A exposição “E agora você se importa?”, do artista chileno Marco Evaristti, foi interrompida após causar revolta ao incluir três leitões vivos enjaulados em carrinhos de compras, sem acesso a comida, como parte de uma crítica ao tratamento de animais na Dinamarca, um dos maiores exportadores de carne suína do mundo. A mostra, inaugurada em 28 de fevereiro em um antigo armazém de açougue em Copenhague, foi encerrada neste final de semana após o rapto dos animais, supostamente por ativistas, e uma onda de críticas que questionaram a ética e a coerência da obra.
A instalação consistia em três leitões confinados sobre uma pilha de palha, com acesso apenas a água, enquanto pinturas em grande escala da bandeira dinamarquesa e de porcos mortos completavam a cenografia. Evaristti, conhecido por obras eticamente questionáveis, como a instalação com peixes dourados em liquidificadores (2000), afirmou que o objetivo era “acordar a sociedade dinamarquesa” para os maus-tratos aos animais, citando estatísticas de que dezenas de milhares de porcos morrem diariamente no país devido às más condições.
No entanto, a metodologia adotada pelo artista foi amplamente criticada, inclusive por grupos em defesa dos direitos animais. Mathias Madsen, da Anima International Denmark, denunciou Evaristti à polícia, alegando que a exposição violava a Lei de Bem-Estar Animal dinamarquesa. “Queríamos que as autoridades estivessem preparadas para intervir”, disse Madsen, destacando que a reação pública ao sofrimento dos leitões foi intensa.
O rapto dos animais ocorreu no sábado, 1° de Março, enquanto o espaço era limpado. Segundo Evaristti, membros de uma organização em defesa dos direitos animais visitaram a exposição e, minutos após sua saída, os leitões desapareceram. Não há provas ou comprovações. A polícia foi acionada, mas ninguém foi preso.
A Dinamarca, que abriga cerca de 5 mil fazendas de porcos, produz aproximadamente 28 milhões de porcos por ano, com mais de 70% da carne exportada para a União Europeia. Damm destacou que cerca de 25 mil leitões morrem diariamente no país, muitos de fome, devido à superlotação e à falta de tetas suficientes nas porcas.
Evaristti, conhecido por obras polêmicas como a instalação com peixes dourados em liquidificadores (2000), defendeu sua abordagem, afirmando que a arte deve provocar. “Eu tenho uma voz como artista para falar sobre o problema”, disse. No entanto, a incoerência de sua postura — ao criticar o sofrimento animal enquanto o infligia — deixou o público dividido.
Enquanto o destino dos leitões roubados permanece desconhecido, a exposição de Evaristti deixa uma pergunta no ar: até que ponto a arte pode ir para chamar a atenção para uma causa, sem se tornar parte do problema que denuncia?