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EXPERIMENTAÇÃO

Laboratório de onde 43 macacos escaparam no último mês é acusado de abuso generalizado de animais

Documentos vazados mostram que, entre 2021 e 2023, vários primatas mantidos na Alpha Genesis Incorporated sofreram ferimentos e mortes traumáticas evitáveis

21 de dezembro de 2024
Júlia Zanluchi
5 min. de leitura
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Foto: Peter Zay/Anadolu via Getty Images

O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) está investigando acusações feitas por uma ONG de direitos animais contra a Alpha Genesis Incorporated (AGI), uma instalação de experimentação animal e criadora de primatas, de onde 43 macacos escaparam no mês passado.

A AGI é acusada de “abuso e negligência” e de violações da Lei de Bem-Estar Animal. Documentos vazados mostram que, entre 2021 e 2023, vários primatas mantidos nos centros da AGI sofreram ferimentos e mortes traumáticas evitáveis.

Os e-mails, relatórios veterinários e fotos foram entregues à PETA por um denunciante veterinário que alega negligência, incompetência e uma cultura de desrespeito ao bem-estar animal nos centros de primatas da AGI em Yemassee e Hampton, na Carolina do Sul.

Os registros revelam que pelo menos 82 macacos ficaram feridos ou morreram devido a traumas causados por equipamentos inseguros, cuidados inadequados e condições de saúde não tratadas.

As revelações incluem um incidente de dezembro de 2022, quando um jovem macaco-de-cauda-longa foi encontrado morto em seu recinto, com o braço preso em uma cerca de arame próximo a um aquecedor. O relatório de necropsia da AGI cita aprisionamento e desidratação como causas da morte e observa que a equipe não verificou o local desde a tarde do dia anterior.

Em maio de 2022, um filhote se estrangulou até a morte com um pedaço de gaze usado para fixar uma garrafa de água. Um e-mail de um veterinário clínico enviado à equipe observou que as garrafas usadas não se encaixavam corretamente em seus suportes e, por isso, haviam sido amarradas às gaiolas, em vez de presas com clipes.

Em maio de 2021, uma macaca morreu após sofrer uma fratura na perna e um deslocamento no joelho ao ficar presa em uma trava deslizante, conhecida por causar problemas aos animais. Também houve relatos de macacos sofrendo de desnutrição crônica e morrendo de hipertermia, insolação e doenças infecciosas.

A denúncia feita pela Peta ao USDA inclui 270 páginas de evidências, citando “a dor, angústia psicológica e miséria sofridas pelos macacos na AGI”. Também acusa a falta de pessoal qualificado para cuidar dos primatas.

Em novembro de 2022, uma macaca grávida no centro de Hampton da AGI passou por um parto traumático, com a equipe sendo forçada a realizar uma cirurgia de emergência. No entanto, não havia um anestesista experiente presente, e equipamentos médicos cruciais estavam ausentes. Durante o tempo necessário para reunir esses itens, o útero da macaca rompeu e aderiu a outros órgãos, levando à eutanásia.

“Eu quase tive um colapso completo hoje e quero saber se estou exagerando ou não em relação à incapacidade de oferecer padrões mínimos de cuidado nessas situações”, afirmou um veterinário em um e-mail. “Estou indignado por não ter uma equipe adequada quando essas coisas acontecem, e isso é um problema sistêmico aqui na AGI.”

Um consultor externo que analisou o caso declarou que a falta de pessoas treinadas no centro de Hampton é inaceitável.

Documentos internos também revelam que macacos sofreram lesões devido ao manuseio inadequado, incluindo braços e dedos quebrados, além de línguas arrancadas. Em fevereiro de 2021, o rabo de um macaco foi rasgado até o osso durante uma captura. Outras mortes ocorreram devido a gaiolas não seguras, lutas entre macacos e inúmeras fugas. Dos 43 macacos que escaparam da AGI Yemassee em 7 de novembro, devido a um portão deixado aberto, quatro ainda permanecem soltos.

“Podemos confirmar que recebemos recentemente uma denúncia da Peta com alegações detalhadas sobre essa instalação. Levamos todas as denúncias a sério e investigamos para determinar se há descumprimentos da Lei de Bem-Estar Animal que precisam ser resolvidos”, disse Lyndsay Cole, diretora assistente de assuntos públicos do USDA.

Dr. Alka Chandna, vice-presidente da PETA, declarou que as alegações trazidas por um denunciante revelam problemas sistêmicos na Alpha Genesis. “Estes não são resultados de incidentes isolados ou de algumas pessoas mal-intencionadas. A negligência e o desrespeito pelo bem-estar dos animais sob seus cuidados não são anomalias, mas parecem estar entranhados na própria estrutura operacional da Alpha Genesis”, pontuou ela.

A Alpha Genesis tem um histórico de violações do bem-estar animal. O USDA, que supervisiona a implementação da Lei de Bem-Estar Animal, realizou 33 inspeções desde 2014, encontrando seis violações críticas que resultaram em três ações de cumprimento. No entanto, a Peta afirma que as recentes revelações levantam dúvidas sobre a eficácia dessas ações.

“As inspeções do USDA podem durar apenas oito horas em instalações como a Alpha Genesis, onde milhares de macacos estão confinados. Esse período limitado é totalmente insuficiente e levanta sérias preocupações sobre a capacidade da agência de cumprir seu mandato de garantir o tratamento humanitário dos animais sob sua jurisdição”, acrescentou Chandna.

A Alpha Genesis é registrada no USDA como criadora e fornecedora de primatas, além de oferecer serviços pré-clínicos para o desenvolvimento de medicamentos. O site da empresa afirma que ela “fornece os mais altos padrões de produtos e serviços de pesquisa biomédica com primatas em todo o mundo”. A AGI também detém contratos de US$ 19 milhões com o Instituto Nacional de Saúde dos EUA (NIH).

O NIH não respondeu a pedidos de comentário do The Guardian.

Primatas são comumente usados em testes de toxicologia e pesquisas sobre doenças infecciosas mesmo estudos comprovando que os testes não são eficazes. “Muitos macacos são usados em experimentos na tentativa de entender o cérebro humano ou doenças como HIV/Aids e Alzheimer. No entanto, evidências esmagadoras mostram que isso é inútil. Observe a falta de novos medicamentos e vacinas seguros e eficazes para doenças neurodegenerativas, HIV, AVC, etc., apesar de décadas de esforços e bilhões em investimentos”, afirmou Dr. Jarrod Bailey, diretor de pesquisa médica do Comitê de Médicos pela Medicina Responsável.

O USDA também está revisando alegações adicionais sobre as mortes de 20 macacos-de-cauda-longa na AGI Yemassee, em 25 de novembro, devido a uma falha em um aquecedor.

A Alpha Genesis também não respondeu aos pedidos de comentário.

Nota da Redação: os testes em animais representam uma grande violação dos direitos animais, ao submeter seres sencientes a sofrimento físico e emocional em nome de interesses humanos. Esses procedimentos desconsideram a capacidade dos animais de sentir dor, medo e angústia, tratando-os como objetos descartáveis em vez de seres vivos com valor inerente. Além disso, esses testes não garantem resultados confiáveis para humanos, tornando o sofrimento imposto ainda mais injustificável. Atualmente já existem métodos para substituir esses testes, como tecnologias avançadas de modelagem computacional e cultivo de células humanas, que respeitem os direitos animais enquanto promovem avanços éticos e científicos.

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