Obra no Porto de Rio Grande, não espantou os mamíferos de seu refúgio em São José do Norte
Esparramado sobre um tetrápode, um peso pesado descansa com seus colegas ao sol da costa gaúcha. Boceja enquanto homens usam guindastes e caminhões para lançar na água toneladas de pedras. A ampliação dos molhes da Barra, no canal do Porto de Rio Grande, não afugentou os leões-marinhos do sul do Estado. Eles seguem a repousar em grupos de até 60 indivíduos.
Outubro e novembro são os meses de maior ocorrência destes gigantes de até 2m80 e 350 quilos no litoral gaúcho, único ponto visitado no país. Em média, entre março e dezembro, 400 animais migram da colônias reprodutivas em ilhas uruguaias atrás de comida e repouso.
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Construídos há quase um século, os molhes são duas paredes que formam o canal portuário. No braço leste, em São José do Norte, os leões-marinhos encontram um ambiente convidativo. Assim como a Ilha dos Lobos, em Torres, o local é um Refúgio da Vida Silvestre, unidade de conservação.
A ampliação das estruturas, que permitirá o aumento do fluxo de mercadorias no cais gaúcho, alertou ambientalistas, preocupados com o impacto da obra, prestes a ser concluída ao custo de R$ 515 milhões, oriundos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Para dar mais 370 metros aos 4,2km do molhe leste, e 700 metros aos 3,1km do oeste, em Rio Grande, foram usados mais de 1,3 milhão de metros cúbicos de pedras e cerca de 13 mil tetrápodes.
“De cara indagamos se os animais abandonariam a área, se diminuiria a ocupação, se aumentaria a mortandade. Passados dois anos, verificamos que a relação foi positiva”, garante o oceanólogo Kleber Grübel da Silva, do Núcleo de Educação e Monitoramento Ambiental (Nema).
Através do projeto Mamíferos do Litoral Sul, desde 1988 o Nema monitora a presença dos leões na costa gaúcha. Em 2008, o núcleo foi contratado pelo Consórcio CBPO, Pedrasul, Carioca e Ivaí, responsável pela obra, para amenizar os reflexos da ampliação na rotina dos animais. Realizou palestras com os operários e criou um guia de conduta.
Segundo o manual, o embarque e desembarque de pessoas ocorre a 50 metros da área em que os mamíferos habitam, mesma distância respeitada para presença de maquinário. As luzes usadas no trabalho noturno são direcionadas para longe dos leões-marinhos. No caso de um exemplar aparecer em pontos com homens atuando, o Nema é chamado para fazer o remanejo.
“As medidas mostraram-se eficazes. A presença dos leões segue crescendo e a mortandade ficou controlada dentro dos 100 animais ao ano. A pesca é a maior preocupação”, aponta Kleber Grübel.
Taxa de ocupação no molhe leste
Anos 80 – de 8 a 10 animais
Anos 90 – de 10 a 20 animais
Anos 2000 – de 40 a 60 animais
Fonte: Núcleo de Educação e Monitoramento Ambiental (Nema)
Ficha técnica
Leão-marinho-do-sul
Nome científico: Otaria flavescens
Tamanho: até 2m80
Peso: até 350 quilos
Expectativa de vida: de 16 a 20 anos
Ocorrência no RS: na Ilha dos Lobos (Torres) e no molhe leste (São José do Norte)
Fonte: Zero Hora