O recente episódio envolvendo a suspensão, em caráter liminar, da lei municipal que proibia a exploração de animais em jogos de azar na capital paulista, é mais um exemplo lamentável de como o lucro e o entretenimento humanos continuam a prevalecer sobre o bem-estar e a dignidade animal. O Tribunal de Justiça de São Paulo acatou o pedido do Ministério Público (MP-SP), argumentando que legislar sobre consórcios e sorteios é uma competência privativa da União. No entanto, essa decisão ignora o sofrimento intrínseco imposto aos animais explorados em práticas como as corridas de cavalos.
As corridas de cavalo, especificamente, são um retrato claro da exploração animal disfarçada de esporte. Nessa atividade, os cavalos são forçados a competir sob condições extremas, muitas vezes sofrendo lesões graves ou até mesmo a morte. Além disso, o treinamento rigoroso e o confinamento contínuo submetem esses animais a uma vida de estresse e sofrimento, tudo para alimentar uma indústria que lucra com suas apostas.
A tentativa de barrar essa prática em São Paulo, através da lei de autoria do vereador Xexéu Tripoli, que proíbe atividades desportivas que utilizam animais, foi um passo importante na direção de um futuro mais ético e compassivo. Contudo, a suspensão da lei pelo Tribunal representa um retrocesso na luta pelos direitos animais, favorecendo interesses econômicos em detrimento da vida e do bem-estar dos cavalos.
O Jockey Club, principal beneficiário da decisão, celebrou a suspensão, reiterando sua confiança na Justiça e sua crença de que a proibição inviabilizaria a atividade turfística. No entanto, essa visão ignora a realidade de que nenhum tipo de entretenimento justifica o sofrimento animal. O argumento de que o município não tem competência para legislar sobre o assunto é, na prática, uma maneira de perpetuar a exploração e impedir avanços em favor da proteção animal.
É urgente que a sociedade e o poder público reconheçam que os animais não são objetos para nosso entretenimento ou lucro. Eles merecem viver livres de exploração e sofrimento, e é nosso dever proteger seus direitos, não importa qual seja a tradição ou o interesse econômico em jogo.
Nota da Redação: cavalos explorados em provas de hipismo são submetidos a condições que superam os seus limites físicos. Muitos deles são obrigados a competir desde os dois anos de idade, quando os sistemas ósseo e muscular do animal ainda não está completamente formados. Lesões, fraturas e dores, que logo se tornam crônicas, são comuns.
Pressionados por seus adestradores e pelas altas quantias de dinheiro envolvidas, esses animais são obrigados a participar de treinamentos longos e exaustivos que têm como única função prepará-los para torneios, para que todo o investimento financeiro gere lucro. Cavalos e éguas que participam de provas de equitação não são atletas, são escravos.
Estudos apontam que o esforço das corridas leva a sangramento nos pulmões e na traqueia (HPIE – Hemorragia Pulmonar Induzida por Exercício), além de claudicação, dor intensa nas patas causadas por baixo fluxo sanguíneo que também pode estar associada a doenças cardíacas. Quando sofrem fraturas, o ossos podem se partir em vários fragmentos.
O sacrifício de cavalos feridos é sempre a primeira opção, mesmo quando há sugestões de tratamento. Um cavalo ferido, mesmo recuperado, não poderá mais participar de corridas e gerar lucro aos seus algozes, então os gastos veterinários são minimizados e dispensados. Quando não são mortos a tiros, são encaminhados para matadouros.
A prova disso foi uma investigação recente feita pela BBC que descortinou os bastidores do destino de cavalos explorados em corridas. Cavalos que ajudaram jóqueis a ganhar troféus e muito dinheiro no passado, são enviados para frigoríficos para serem mortos para a fabricação de ração ou para consumo humano.
O hipismo não é diferente de nenhuma outra indústria que abusa, maltrata e explora animais. O glamour das competição de equitação é apenas uma alienação elitizada que não encontra mais espaço na sociedade contemporânea e precisa ser descontruído, combatido e proibido. Infelizmente, provas disso não faltam.
Em 2011, o cavalo cavalo Hickstead, de 15 anos, desmaiou durante a Copa Mundial de Saltos a Obstáculos de Verona, na Itália, e teve diversas convulsões diante do público. Ele não sobreviveu e a causa da morte foi divulgada como aneurisma. Em 2012, um cavalo morreu em Tarragona, na Espanha, após ser obrigado a saltar sob obstáculos até a exaustão.
Nas Olímpiadas de 2014, um cavalo sofreu um infarto fulminante no início da prova de equitação. Ocasionalmente, jóqueis também são as vítimas da prática. Nas provas de classificação para as olímpiadas de 2016, a jóquei Caitlyn Fischer, de 19 anos, morreu após o cavalo que montava errar um dos obstáculos.
Qualquer prática que se considere esportiva precisa estar relacionada com o desenvolvimento, a superação e a evolução do ser humano. Nenhuma atividade que cause dor, sofrimento e escravize seres indefesos deve ser classificada como esporte pela sociedade. Que a morte desses cavalinhos se tornem um símbolo e estimule a proibição do hipismo.