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CRIME

Leão monitorado pela Universidade de Oxford é morto por caçadores no Zimbábue

Blondie, um macho dominante com dez filhotes, usava uma coleira GPS que ajudava a rastreá-lo, mas monitoramento não impediu ação dos caçadores.

3 de agosto de 2025
8 min. de leitura
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A imagem compartilhada nas redes sociais do corpo de Blondie e dos caçadores — Foto: Reprodução/redes sociais

Um leão estudado por especialistas da Universidade de Oxford, do Reino Unido, foi morto a tiros por caçadores ilegais perto do Parque Nacional de Hwange, a maior reserva natural do Zimbábue, na África. Uma fotografia dele abatido, e com os atiradores ajoelhados atrás, circula nas redes sociais.

Blondie usava uma coleira GPS que ajudava a rastreá-lo. A empresa de safáris Africa Geographic, patrocinadora do dispositivo, informou que os caçadores o atraíram para longe da reserva, onde a caça é proibida, usando pedaços de carne como isca. O caso ocorreu no final de junho, mas foi divulgado apenas nesta semana.

A companhia relatou que, na época da morte, o leão tinha 5 anos e 3 meses de idade e era o macho dominante de uma alcateia, que incluía seus 10 filhotes, sete com cerca de um ano e três com aproximadamente um mês e três fêmeas adultas.

Importante destacar que os regulamentos de caça do Zimbábue exigem uma idade mínima de 6 anos para leões caçados como troféus, com foco em machos adultos que não fazem parte de uma alcateia.

“Estamos consternados e irritados com esse acontecimento”, disse Simon Espley, diretor executivo da Africa Geographic, em comunicado. “O fato de a coleira proeminente não ter impedido que ele fosse oferecido a um cliente de caça confirma a dura realidade de que nenhum leão está a salvo das armas de caça de troféus.”

Espley, acrescentou: “Ele era um macho reprodutor no auge da sua vida, o que zomba da ética que a ZPGA (Associação de Guias Profissionais do Zimbábue) regularmente defende e das repetidas alegações de que os caçadores de troféus só têm como alvo machos velhos e não reprodutores”.

Envolvimento de caçador profissional

Um caçador profissional parece estar envolvido na morte de Blondie e, ao que tudo indica, ele sabia que o leão usava a coleira e que tinha filhotes dependentes. Segundo a Africa Geographic, quando contatado pelo procurador-geral local para contar sua versão da história, o homem se recusou a comentar, afirmando apenas que a caçada foi “conduzida de forma legal e ética”.

O Zimbábue permite o abate de até 100 leões por ano. Caçadores de troféus, geralmente turistas estrangeiros, pagam dezenas de milhares de dólares para matar um e levar a cabeça ou a pele como troféu.

Pelos dados da agência de parques nacionais do Zimbábue, o país ganha cerca de US$ 20 milhões por ano com a caça esportiva, com um único caçador gastando em média US$ 100.000 por caça — o que inclui acomodação, aluguel de veículos e rastreadores locais.

Tinashe Farawo, porta-voz da agência, enfatizou à Associated Press que o dinheiro da caça é crucial para apoiar os esforços de conservação subfinanciados do país. Ele ainda defendeu a atividade e explicou que isso é algo que costuma acontecer à noite, indicando que a coleira em Blondie pode não ter sido vista.

Também relatou não ter informações sobre o animal ter sido atraído para fora do parque com isca, mas garantiu que “não há nada de antiético ou ilegal nisso para quem sabe como leões são caçados. É assim que as pessoas caçam”.

“Nossos guardas florestais estavam presentes. Toda a papelada estava em ordem. As coleiras são para fins de pesquisa, mas não tornam o animal imune à caça”, complementou Farawo.

O Zimbábue abriga aproximadamente 1.500 leões selvagens, com cerca de um terço deles vivendo no Parque Nacional de Hwange. Em toda a África, a população de leões selvagens é estimada em cerca de 20.000. No entanto, como aponta a AF, seus números estão diminuindo devido à perda de habitat e aos conflitos com humanos. Isso fez a espécie ser listada como vulnerável pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).

Fonte: Um Só Planeta

Nota da Redação:

É revoltante e repugnante que, em pleno século XXI, leis ainda permitam — e, pior, lucrem — com o assassinato de animais selvagens em seus próprios habitats. A morte de Blondie é mais uma prova de como a ganância humana e a burocracia hipócrita se aliam para exterminar vidas em nome de “tradição”, “negócio” ou “conservação”.

Blondie não era apenas um animal. Era um macho reprodutor, o líder de uma alcateia com dez filhotes dependentes. Sua morte não foi um acidente, mas sim uma execução premeditada. Foi atraído com iscas para fora da reserva, como se fosse lixo descartável, e abatido sob a justificativa de uma suposta “caçada legal e ética”. Ética? Onde está a ética em atirar em um animal claramente identificado com coleira científica, sob vigilância internacional, e que claramente exercia papel crucial no ecossistema local?

O governo do Zimbábue diz que fatura cerca de US$ 20 milhões por ano com a caça de troféus. Mas a pergunta que não cala é: quanto vale uma vida selvagem? Que tipo de “conservação” se financia matando os próprios animais que se diz preservar? É a mesma lógica torta que tenta justificar desmatamento com lucro agrícola ou a pesca predatória com “tradição cultural”.

Pior ainda é ouvir autoridades alegarem que “a papelada estava em ordem”. Como se carimbar um documento legitimasse a destruição de um ser vivo em plena atividade reprodutiva, com um ecossistema inteiro dependendo dele. É o retrato da falência moral e ecológica de um sistema que se diz civilizado, mas que trata a vida como moeda de troca.

Blondie foi morto aos 5 anos e 3 meses, abaixo da idade mínima legal para caça. Ainda assim, foi oferecido como “alvo” a um caçador, provavelmente estrangeiro, que desembolsou milhares de dólares para levar um pedaço da África como enfeite de parede. O resultado? Filhotes órfãos, um ecossistema abalado e mais um capítulo na extinção silenciosa da vida selvagem no continente.

Leis como essas não são apenas falhas. São cúmplices de assassinato legalizado. E enquanto essa lógica predatória for tratada como “negócio”, os leões — e tantos outros animais — continuarão sendo mortos com recibo, carimbo e aplausos de quem deveria protegê-los.

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