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Lago Turkana, na África, pode desaparecer depois da construção de hidrelétricas

5 de julho de 2018
4 min. de leitura
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O Lago Turkana está localizado no Grande Vale do Rift, bem na fronteira entre a Etiópia e o Quênia. É o maior lago alcalino do planeta, e um dos “Grandes Lagos” africanos. Está na lista de Patrimônios Mundiais por desempenhar papel vital como escala para um grande número de aves migratórias — incluindo grandes bandos de flamingos cor-de-rosa —, além de servir como criadouro de hipopótamos e crocodilos.

Reprodução | Express

Recebeu apenas o status icônico há apenas 20 anos, quando a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) percebeu que o deslumbrante lago, com sua preciosa vida selvagem, corre o risco de desaparecer da face do planeta por causa da construção de uma represa. As belas águas em tons de verde correm o risco de se tornarem salgadas demais e tóxicas para as 300 mil pessoas que vivem às suas margens.

Os efeitos já estão sendo sentidos: a represa etíope e o processo de irrigação das usinas de açúcar já estão tendo “efeitos disruptivos” ao reduzir o fluxo de água no lago, e há planos de construção de mais duas hidrelétricas. Agora, o perigo não é apenas a poluição, mas a possibilidade de que ele seque completamente.

O conflito sobre os recursos hídricos tem sido há muito tempo uma causa potencial de agitação civil e até mesmo guerras em grande escala, à medida que os impactos da mudança climática são sentidos nos países áridos. A futura construção da barragem ao longo do rio Omo, o maior sistema fluvial etíope fora da bacia do Nilo que deságua no lago, ameaça atingir o povo e a vida selvagem que depende de suas águas.

Reprodução | Express

“Estamos preocupados que esses projetos tenham implicações nas comunidades locais que dependem do lago para a pesca e para seu sustento. A Etiópia está planejando duas novas barragens no rio Omo, o que só piorará a situação”, advertiu Guy Debonnet, especialista em conservação da UNESCO, em entrevista a jornal local.

A organização sem fins lucrativos International Rivers, que luta pela proteção dos rios, confirma que a represa Gibe III da Etiópia e a irrigação das plantações de açúcar reduziram o fluxo para o lago, e ainda alertam para o pior que está por vir.

“A Etiópia deve cancelar os planos que tem para construir mais duas barragens, Gibe IV e Gibe V, no rio Omo – esses projetos só vão exacerbar o risco de secar o lago”, diz a diretora da sede africana, Rudo Sanyanga. De acordo com ela, o lago deve encolher lentamente, reduzindo os locais de reprodução dos peixes e também se tornando muito tóxico para pessoas e animais beberem.

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Na capital da Etiópia, Adis Abeba, nenhum impacto é sentido. Tanto é que as autoridades rejeitam as alegações, dizendo que seus estudos mostram que o fluxo do rio será regulado pelo represamento e assim estabilizará os níveis de água na região atingida pela enchente.

Mesmo com as negações por parte do governo, a influente União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) – consultora da UNESCO sobre questões de vida selvagem e guardiões da Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas – pede por mais proteção para o local.

Peter Shadie, especialista em Patrimônio Mundial da IUCN, adverte: “O Patrimônio Mundial do Lago Turkana, no Quênia, corre grande risco de perder seus valores excepcionais se não for tomada imediatamente uma ação para reduzir os impactos da barragem Gibe III e impedir todos os outros desenvolvimentos prejudiciais”.

“As pessoas dependem do lago e é nossa responsabilidade coletiva mobilizar os recursos necessários para apoiá-los, protegendo o site”, completa. Os pedidos para que as autoridades quenianas sejam mais pró-ativas em relação às ameaças estão sendo feitos por uma organização que fala pelas comunidades locais.

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Ikal Angelei, diretor da organização Friends of Lake Turkana, teme que as bacias hidrográficas subterrâneas e os pastos vitais para o gado sejam reduzidos, e que o governo queniano precisa ser “um pouco mais realista sobre o impacto”. “Enquanto o Quênia está planejando se beneficiar da compra do poder, temos que nos perguntar qual é o custo desse poder no ecossistema a longo prazo?”, finaliza.

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