Doença em felino não é muito comum, mas exame laboratorial feito em Bauru confirmou a presença do parasita
A diretoria de Saúde de Lençóis Paulista (43 quilômetros de Bauru, SP) confirmou notificação do primeiro caso de leishmaniose em felinos na cidade. A doença foi diagnosticada por meio de exame de sangue feito por laboratório de Bauru, a pedido de uma clínica veterinária particular. Como tinha outros problemas de saúde, o gato acabou sendo morto.
De acordo com o veterinário do Centro de Controle de Zoonoses do município, Fábio Marcel Valezi Luiz Ferreira, apesar de incomum e dos poucos relatos na literatura médica, a contaminação de gatos com o protozoário Leishmania, causador da leishmaniose, pode ocorrer.
“Teoricamente, é uma novidade. O gato pode pegar, mas não é o principal reservatório da doença”, explica. Entre os principais hospedeiros estão animais silvestres como roedores, raposas e preás, além dos cães.
O veterinário destaca que, quando foi levado à clínica, o gato não apresentava sintomas característicos da doença. “Eu não sei quais as circunstâncias em que ele deu entrada na clínica, mas provavelmente por outro problema. Teoricamente, ele não deu entrada com uma suspeita clínica de leishmaniose visceral americana. Ele não tinha sintomas da doença”.
A partir da realização do exame de sangue, que detectou uma quantidade alta de proteína, Ferreira conta que a veterinária do laboratório passou a desconfiar de um problema parasitário. Em análise mais específica, foi constatada a presença da Leishmania no sangue do animal, embora ela possa não ter sido a responsável por sua morte.
O veterinário revela que os gatos podem servir de hospedeiros para que a doença chegue até uma pessoa. “O gato, como reservatório, pode transmitir (a Leishmania) para uma pessoa. Não há nada que fale que não exista a possibilidade”, afirma.
Segundo ele, hoje, nos Estados Unidos, os felinos são os principais transmissores do vírus da raiva, doença antes associada à mordida de cães.
O médico infectologista do Hospital das Clínicas (HC) da Unesp de Botucatu, Alexandre Naime Barbosa, confirma que os gatos podem ser hospedeiros da Leishmania e ressalta que a proximidade dos animais com os humanos favorece, em tese, a transmissão da doença. Segundo ele, o primeiro caso de leishmaniose felina foi descrito em 1912.
Desde então, há cerca de 45 relatos na literatura mundial, espalhados por países como Estados Unidos, França, Espanha, Itália, Portugal, Suíça e Brasil. “Mas pouco se sabe sobre a real importância do gato no ciclo da doença”, conta. “Portanto, os felinos não são considerados um reservatório clássico da leishmaniose, e, esses animais parecem ter algum grau de resistência natural à infecção, determinada provavelmente por fatores genéticos”.
Citando estudo recente publicado por pesquisadores que analisaram felinos de Araçatuba, área endêmica para leishmaniose visceral, o médico aponta que 4% dos gatos apresentaram a infecção e 10,5% chances altas de abrigar o parasita, levando a uma prevalência geral de 14,5%.
Barbosa não acredita que esteja havendo uma mudança na forma de contágio da doença. “A interpretação mais provável é que casos em felinos sempre existiram, talvez mais raramente, e devido à dificuldade de diagnóstico de leishmaniose em felinos (e também em cães), essa situação passou despercebida”, avalia.
Combate ao foco
O veterinário Fábio Marcel Valezi Luiz Ferreira conta que a prefeitura de Lençóis desenvolve trabalho de combate à leishmaniose em duas frentes: por meio de busca realizada por agentes comunitários a cães que possam estar contaminados pelo protozoário leishmania e através da descoberta de focos do mosquito-palha, seu principal vetor, em diferentes regiões da cidade.
Em 2010, por meio da primeira frente, chamada de casos de rotina, foram diagnosticados 16 casos da doença. Por meio da segunda frente, chamada de inquérito canino, de 862 amostas de sangue coletadas em determinada região, 645 retornaram com resultado do exame do Instituto Adolfo Lutz, com 18 confirmações da doença em 2010. “Nós distribuímos armadilhas em pontos estratégicos para ver se a gente consegue capturar o flebótomo (mosquito transmissor)”, conta.
Em seguida, os mosquitos são enviados à Superintendência de Controle de Endemias (Sucen) de Marília para confirmação da espécie. “Eu defino a área onde tenho a presença do mosquito vetor e a gente faz a coleta de todos os cães dessa área”, revela.
No ano passado, Lençóis Paulista registrou apenas dois casos de leishmaniose em humanos, sendo um importado. “A gente nunca teve óbito aqui em Lençóis por leishmaniose visceral”, declara. Com população canina que varia entre 7 e 7,5 mil animais, o veterinário espera coletar amostras de sangue em cerca de 2,5 a 3 mil.
Fonte: JCNET
Nota da Redação: Os cães, gatos e outros animais são também vítimas e devem ser tratado como tal e não como réus. Assassiná-los nunca resolveu, nem resolverá o problema da Leishmaniose no Brasil, que é uma doença que tem cura. Em São Paulo, temos exemplos de animais que foram tratados e curados. As políticas adotados pelas autoridades sanitárias são de matança apenas. Enquanto isso, a doença avança pelo país. Como se não bastasse a pena capital dada aos cães, agora é a vez dos gatos.