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Levar cachorro para passear de moto é considerado maus-tratos

6 de julho de 2014
4 min. de leitura
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Cachorro na garupa sofre riscos, mesmo usando óculos e/ou capacetes específicos (Foto: Mladen Antonov/AFP)
Cachorro na garupa sofre riscos, mesmo usando óculos e/ou capacetes específicos
(Foto: Mladen Antonov/AFP)

Avistei uma Vespa que chamava a atenção na avenida 23 de maio, em São Paulo (SP), acuada entre muitos automóveis. Com uma bandeira chilena estampada na lateral, tinha um sidecar (carrinho lateral) com um cachorro acomodado em seu interior.

O “garupa” atraía olhares enquanto a moto se arrastava no congestionamento. Se uma Vespa com sidecar já é atração, o cachorro completou o quadro quase circense ao desfilar em um país que adora cães. Mas o animal estava exposto ao tempo seco, temperatura alta, buzinas incessantes e ao monóxido de carbono expelido pelos carros.

Segundo estimativas, existem mais de trinta milhões de caninos no Brasil. O que nos dá o honroso título de vice-campeão da cachorrada, perdendo apenas para os Estados Unidos, de acordo com a ONU. Mas Tamanha paixão pelos peludos leva os donos a tomarem atitudes quase irracionais, como a do dono da Vespa, que fez questão de levar seu fiel amigo para passear.

BICHO É BICHO, GENTE É GENTE

Conversei com alguns especialistas sobre o assunto, entre eles o veterinário Edgard Cardoso, de Indaial (SC). Para ele, os cães fazem parte da família e acompanham seus tutores em grande parte das atividades. Porém, a segurança no transporte nem sempre é levada em conta — quem faz questão de ter a companhia de seu animal tem obrigação de usar uma caixa especifica para essa finalidade.

O cachorro deve ter ventilação e espaço para ficar em pé e/ou mudar de posição. Em uma moto isso é quase impossível, e o que vemos são adaptações. Infelizmente, os quadrúpedes viajam em mochilas, caixas apertadas ou mesmo sobre o tanque.

Recentemente houve um acidente, em Goiás, em que uma mulher embriagada bateu com a moto na traseira de uma picape. Acompanhada por um cachorro, ela teve a audácia de dizer que o animal foi o verdadeiro culpado, pois era ele quem pilotava. Achou graça? Saiba que a única vitima fatal do acidente foi o pobre cachorro.

PODE ISSO?

As adaptações também se proliferam na tentativa de garantir a segurança do animal. Óculos e capacetes são vendidos em sites e butiques caninas. Segundo Cardoso, os óculos podem até evitar o ressecamento dos olhos, causado pelo vento, mas os capacetes são pura fantasia, já que em caso de queda ou acidente o animal tende a girar no ar e bater a coluna no chão.

Segundo Tatiana Pelucio, veterinária do Conselho Regional de Medicina Veterinária de São Paulo, a humanização dos animais é uma “tendência perigosa” da sociedade atual. Prova disso são as pessoas carregando cachorro no carrinho ou mesmo no colo como se fosse um bebê. A especialista afirmou que esse comportamento pode gerar problemas para o cão, que passa a ter crise de personalidade.

Unha pintada, cílio postiço, fantasia: tudo é maus-tratos (Foto: Reprodução)
Unha pintada, cílio postiço, fantasia: tudo é maus-tratos (Foto: Reprodução)

“Ele vive como se fosse um humano, mas não é”, sentenciou.

Talvez essa tendência à humanização dos cães seja a razão para que motociclistas insistam em levar o cachorro para passear, sem se importar com os riscos e o sofrimento do animal. Para Tatiana, submetê-los a riscos e estresse pode ser considerado maus-tratos.

Aliás, ela explica que maus-tratos não se restringem a bater ou deixá-lo preso — entende-se por maus-tratos qualquer comportamento fora da natureza do animal ou quando ele é usado como instrumento de diversão. Nesta categoria estão exageros como pintar unhas, implantar cílios, furar orelha e outras “excentricidades”.

Gostem ou não, humanos, a natureza deve ser respeitada. Não existe justificativa para passear com o cão em moto. Em caso de queda, haverá graves consequências. Algumas pessoas justificam que o cachorro “adora passear na moto”. Segundo Edgard Cardoso, o animal quer mesmo é ficar perto do seu tutor, e faz qualquer sacrifício para isso. Mas a responsabilidade de protegê-lo é do tutor.

Fonte: Uol

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