartículas capazes de provocar desequilíbrios ecossistêmicos e danos à saúde humana e animal

14 de fevereiro de 2024
Aline Scherer
18 min. de leitura
A-
A+
Foto: Getty Images

Quando se fala em poluição no mar, a primeira imagem que vem à sua cabeça é de uma praia cheia de garrafas PET carregadas pela maré? Ou de tartarugas sufocadas por redes de pesca? Então saiba que você está desatualizado. A grande ameaça são partículas microscópicas de plástico. Encontradas até em fitoplânctons, elas bloqueiam a luz solar e impedem que as microalgas, base da cadeia alimentar marítima, façam fotossíntese e liberem oxigênio. A poluição plástica – que representa 80% dos resíduos sólidos em água salgada –, vem diminuindo a capacidade dos oceanos de absorver dióxido de carbono e de regular a temperatura do planeta. De acordo com uma pesquisa publicada em março por uma equipe de cientistas liderada pelo 5 Gyres Institute, que capitaneia um movimento global contra a poluição dos mares, existem mais de 170 trilhões de partículas de plástico flutuando nos oceanos do mundo.

O plástico, um dos materiais mais versáteis e úteis da idade contemporânea, começou a ser produzido em larga escala e variedade a partir do petróleo, há cerca de 90 anos. Sua fabricação depende da polimerização, um processo químico que une pequenas pecinhas formando uma longa corrente. Depois de descartado, ele se decompõe em microplásticos e estes, em nanoplásticos.

A lavagem de tecidos sintéticos, como poliéster e poliamida, e a abrasão de pneus, que contém polímeros, liberam no ambiente nanoplásticos, assim como as microesferas adicionadas a cosméticos – cuja fabricação foi proibida em 2017 na América do Norte, no Reino Unido e na União Europeia. O próprio processo de produção do plástico gera pó e microfragmentos. Em seis das mais profundas fendas oceânicas, cientistas encontraram fibras plásticas em 100% das amostras coletadas. O material é onipresente não só em produtos industriais, mas no ar, no solo, na água da chuva e, por consequência, nos animais aquáticos e em nossos corpos.

Um grupo de pesquisadores da Universidade de Newcastle, na Austrália, revisou 52 estudos e concluiu que cada pessoa ingere cerca de 5g de plástico por semana, o equivalente a um cartão de crédito – ou seja, 52 por ano. De acordo com artigos científicos publicados em períódicos médicos, a absorção de plástico – seja pela respiração, alimentação ou em contato com a pele – pode causar leucemia e outros tipos de câncer, doenças cardiovasculares, respiratórias e inflamatórias, e distúrbios neurocomportamentais. O material é um desregulador endócrino, potencial causador de problemas reprodutivos masculinos, como baixa contagem e mutações de espermatozoides. Nas mulheres, pode antecipar a puberdade.

Seguindo a tendência atual da queda de fertilidade, a contagem de esperma em homens ocidentais poderá chegar a zero em duas décadas, de acordo com a pesquisadora Shanna Swan, autora do livro Contagem Regressiva (2023). “Vinte anos é exatamente o tempo que nossos filhos podem querer se tornar pais, então para mim isso não é apenas um artigo científico”, diz o economista e cientista político belga Frederic Laloux, ex-sócio da consultoria McKinsey, no primeiro de três episódios da série The Week, de ativismo comunitário. “Quando olho para nossos filhos e não sei o que está acontecendo com seus corpos, isso me parece muito pessoal e perturbador”, completa o autor do livro Reinventando as Organizações.

    Você viu?

    Ir para o topo