Uma causa nobre. Mais do que um ato de amor, um ato de solidariedade. Assim como os humanos, cães e gatos também podem precisar de transfusões de sangue em situações críticas e de emergência. Cirurgias, intoxicações, infecções e doenças autoimunes levam à necessidade de uma transfusão. Além da doação direta, tutores podem ajudar divulgando a causa, incentivando outros tutores a participar e apoiando campanhas de conscientização.
Os bancos de sangue veterinários também se encontram com estoque crítico de bolsas de sangue devido à baixa procura pela doação. Manter os estoques com uma boa capacidade, por longos períodos, é um desafio técnico e logístico para as clínicas veterinárias. Mariane Leão, médica veterinária e professora do curso de medicina veterinária do Centro Universitário Uniceplac, explica que o sangue precisa ser armazenado em condições rigorosas para preservar sua qualidade e segurança.
“Como o sangue tem validade limitada, há risco de perda de bolsas quando a demanda não acompanha a reposição. Isso gera uma dificuldade para manter um estoque diversificado de tipos sanguíneos raros, principalmente em gatos. Uma prática realizada é o cadastro de possíveis animais doadores nas clínicas, para, no momento de necessidade, acionar os tutores desses animais para a coleta”, detalha.
Para ser um procedimento seguro e eficaz, os animais — o doador e o receptor — precisam passar por exames físicos e hematológicos antes da doação. Com a tipagem sanguínea e o teste de compatibilidade, que avalia se o sangue doado será aceito pelo receptor, mesmo que tenham o mesmo tipo sanguíneo, é possível prevenir reações adversas. Assim como os humanos, os animais também possuem tipos sanguíneos diferentes.
Layla, uma cachorra SRD, precisou receber transfusão sanguínea para tratar uma anemia — ao todo, foram de seis a oito bolsas de sangue em um mês. “Por terem sido muitas transfusões, o hemocentro autorizou que a gente ficasse com a Layla durante os dias do procedimento, para acolher, mantê-la quietinha e bem aquecida, pois o processo levava cerca de quatro horas. Após a transfusão, Layla podia ir para casa, e tínhamos que acompanhar como ela ficava, mas, normalmente, era muito positivo. Ela chegava ao hemocentro bem debilitada e voltava muito feliz, querendo brincar de bolinha”, conta sua tutora, Maira Manesco.
Mesmo após ter passado por um teste de compatibilidade sanguínea, foi indicado à sua tutora que observasse com atenção o focinho da Layla, pois, se apresentasse algum inchaço, era um sinal de que o sangue não tinha sido aceito pelo sistema dela. E essa reação foi notada na sua última transfusão, contida com um antialérgico aplicado por uma veterinária.
Tipos sanguíneos
Os cães têm 13 diferentes tipos sanguíneos, que são baseados pelo sistema DEA (Dog Erythrocyte Antigen). Segundo a professora, nesse vasto grupo, os cães com o tipo DEA 1.1 positivo são receptores universais, e os DEA 1.1 negativos e saudáveis são considerados os doadores universais, pois seu sangue pode ser usado com maior segurança em receptores de qualquer tipo. Com os gatos, essa classificação é mais simples, com três tipos principais: A, B e AB, sendo o tipo A o mais comum entre os felinos, e o tipo B menos frequente. Gatos do tipo B possuem anticorpos naturais contra o tipo A, o que pode causar reações transfusionais graves.
A coleta costuma ser um procedimento rápido, seguro e indolor. Em cães, são retirados cerca de 16ml/kg a 18ml/kg de sangue, com um intervalo indicado de dois a três meses a cada coleta; em gatos, até 12ml/kg, com recomendação de doação a cada três a quatro meses, por possuírem um volume sanguíneo menor. “No caso dos cães, se a bolsa for fracionada, é possível que uma bolsa atenda até quatro animais. Já a de gatos, não é possível fazer esse fracionamento, então é uma bolsa destinada para um animal”, esclarece Kelly Carreiro, médica veterinária da Special Dog Company.
São inúmeros benefícios para o animal doador, sendo um dos principais o check-up completo de triagem que ele realiza antes da doação. De acordo com Kelly, os cães e gatos que doam sangue periodicamente podem ter o acompanhamento de sua saúde constante durante o ano.
Após a doação, o animal pode voltar para casa e retomar sua rotina normalmente. É indicado reforçar a hidratação do animal, monitorar o local da punção, possíveis hematomas ou sangramentos, e evitar que ele realize esforços físicos.
Requisitos para a doação
Os cães devem:
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Ter entre 1 e 8 anos.
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Pesar mais de 25kg.
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Recomendado não ter contato com possíveis animais infectados.
Os gatos precisam:
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Ter entre 1 e 8 anos.
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Pesar acima de 4kg.
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Viver, exclusivamente, dentro de casa.
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Fêmeas não podem estar gestantes e recém-paridas.
Ambos os animais precisam ser dóceis e cooperativos, estar saudáveis, vermifugados e com o controle de parasitas em dia. No geral, os doadores não podem fazer o uso de medicamentos, sendo preciso a avaliação do veterinário responsável durante a triagem.
Fonte: Correio Braziliense