Calor e seca extremos, inundações e disseminação de doenças são alguns dos impactos cada vez mais evidentes do aquecimento global. Pesquisadores da University of East Anglia, no Reino Unido, quantificaram de que forma medidas para conter esses fenômenos podem proteger o planeta e os seres humanos. Por meio de sofisticadas simulações de computador, eles concluíram que limitar o aquecimento global a 1,5°C, conforme previsto no Acordo de Paris, reduziria os riscos para os seres humanos em até 85%.
A equipe usou como comparativo aumentos de temperaturas de 2°C e 3,66°C. Considerando o primeiro cenário, 1,5ºC e 2ºC, globalmente, os riscos são reduzidos entre 10% e 44%. Em um cenário de 1,5ºC e 3,6ºC, entre 32% e 85%. Os intervalos da variação de risco são amplos porque a porcentagem depende de qual indicador está sendo considerado.
Foram cinco fatores avaliados: mudanças na exposição à escassez de água e estresse por calor, doenças transmitidas por vetores, inundações costeiras e fluviais e os impactos projetados na agricultura e na economia. Segundo os autores, em termos percentuais, o risco evitado é maior para inundações de rios, seca e estresse térmico. Em termos absolutos, para a seca. Detalhes do trabalho foram divulgados na última edição da revista Climatic Change.
Os autores também traçaram os possíveis impactos das principais ameaças. No caso de inundações costeiras, o aquecimento global de 1,5°C colocaria de 41 a 88 milhões de pessoas por ano em risco, associado a um aumento do nível do mar de 0,24 a 0,56 metro. O número subiria para 41 a 95 milhões de ameaçados no caso do aumento da temperatura em 2ºC, o que resultaria no aumento do mar entre 0,27 e 0,64 metro.
No caso da seca, as projeções indicam um cenário de “centenas de milhões de pessoas adicionalmente afetadas (…) em cada nível de aquecimento sucessivamente mais alto”. Em se tratando de doenças transmitidas de animais para humanos, as zoonoses, de forma geral, a exposição da população global à malária e à dengue será 10% menor se o aquecimento for limitado a 1,5°C em vez de 2°C, indica também o estudo.
Principal autora do artigo, Rachel Warren afirma, em comunicado, que as descobertas são importantes porque a meta do Acordo de Paris é limitar o aquecimento global a “bem abaixo” de 2°C. “Isso significa que os tomadores de decisão precisam entender os benefícios de apontar para o valor mais baixo”, enfatiza.
A cientista também lembra que, na COP26, no ano passado, em Glasgow, os compromissos assumidos pelos países em termos de redução de emissões de gases de efeito estufa não foram suficientes para atingir as metas de Paris. “Atualmente, as políticas atuais resultariam em um aquecimento médio de 2,7°C, enquanto as Contribuições Nacionalmente Determinadas (metas estabelecidas por cada país para conter as mudanças climáticas) para 2030 limitariam o aquecimento a 2,1°C”, afirma.
Segundo Warren, há uma série de ações adicionais planejadas para reduzir as emissões, com potencial, no caso mais otimista, para limitar o aquecimento a 1,8°, o que resultaria em impactos até maiores do que os previstos no melhor cenário traçado pelo grupo.
Análises locais
A equipe britânica também identificou áreas consideradas mais vulneráveis para o risco de mudanças climáticas. África Ocidental, Índia e América do Norte são as regiões em que os riscos causados pelo aquecimento global devem aumentar mais com 1,5°C ou 2°C até 2100.
Por sua vez, a exposição da população à escassez de água deverá ser mais evidente no oeste da Índia e na região norte da África Ocidental. A América do Sul é indicada como uma região em que há a possibilidade de aumento no número de pessoas expostas a condições de seca, assim como a Europa e a Ásia Oriental.
Os efeitos sobre os rendimentos agrícolas e a economia também fizeram parte da análise. Segundo a equipe britânica, os impactos econômicos globais das mudanças climáticas são 20% menores quando o aquecimento é limitado a 1,5°C em vez de 2°C. O valor líquido dos danos é correspondentemente reduzido de US$ 61 trilhões para US$ 39 trilhões.
Fonte: Correio Braziliense