O número de jacarés em áreas urbanas da Grande Vitória aumentou nos últimos dias. Em duas semanas, 14 jacarés foram resgatados nos lugares mais inusitados como em rodovias e até dentro de piscinas. Mas o que faz com que esses répteis sejam vistos com mais frequência no meio das cidades?
Biólogos do Projeto Caiman, projeto que cuida da preservação de jacarés-do-papo-amarelo no Espírito Santo, explicam que vários fatores podem ter ajudado para esse aumento:
– Temperaturas mais altas;
– Período de reprodução dos animais;
– Fortes chuvas que atingiram o estado nas últimas semanas;
– Por conta desses fatores, locomovem-se mais.
“Nesse período que a gente tem o aumento das temperaturas, essa transição entre a primavera e o verão, é o momento que os animais vão se reproduzir. Somado a esse período já natural de reprodução, tem essa grande movimentação e as intensas chuvas que assolaram o Espírito Santo, os jacarés apareceram nas cidades. Eles vão se movimentando e no meio da floresta há uma cidade”, explica Yhuri Nóbrega, coordenador do projeto Caiman.
Resgates
Um dos animais resgatados recentemente foi encontrado na Rodovia das Paneleiras, em Vitória. O filhote foi apelidado pela equipe de Neymar, craque da seleção brasileira de futebol. O jacarézinho chegou machucado e os biólogos do projeto acreditam que ele foi atropelado, já que perdeu parte da mandíbula.
“Estamos estudando as possibilidades junto com os órgãos responsáveis sobre se a gente vai fazer um treinamento, uma reabilitação, para reeducá-lo na parte alimentar. Se conseguirmos isso, precisamos ver se ele vai voltar para a natureza. Infelizmente, a gente não consegue fazer um procedimento de prótese nele, porque ele ainda é um animal juvenil e ainda vai crescer muito. Então colocar uma prótese na boca dele, vai acabar se perdendo com o tempo. A gente ainda está estudando como vai melhor lidar com isso” comentou o biólogo Iago Ornellas.
Outro jacaré que foi resgatado dentro de uma piscina em uma casa em Ponta da Fruta, em Vila Velha, foi batizado com outro nome de astro do futebol, o capixaba conhecido como ‘pombo’: Richarlison. O dono da casa pediu ajuda do Projeto Caiman.
“A minha preocupação é só com ele. Quando eu vi ele dentro da piscina eu falei ‘meu deus do céu, e agora” disse Seu Jorge, dono da casa.
Os biólogos do projeto resgataram o animal, que foi levado para o centro para fazer exames para ver se pode ser solto na natureza.
Depois do resgate os jacarés entram em reabilitação e são acompanhados por uma equipe de biólogos e veterinários. Os biólogos explicam que primeiro os saudáveis são checados e são feitas medições, exames sanguíneo e pesagem.
Depois é colocado um microchip nos jacarés. Do tamanho de um grão de arroz, o aparelho funciona como uma carteira de identidade.
“Todas as vezes que a gente coleta um animal, a gente avalia para ver se o microchip tá lá, se ele já estiver lá, significa que a gente já capturou esse animal, é uma recaptura, então é um indício muito bom. Se ele estiver saudável, a gente vai na natureza, devolve normalmente, em um lugar mais próximo e natural da onde a gente regatou esse animal”, contou o biólogo Iago.
O principal objetivo do centro de reabilitação é preservar o jacaré-de-papo-amarelo, uma espécie símbolo da Mata Atlântica, que está em risco de extinção.
“A ciência está mostrando que se a gente não mudar nosso hábitos e não tomar atitudes voltadas para preservação da espécie e também do ambiente em que ele vive, então dos rios capixabas, das florestas capixabas, nas próximas gerações não haverá mais o jacaré do papo amarelo aqui no nosso estado. Coisa que a gente não quer”, pontuou Yhuri.
Todos os anos, em média 70 jacarés são resgatados nas cidades da Grande Vitória e devolvidos ao meio ambiente.
Fonte: G1