Especialistas afirmam que a liberação da caça aos javalis no Brasil levou à prática de espalhar esses animais pelo país para que os caçadores possam se divertir às custas da vida e do sofrimento desses animais. Embora as caçadas tenham sido liberadas sob o argumento de controle populacional, o número de javalis só país só cresce.
Sob a condição de anonimato, especialistas afirmaram ao UOL que acreditam que esses animais estejam sendo transportados a regiões do país de maneira proposital. O objetivo é permitir que caçadores hajam em locais onde antes não era possível promover a caça, já que apenas o javali em caça permitida no Brasil.
Além de aumentar a crueldade contra os animais e promover a inconsciência acerca dos direitos animais, que permanecem sendo desrespeitados, a prática de espalhar os javalis por regiões brasileiras também incentiva o armamento da população, uma vez que as pessoas passam a adquirir armas para caçar os javalis.
Em setembro, a emissão de certificados de caçadores no Brasil aumentou, passando de 56 mil – conforme registrado de 2016 a 2018 – para 193,5 mil em dois anos e oito meses do governo de Jair Bolsonaro. Armados até mesmo com fuzis, cada vez mais caçadores surgem por conta da liberação da caça ao javali e da flexibilização da posse de armas.
De janeiro de 2019 a setembro de 2020, 78.956 javalis foram mortos. De acordo com análise do Ibama, os animais mortos nos nove primeiros meses de 2020 (53,9 mil) eram, em sua maioria, machos (71%) e adultos (70%).
Atividade cruel
As caçadas são práticas desumanas que condenam os animais caçados à extremo sofrimento. Tratados como objetos, os javalis têm sua condição de seres vivos que sofrem, sentem e têm direito à vida negada no Brasil. Trazidos ao país pelos brasileiros para que fossem explorados para consumo humano, eles depois foram abandonados e hoje são perseguidos, torturados e mortos.
Optar por matá-los ao invés de castrá-los é, por si só, cruel. Quando armas brancas, que intensificam o sofrimento dos javalis, e cachorros são envolvidos nas caçadas, a situação se torna ainda pior.
De acordo com o presidente da Comissão Nacional de Proteção e Defesa dos Animais da OAB, Reynaldo Velloso, a norma do Ibama que autoriza a exploração de cachorros na caça ao javali é inconstitucional. “A Instrução Normativa não só contraria o ordenamento descrito pela Constituição Federal, mas também a própria Lei de Crimes Ambientais. Estamos diante da terceirização da morte. Ao invés de promover o controle, o governo fomenta a matança, sem critérios, bastando apenas um simples cadastro. É a delegação do poder estatal sem maiores cerimônias. Um absurdo”, disse Velloso.
“A Constituição Federal veda qualquer exposição dos animais às crueldades e a Lei de Crimes Ambientais tutela os animais contra maus-tratos. Como é possível o IBAMA fomentar esta prática? Deveriam se preocupar com o tráfico de animais e não apoiar a matança de cães”, continuou.
Os argumentos de Velloso foram apoiados pelo biólogo Frank Alarcón, que afirmou que “estamos de volta aos tempos medievais, com estas práticas inconsequentes”.