Na próxima segunda-feira, a ativista pelos direitos animais britânica Jill Phipps completaria 54 anos. Jill faleceu aos 31 anos quando foi atropelada por um caminhão em um protesto contra a exportação de bezerros vivos em 1º de fevereiro de 1995. Os animais enviados para os Países Baixos seriam reduzidos à carne de vitela e comercializados em toda a Europa.
Na matéria “For what cause did Jill Phipps die?”, publicada no jornal britânico The Independent em 3 de fevereiro de 1995, Bob Phipps, pai da ativista contou que na infância Jill já demonstrava um grande amor pelos animais, adquirindo o hábito de resgatar cães abandonados ou levar para casa hamsters ou testudinatas.
Aos 11 anos, Jill foi encorajada pela mãe ativista pelos direitos animais a participar de campanhas contra o comércio de peles de animais. “Ela participou de uma manifestação comigo e continuou a partir daí”, relatou Nancy. Pouco tempo depois, Jill se tornou vegetariana e conseguiu convencer toda a família a adotar a mesma filosofia de vida. Também ingressou no grupo de ação direta Eastern Animal Liberation League, filiado à Animal Liberation Front (ALF).
Por meio de manifestações, Jill e sua mãe geraram comoção o suficiente para fecharem uma fazenda e uma loja onde extraíam e comercializavam peles de animais. Em 1986, elas invadiram a fábrica de sabão Port Sunlight, subsidiária da Unilever, em Merseyside, no Noroeste da Inglaterra, para protestar contra a realização de testes em animais.
Naquele dia, as ativistas quebraram inúmeros equipamentos de informática da fábrica. Presas em flagrante, sua mãe foi sentenciada a seis meses de prisão e sua irmã a 18 meses. Jill teve sua pena suspensa porque estava grávida. Após o nascimento de Luke, Jill se dedicou bastante ao filho. Divorciada, participava de manifestações ocasionais e encontros visando sabotar caçadas, principalmente durante as férias escolares de Luke.
Em dezembro de 1994, quando um dos aviões usados no transporte de bezerros caiu matando cinco pessoas, ela comentou: “Todo esse desastre é consequência da ganância de [Christopher] Barrett-Jolly. Se ele não estivesse exportando animais vivos, esse avião não estaria em Coventry. As únicas pessoas pelas quais sinto muito são as famílias cujos parentes morreram.”
A crescente exportação de carne de vitela motivou Jill a intensificar o seu ativismo. Ela começou a fazer vigílias diárias no Aeroporto de Baginton, em Warwickshire, no início de novembro de 1994. Seu filho de nove anos, sua mãe e sua irmã frequentemente a acompanhavam. Em janeiro de 1995, ela percorreu quase 160 quilômetros de Coventry até o Westminster, em Londres, para protestar no dia 15 de janeiro, data de seu aniversário, em frente à casa de Barret-Jolly, empresário responsável pela exportação de bezerros vivos.
Idealista, Jill Phipps sonhava com a libertação animal, e tornou-se bastante popular nos protestos contra a exploração animal na Inglaterra, um sonho interrompido em 1º de fevereiro de 1995. Naquela quarta-feira, Jill Phipps fazia parte de um grupo de 35 ativistas no Coventry Airport, em Baginton, protestando contra a exportação de bezerros vivos com destino a Amsterdã.
A intenção de Jill e dos outros ativistas era fazer com que os caminhões que transportavam os bezerros desacelerassem, na tentativa de impedir que os animais embarcassem para Amsterdã. Pam Brown, uma de suas amigas mais próximas, relatou em fevereiro de 1995 à Animal Liberation Front que elas falaram inclusive de irem logo depois para casa tomarem um pouco de chá e então retornarem ao aeroporto. No decorrer da ação, Pam foi apanhada por um policial e levada para longe do caminhão. Meia hora depois recebeu a notícia de que Jill estava morta.
Durante o protesto, dez manifestantes atravessaram a barreira policial e tentaram impedir o comboio de chegar ao seu destino – colocando-se na frente dos caminhões. Nesse ínterim, Jill que corria ao lado de um caminhão, foi atropelada e esmagada pelas rodas do veículo. Seus ferimentos fatais incluíram uma espinha quebrada. Ela faleceu a caminho do hospital.
Zab Phipps, irmão de Jill, declarou em 1995 que o motorista Stephen Yates não foi responsabilizado, nem mesmo pela condução sem o devido cuidado e atenção. O Ministério Público alegou que não havia provas consistentes contra o motorista. A família culpou a negligência policial pela morte de Jill, justificando que a polícia manteve o comboio em movimento o tempo todo.
Uma testemunha disse à ALF que a polícia estava mais preocupada em proteger os negócios da empresa de exportação de animais vivos do que a segurança das pessoas. Segundo o The Independent, o inquérito diz que o motorista pode ter se distraído com outro manifestante que estava sendo forçado a se afastar do caminhão.
Um policial chegou a dizer que Jill se jogou debaixo do caminhão. A explicação foi refutada por toda a família e pelos ativistas, argumentando que Jill tinha um propósito na vida, reforçado principalmente após o nascimento do filho Luke. O que surpreende até hoje na história da morte de Jill Phipps é que havia quase 100 policiais trabalhando no local, e nenhum deles pensou na possibilidade de que uma tragédia poderia acontecer naquele dia.
As exportações de bezerros vivos pelo Coventry Airport só foram encerradas meses depois, quando Christopher Barrett-Jolly faliu após acusações de que ele estava transportando armas da Eslováquia para o Sudão, violando regras da União Europeia (UE). Em 2006, ele também foi acusado de contrabandear 271 quilos de cocaína da Jamaica.
Saiba Mais
Embora fosse boa aluna, Jill Phipps deixou a escola aos 16 anos para trabalhar no Royal Mail, os Correios da Inglaterra, seguindo os passos de seu pai Bob Phipps.
Em 2005, John Curtin lançou o documentário “Jill’s Film”, que conta a história de Jill Phipps. Com aproximadamente 40 minutos de duração, o filme inclui filmagens amadoras de Jill, a sua campanha no Coventry Airport, o seu funeral e entrevistas com familiares e amigos, além de informações sobre a cruel realidade da exploração animal.