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Jornalista escreve carta como porta-voz de cão à procura de um tutor

7 de junho de 2014
5 min. de leitura
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Cachorro Bili foi adotado pela jornalista Andrini Alvez Vieira Foto: Andrini Alvez Vieira / Arquivo pessoal
Cachorro Bili foi adotado pela jornalista Andrini Alvez Vieira
Foto: Andrini Alvez Vieira / Arquivo pessoal

Encontrado solto e aparentemente sem tutor na rua e no frio, Bili, o cão símbolo do Pata Show – evento que promove atividades para animais domésticos e seus tutores em Joinville -, ganhou uma fã.

Sensibilizada com a história do cão, a jornalista Andrini Alves Vieira, que não poderia adotá-lo por já cuidar de dois cães em um apartamento, escreveu uma carta como forma de desabafo. Às vésperas do evento, que ocorre neste sábado, a organização já não faz mais campanhas para adoção de Bili, porque ele já encontrou um lar.

A carta a seguir foi escrita em 2013. Bili foi adotado há 4 meses. Por isso, Andrini se comprometeu a escrever o própximo capítulo dessa história. Confira carta:

“De Bili,
por Andrini Vieira.

Olá!

Meu nome é Bili. Assim mesmo sem “y” nem “l” extra. E este meu nome já diz muito sobre mim… Assim como pedi pra minha “Tia Andrini” traduzir meus latidos em texto, aproveitei e pedi uma pesquisa sobre essa palavra “Bili”.

Ela só encontrou assim: Billy. E significa “Príncipe Afortunado”. E embora me falte duas letras e fortuna monetária, posso afirmar que (sim!) sou um verdadeiro PRÍNCIPE AFORTUNADO, pois tenho amigos valiosos que me ajudam desde que meu anjo partiu pra me proteger de outro plano.

Além disso, tem um carisma invejável, sou lindo de cegar os olhos, companheiro de sentir saudade depois do primeiro segundo de distância, disciplinado de causar inveja aos gatos e super modesto, claro.

Não me recordo muito bem dos detalhes da minha vida. Talvez de tão difíceis que tenham sido os dias na rua fiz questão de esquecer. E o que me refresca a memória e faz de mim um cão feliz contarei agora pra vocês.

Certo dia, cansado de tanto caminhar pra lá e pra cá em busca de amigos e comida, resolvi dar uma voltinha pela região central de Joinville. De repente, surgiu uma luz na minha frente. Brilhava forte como sol de verão (assim mesmo, de ofuscar os olhos), e exalava um cheiro tão doce quanto um jardim em plena floração.Não resisti e caminhei ao encontro desta criatura. Segui-a por algumas quadras e fiz com que ela me notasse.

Nunca imaginei que fosse merecedor de algo tão bom, mas o Papai do Céu foi justo comigo colocando em meu incerto caminho um anjo tão especial. A criatura iluminada, linda, sorridente, chamava Raquel. Estava na essência dela cuidar dos outros. De dia cuidava das pessoas no hospital e depois dos animais aonde quer que estivesse um precisando.

Ela morava num apartamento com dois gatinhos e dois cachorrinhos que são uma graça e tive o prazer de conhecer. Como era muita “gente” pra pouco espaço ela me deixou hospedado no Pet Patas do Coração. Mais ou menos quatro meses após eu conhecer minha “anja” o Papai do Céu a chamou para outras missões.

A Raquel tentou muito encontrar uma família pra mim. Confesso que não estava na minha melhor forma, precisava ganhar uns quilinhos e dar uma lustrada na pelagem, só que isso era uma questão de tempo, mas vai entender a cabeça dos seres humanos…

Quando a anja partiu meu falso teto desabou. Fiquei muito abalado. Tive muito medo…

Nada me dava a garantia de continuar ali no Patas. Sempre fui tratado como um príncipe, mas as tias também tinham outras responsabilidades. Passei por momentos doloridos.

Apesar de saber que a Raquelzinha não estava mais neste plano, a cada luz da campainha que acendia eu corria pra ver quem era e voltava com o rabo entres as pernas. Quantos sonos perdidos que me tiraram a oportunidade de ver minha anja em sonho. Quantos uivos e latidos de desespero e saudade. Felizmente eu consegui dar a volta por cima.

Ainda choro de saudade dela, mas agora sei que ela jamais me deixou sozinho, só está me vigiando mais de cima. Com a ajuda das tias Sandra, Lu, Vera e Andrini, que nunca deixaram faltar nada (principalmente abraços e colinho) eu tenho passado os meus dias. Fazem mais de dois anos que eu virei gerente da recreação do Patas (sim! Eu fiquei e fui contratado!).

Mas a vida é como um rio, às vezes calma e serena, outras com corredeiras e pedras. Assim são também os nossos laços de amizade, passamos momentos bem juntinhos, depois cada um segue um braço do rio e vai embora. E está na hora de eu encontrar meu norte e seguir irrigando outras vidas. Enchendo de amor e alegria outras famílias. E fazendo o que eu sei de melhor, ser amigo.

As minhas tias são doidas por mim e tenho certeza que todas me disputariam se pudessem, mas não dá, e a vida tem dessas coisas. Como sempre o meu futuro a Deus pertenceu. Tenho certeza que jamais ficarei sozinho, meus anjos (do céu e da Terra) não permitiriam, mas eu queria muito ser aceito em um lar.

Queria muito deixar de ser príncipe pra ser servo e servir pelos restos dos meus dias a uma majestade. Quem sabe um dia, não é? Por enquanto cá estou, muito feliz e bem cuidado, mas sempre a espera de um outro anjo me resgatar.”

Fonte: A Notícia

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