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LATAM versus Especismo

28 de junho de 2016
Paula Brügger
4 min. de leitura
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Proteção Animal
Divulgação

Parabenizo a LATAM por não mais transportar nenhum tipo de animal vivo cuja finalidade seja a pesquisa/ experimentos em laboratórios, ou qualquer outro tipo de estudo supostamente científico [1].
Além de indefensável sob o ponto de vista ético – pois submete seres sencientes ao sofrimento físico, psicológico e à morte – a vivissecção falha em um critério fundamental para que seja considerada uma prática verdadeiramente científica: a predictabilidade.
Os animais não humanos não podem ser considerados como bons modelos analógicos causais. Diferenças evolutivas nos sistemas biológicos de humanos e roedores, por exemplo, desencadeiam um efeito cascata que resulta em marcadas diferenças em importantes propriedades biomédicas entre as duas espécies.
O “modelo animal” é falho porque existem diferenças, entre nós e eles, na anatomia, na fisiologia, nas interações ambientais, nos tipos de alimentos ingeridos, etc, que resultam na não-correspondência na absorção, distribuição e metabolismo de substâncias. As condições de laboratório são também mais controladas do que na vida humana e as doses administradas aos animais podem ser muito maiores do que as prescritas aos humanos, em termos de peso corporal. As vias de inoculação de diferentes substâncias (oral, anal, peritonial, vaginal, etc) exercem, ainda, uma grande influência sobre os resultados dos testes.
De acordo com um estudo da Food and Drug Administration (FDA), os efeitos adversos de medicamentos causam cerca de 100.000 mortes por ano nos EUA. Isso acontece porque a esmagadora maioria das novas drogas (em torno de 95%) não é segura ou não funciona em humanos, apesar dos testes pré-clínicos realizados em animais [2].
Não é razoável afirmar que é impossível prescindir dos modelos animais quando não há um investimento sistemático (nem em educação, nem em pesquisa) no uso de alternativas, sejam elas técnicas substitutivas ou alternativas no sentido lato (como bancos de dados clínicos, estudos epidemiológicos e outras fontes de informação).
Os defensores da experimentação animal são muitas vezes os mesmos que afirmam que não é possível abolir o consumo de animais na alimentação humana, o que é uma falácia. Uma declaração infeliz nesse sentido partiu do então coordenador do Conselho Nacional de Experimentação Animal (CONCEA), Marcelo Marcos Morales, que afirmou em rede nacional (TV Globo) que “precisamos dos animais na alimentação” [3]. Estão duplamente equivocados. E é lamentável que ignorem os resultados de estudos provenientes de instituições de pesquisa renomadas mundialmente [4].
Transcrevo, mais uma vez, um trecho de uma entrevista do Dr. Philip Low sobre a “Declaração de Cambridge sobre Consciência” que anuncia a presença de consciência em todos os mamíferos, aves e outros animais como os polvos: “O mundo gasta 20 bilhões de dólares por ano matando 100 milhões de vertebrados em pesquisas médicas. A probabilidade de um remédio advindo desses estudos ser testado em humanos (apenas teste, pode ser que nem funcione) é de 6%. É uma péssima contabilidade”, conclui Low [5].
Tudo isso faz da vivissecção uma prática abominável tanto sob o ponto de vista ético, quanto científico.
Paula Brügger
Professora Titular do Deptº de Ecologia e Zoologia/ Coordenadora do Observatório de Justiça Ecológica – OJE/UFSC [6]
Notas:
[1]: Empresa aérea LATAM proíbe transporte de animais de pesquisa no Brasil
[2]: Dados citados na revista “Good Medicine”, publicada pelo Comitê de Médicos por Uma Medicina Responsável (Physicians Committee for Responsible Medicine – PCRM) vol.XXV. n.2: p.06-07.
[3]: SVB envia carta ao CONCEA esclarecendo que não “precisamos de animais para comer”, como declarou seu coordenador
[4]: No que tange à dieta humana, veja: Position of the American Dietetic Association: Vegetarian Diets e também: Parecer Técnico CRN-3 Nº 11/2015 – VEGETARIANISMO. Quanto à vivissecção, a lista é muito mais numerosa. Veja, por exemplo, GREEK, Ray & GREEK, Jean. Specious Science: How Genetics and Evolution Reveal Why Medical Research on Animals Harms Humans. London, New York: Continuum, 2003.
[5]: “Declaração de Cambridge sobre Consciência”: The Cambridge Declaration on Consciousness e também: “Não é mais possível dizer que não sabíamos”, diz Philip Low
[6]: Texto elaborado a partir de BRÜGGER, Paula. Modelos animais. In: Amigo Animal – reflexões interdisciplinares sobre educação e meio ambiente: animais, ética, dieta, saúde, paradigmas. Florianópolis: Letras Contemporâneas, 2004: 63-120; 125-128; Por que somos contra os “modelos animais”

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