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REFLEXÃO

Jane Goodall na América do Sul: “Os animais em extinção também podem se recuperar se dermos a eles essa chance”

20 de agosto de 2024
5 min. de leitura
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Foto: Marcos Brindicci

Aos 90 anos de idade, Valerie Jane Morris-Goodall, mais conhecida como Jane Goodall – renomada etóloga e ativista britânica pioneira no estudo de chimpanzés em estado selvagem – saiu em turnê pela América do Sul não só como forma de celebrar seus quase um século de vida, mas também para chamar a atenção para a preservação ambiental e para a importância da proteção da biodiversidade endêmica.

Jane, que possui diversos institutos com seu nome espalhados pelo mundo, fez sua primeira parada na província de Missões, no norte argentino, área que guarda parte das Cataratas do Iguaçú, bem na fronteira com o Brasil. No local, ela participou de uma conferência aberta organizada pelo próprio Instituto Jane Goodall Argentina, junto com o Instituto Missioneiro de Biodiversidade (IMiBio) e o Governo de Missões, entre outras entidades ligadas ao meio ambiente.

Em seguida, a estudiosa esteve na capital, Buenos Aires para mais uma rodada de conversas. Realizada no último dia 15 de agosto, a segunda palestra trouxe bastante da trajetória de Jane para os presentes, reforçando seu lugar como uma das maiores estudiosas dos chimpanzés no mundo.

National Geographic esteve neste evento, promovido também pela Fundação Jane Goodall em parceria com o governo da cidade de Buenos Aires, e listou os quatro pontos principais dos ensinamentos deixados por ela. Acompanhe:

Os 4 pontos-chave da conferência de Jane Goodall em Buenos Aires

1. Para Jane, ainda é possível salvar o planeta da crise climática

Atualmente, as mudanças climáticas e a perda de biodiversidade são fatores alarmantes. Como efeito dessas situações, diversos eventos climáticos extremos têm sido registrados nos últimos anos, incluindo ondas de calor, inundações e tornados.

Sobre essas questões ambientais, a etóloga enfatizou: “Muitas vezes me perguntam: Jane, estamos passando por tempos difíceis, você realmente mantém esperança no futuro? É verdade que temos uma janela de tempo na qual podemos reduzir as mudanças climáticas e a perda de biodiversidade. E essa janela ainda está se fechando”. Ela enfatizou que, para reverter os danos causados, é essencial agir agora. “A resiliência da natureza é maravilhosa. “Minha grande esperança são os jovens porque, globalmente, vemos que eles estão mudando o mundo”, completou.

2. Os animais são seres altamente inteligentes, conta Jane

Durante a palestra, a Dra. Goodall também falou bastante sobre a inteligência dos animais e a importância das descobertas feitas a esse respeito.

Em seu relato, ela detalhou exemplos que demonstram a inteligência animal: “Descobriu-se que os porcos são tão inteligentes quanto os cães, se não mais”, comentou.

Jane contou o caso de uma porca que foi resgatada por um artista e, depois de observá-lo por algum tempo, conseguiu imitar as ações do artista. Em uma ocasião, por exemplo, ele colocou um pincel na boca do animal, deixou uma tela em branco diante dela e a porca resgatada por ele começou a pintar.

Ela também comentou que na Tanzânia “já existe um grupo de ratos sendo treinado para encontrar e resgatar sobreviventes de terremotos nos escombros”.

3. Como estudiosa de primatas, Jane reforça: os chimpanzés e os seres humanos têm muitas semelhanças

Durante a conferência, a etóloga explicou um pouco como esses dois tipos de primatas tão fisicamente distintos – humanos e chimpanzés – possuem tanto em comum: “O comportamento deles é bastante semelhante ao nosso em termos de comunicação não-verbal, como abraçar, beijar, pedir comida ou dar tapinhas no ombro um do outro”.

O próprio Instituto Jane Goodall, da Espanha, explica que os chimpanzés e bonobos são os parentes evolutivos vivos mais próximos dos seres humanos, tanto que pessoas e chimpanzés compartilham 98,7% do DNA, o que significa uma porcentagem pequena de diferença genética..

Mas não são apenas os chimpanzés adultos que se assemelham às pessoas: seus filhotes passam por uma infância que se lembra à dos humanos. “Eles vivem períodos de aprendizado de até de cinco anos – o que pode ser considerado um tempo longo entre os animais. Tal como os nossos filhos, esses jovens animais assimilam conhecimento observando, imitando e praticando”, explica Jane.

4. A conexão entre Jane e os chimpanzés: uma história poderosa

Para concluir, Jane Goodall relembrou uma de suas emocionantes histórias com um chimpanzé em especial. Tratava-se de uma fêmea que ficou órfã ao nascer, pois sua mãe foi morta para que fosse possível roubar os filhotes e vendê-los a uma empresa de entretenimento no Oriente Médio.

Goodall disse que o animal chegou ao Centro de Reabilitação de Chimpanzés Tchimpounga, na República Democrática do Congo (o maior santuário da África), quando tinha apenas um ano de idade. Seu nome era Wounda, que no idioma congolês significa “perto da morte”. “Ela chegou em condições muito ruins, pois também havia sido afetada pela bala que matou sua mãe”.

Lá, a veterinária do santuário, Rebecca Atencia, salvou a vida da pequena Wounda duas vezes. Primeiro, quando ela chegou ao santuário e, depois, quando tinha a chimpanzé já adulta, com 8 anos de idade, ficou gravemente doente.

“Depois disso, decidimos que Wounda era um indivíduo ideal para ser solta em uma das três ilhas de reflorestamento que nos foram cedidas pelo governo congolês”, lembrou a etóloga britânica.

Jane então compartilhou um vídeo com o momento da libertação da chimpanzé fêmea em um lugar descrito por ela como “paradisíaco”.

Nas imagens foi possível ver a chimpanzé abraçando a etóloga. “Eu não conhecia Wounda, era a primeira vez que nos encontrávamos. Foi um dos momentos mais maravilhosos que já vivi em minha vida”, concluiu Goodall sobre o momento inesperadamente caloroso. Ela emocionou o público sortudo que acompanhou a conferência.

Vale lembrar que Jane Goodall também já visitou o Brasil. Em 2023, ela foi recebida pela Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, em um evento do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) para promover a preservação da Amazônia.

Fonte: National Geographic Brasil

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