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PEREGRINAÇÃO

Jornada de elefantes pela China dura mais de um ano e intriga especialistas

Dentre os motivos que podem explicar a viagem dos elefantes, está a busca por alimento e comida, além da fuga de possíveis caçadores

28 de junho de 2021
Mariana Dandara | Redação ANDA
6 min. de leitura
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Foto: Reprodução/BBC News

Cientistas apresentam diferentes hipóteses para explicar a peregrinação de uma manada de elefantes que já percorreu quase 500 km na China. Ameaçados de extinção, os animais caminham pelo país há mais de um ano, tendo passado por aldeias, vilarejos e cidades.

A suspeita é de que animais tenham saído da Reserva Natural Nacional de Xishuangbanna, na região sudoeste. Movendo-se para o norte, a manada chamou a atenção do mundo inteiro ao protagonizar cenas como um banho em um canal, um cochilo para descansar em meio a uma floresta e até mesmo momentos de diversão ao brincar na lama.

Robustos e gigantescos, eles também deixaram suas marcas em estabelecimentos que tiveram suas portas quebradas acidentalmente e em plantações pisoteadas. Em um momento icônico, o grupo expôs a própria inteligência ao formar uma fila para beber água em um pátio após usar as trombas para abrir uma torneira.

Na última vez em que foram vistos, esses animais passavam pela cidade de Shijie e caminhavam em direção ao sul do país. Não se sabe, porém, se tomaram esse rumo para retornar ao habitat original ou para iniciar uma nova jornada. De acordo com o professor assistente de psicologia de elefantes no Hunter College, da City University de Nova York (Estados Unidos), Joshua Plotnik, “a verdade é que ninguém sabe” para onde os animais estão indo, tampouco qual é a razão exata da jornada.

“É quase certo que (a jornada) está relacionada à necessidade de recursos, como comida, água e abrigo. Isso faria sentido, dado o fato de que, na maioria dos locais onde os elefantes asiáticos vivem na natureza, há um aumento da ocupação humana levando à fragmentação do habitat, redução e perda de recursos”, disse Plotnik em entrevista à BBC.

A dinâmica do grupo é também um fator a ser considerado nesta equação. Isso porque, segundo o professor, os elefantes são matriarcais e, por isso, têm como líder a fêmea mais velha e sábia. Já os machos costumam se afastar do grupo após a puberdade e viajar sozinhos ou se unir, por curtos períodos, a outros grupos de machos. E só retornam ao convívio com as fêmeas para acasalar – em seguida, partem novamente.

Entretanto, o comportamento desta manada em específico surpreendeu os cientistas. Isso porque a viagem desses animais começou com 16 ou 17 elefantes, sendo três machos. Durante o percurso, dois machos se separaram, um deles no início deste mês de junho.

Ahimsa Campos-Arceiz, professor e pesquisador principal do Jardim Botânico Tropical Xishuangbanna, explicou que não é incomum que isso aconteça, mas que o fato dos machos terem permanecido junto do grupo por tanto tempo lhe causa surpresa. “Isso provavelmente aconteceu por causa do território desconhecido. Quando os vi entrando em uma cidade ou vilarejo, eles estavam se movendo juntos, o que é um sinal de estresse”, explicou.

Foto: Xinhua

Assim como os humanos, os elefantes experimentam diversas emoções e sentimentos, como a alegria ao presenciar o nascimento de um filhote, a tristeza ao se deparar com a morte de um dos animais do bando e a ansiedade ao adentrar territórios desconhecidos. Além disso, as fêmeas também costumam buscar um local seguro para dar à luz, o que não aconteceu com essa manada, para estranheza dos cientistas.

“Os elefantes são muito habituais e rotineiros. É incomum para eles se mudarem para novas áreas quando estão prestes a dar à luz , quando tentam encontrar o lugar mais seguro que podem”, argumentou Lisa Olivier da Game Rangers International, entidade que luta pela preservação da vida selvagem. Em entrevista à BBC, Olivier explicou que o ato de dormir juntos, como foi registrado em fotografias, também é incomum para a espécie.

“Normalmente, os bebês dormem no chão e os grandes se apoiam em uma árvore ou em um cupinzeiro. Por serem tão grandes, caso haja qualquer tipo de ameaça, eles demoram muito para se levantar e se deitar, o que causa muita pressão no coração e nos pulmões”, comentou.

“O fato de estarem deitados sugere que estavam todos exaustos, pois tudo deve ser muito novo para eles. Grande parte de sua comunicação é o som infra-sônico, a vibração dos pés deles, mas nas cidades eles estão ouvindo os sons dos veículos”, acrescentou.

Em meio a tantas possibilidades sobre o que teria motivado a jornada desses animais, há uma certeza entre os cientistas: não se trata de migração. Isso porque os elefantes não seguem rotas fixas. Muitos especialistas acreditam, aliás, que esses animais estão caminhando à procura de um local para viver, já que a expansão urbana e o desmatamento têm os expulsado de seus próprios habitats.

Protegidos na China, os elefantes são foco de ações de preservação que combatem a caça de maneira rigorosa. Com isso, a população da espécie vem crescendo. Na década de 1990, eram 193 animais vivendo na província de Yunnan. Hoje, cerca de 300 habitam esse território.

Respeito e cuidado ao monitorar a manada

Para proteger os elefantes, as autoridades chinesas optaram por monitorá-los de maneira não invasiva. Somada a outras ações, essa decisão garantiu que os animais não acabassem em confrontos com humanos, protegendo ambos, e também permitiu que eles não fossem submetidos a estresse ao serem perturbados durante a jornada.

Através do uso de drones, as autoridades registraram imagens e juntaram informações importantes sobre a manada sem prejudicar esses animais, o que foi elogiado pelos especialistas. Eles também comemoraram o trabalho realizado graças por uma força-tarefa formada por membros do governo, de projetos de conservação e por autoridades locais.

Toneladas de comida têm sido uma das ferramentas das autoridades que, nos últimos meses, distribuíram esses alimentos em pontos específicos para servir de isca aos elefantes. O objetivo, assim como ocorreu com o uso de caminhões para bloquear estradas, é redirecionar os animais para regiões seguras.

“Estou orgulhoso de que a abordagem não seja muito intrusiva. Um erro muito comum é tentar dizer aos elefantes o que eles deveriam estar fazendo. Os elefantes não evoluíram para ouvir o que fazer. Quando tentamos dizer a eles o que fazer novamente depois de longas distâncias, podemos criar muitos comportamentos agressivos”, pontuou Campos-Arceiz.

O monitoramento diário desses animais realizado pela imprensa chinesa também serviu para aumentar a consciência da população sobre a necessidade de respeitar e proteger os elefantes, que se tornaram o centro das atenções nas redes sociais. De acordo com Olivier, o que tem ocorrido na China e a forma como a situação tem sido tratada também beneficiará os esforços de conservação da espécie em outros países. “Esta atenção e exposição ajudarão a preservação em todo o mundo”, concluiu a especialista.

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