EnglishEspañolPortuguês

Leishmaniose está em expansão em MG, afirmam especialistas

16 de junho de 2011
5 min. de leitura
A-
A+

Em dez anos, aumentou o índice de transmissão da leishmaniose visceral nos municípios mineiros: em 2000, 46 cidades apresentaram casos e em 2010, quase 200, sendo que as cidades da Região Metropolitana de Belo Horizonte, além de Unaí, Paracatu e Montes Claros são as que têm mais ocorrências de leishmaniose visceral. A notificação dos casos aos órgãos de controle de saúde é obrigatória. Por outro lado, as mortes humanas causadas pela doença em Minas Gerais diminuíram. Em 2010, a taxa foi de 10%, enquanto em 2009 o número chegou a 13%.

Os dados foram apresentados pelo superintendente de Epidemiologia da Secretaria de Estado de Saúde (SES), Francisco Leopoldo Lemos, durante audiência pública da Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, na manhã desta quarta-feira (8/6/11). A reunião foi solicitada pelo deputado Fred Costa (PHS), para discutir a prevenção e o controle da leishmaniose em Minas Gerais.

De acordo com a SES, em Minas Gerais, entre 2009 e 2010 foram registrados 1.232 casos e 132 mortes; em 2008, o índice foi de 1.450 casos e 33 mortos. Segundo Francisco Lemos, a Secretaria de Saúde trabalha no mapeamento de áreas de transmissão, delimitadas em alto, moderado e baixo risco, para aplicar inseticidas e melhorar o diagnóstico. Além disso, ainda inutilmente há o sacrifício de animais contaminados.

A leishmaniose é uma doença crônica, que se manifesta na pele ou nas vísceras, causada por protozoários flagelados do gênero Leishmania, da família dos Trypanosomatidae. O calazar (leishmaniose visceral) e a úlcera de Bauru (leishmaniose tegumentar americana) são as principais formas da doença.

A forma visceral, mais comum no Brasil, é uma doença parasitária transmitida aos hospedeiros por pequenos insetos de cor amarelada, semelhantes às moscas e mosquitos, chamados flebotomíneos. Ela atinge órgãos internos, principalmente fígado, baço, gânglios linfáticos e a medula óssea, e pode levar à morte quando não tratada. Nos humanos, a doença causa febre, emagrecimento, anemia, aumento do fígado e do baço e imunodeficiência. Nos cães, os principais hospedeiros do parasita, os sintomas são anemia, feridas na pele e crescimento exagerado das unhas.

Ações municipais

O secretário-adjunto de Saúde de Belo Horizonte, Fabiano Pimenta, afirmou que 60% das pessoas que morrem por leishmaniose visceral têm outras doenças como complicadores, como o HIV e a tuberculose. Ele salientou a castração gratuita, as campanhas para guarda responsável e as feiras de adoção como ações da Prefeitura municipal para aumentar a proteção de cães. Atualmente, há cerca de 28 mil animais vivendo nas ruas da Capital.

Além disso, cerca de 360 profissionais estão envolvidos em aplicações de inseticidas e sacrifício de animais contaminados, conforme diretrizes do Ministério da Saúde, o que é considerado inútil conforme declarações de especialistas (veja abaixo). Para o secretário-adjunto, os agentes de saúde também devem ser capacitados para identificar e tratar os sintomas no início da doença e a população, conscientizada sobre os cuidados com os animais e o descarte correto de resíduos, já que o inseto transmissor se desenvolve em matéria orgânica.

Sacrifício pode ser evitado

Veterinários e defensores dos animais criticaram as políticas públicas desenvolvidas no Brasil e em Minas para cuidar da leishmaniose. O presidente do Conselho Regional de Veterinária de Minas Gerais, Nivaldo da Silva, afirmou que o assunto não despertava muita atenção do poder público e da mídia porque “antes era uma doença de cães pobres, mas agora se tornou uma doença de cão rico”. Ele considerou que não há campanhas educativas governamentais para conscientizar a população e também há muitas dúvidas sobre o motivo da expansão em todo o Brasil. “A metodologia de tratamento deve ser mudada”, ressaltou.

A Ordem dos Advogados do Brasil, por meio do núcleo de Meio Ambiente, se manifestou contra os sacrifícios de animais. O representante, Sérgio Cruz, ponderou que o cão “não deve ser visto como uma praga urbana, mas como bioindicador de que algo está errado” e que o extermínio pode ser uma medida barata, mas não é a única para lidar com a leishmaniose.

O professor do curso de Medicina Veterinária da PUC Betim, Vítor Ribeiro, defendeu o uso de vacinas para diminuir o sacrifício de cães e criticou a capacitação de agentes de saúde. Segundo ele, muitos deles afirmam que o produto não funciona. “Isso é um desrespeito ao Ministério da Agricultura, que aprovou a vacina. Por que eles dizem que ela não é boa?”, questionou. O professor afirmou que duas vacinas já foram desenvolvidas no Brasil, mas não há divulgação ou ela é colocada em descrédito.

Segundo Vítor, que também é integrante da Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais (Anclivepa), muitos países não matam os animais contaminados e a Europa, por exemplo, divulgou, em 2010, uma vacina eficaz para controlar a doença. Além do produto, os colares inseticidas poderiam ser usados para prevenir a transmissão.

Comparação com dengue

O deputado Fred Costa (PHS) reconheceu o esforço do poder público para melhorar o quadro, mas pediu para que sejam desenvolvidas outras ações. Ele citou que a mídia, por exemplo, não dá o mesmo destaque à doença, ao contrário do que ocorre com a dengue, já que há muitas mortes de pessoas e cães. Conforme o superintendente da Secretaria de Estado da Saúde, Francisco Lemos, nos últimos oito anos, 198 morreram em decorrência de dengue e mais de 400 por leishmaniose visceral. O deputado Doutor Wilson Batista (PSL) ponderou que, embora o número de mortes causadas por dengue seja menor nessa comparação, há mais casos da doença causada pelo mosquito Aedes aegypti no Estado.

A comissão vai votar pedido de informações ao Ministério da Saúde, especialmente em relação ao desenvolvimento de vacinas no País. O requerimento é dos deputados Carlos Mosconi (PSDB), Doutor Wilson Batista e Fred Costa.

Presenças – Deputados Carlos Mosconi (PSDB), presidente; Doutor Wilson Batista (PSL); Neider Moreira (PPS); e Fred Costa (PHS). Também participaram o superintendente da ONG Núcleo Fauna de Defesa Animal, Franklin Oliveira, a promotora de Justiça de Defesa de Saúde de Barbacena, Giovanna Araújo Attanásio, e o representante da OAB, Ricardo Assis Alves Dutra.

Fonte: Almg

Você viu?

Ir para o topo