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ALÍVIO

Itália suspende sacrifício de ursa que matou alpinista após impasse jurídico

Para a Justiça, periculosidade do animal não foi comprovada pelo governo; pais da vítima também defendem Gaia

27 de maio de 2023
3 min. de leitura
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A Itália suspendeu nesta sexta-feira (26) o abate da ursa JJ4, que matou no início de abril o alpinista Andrea Papi e movimentou o país nas últimas semanas após dezenas de instituições e cidadãos pedirem a absolvição do animal.

O mérito da questão vai ser analisado novamente em 14 de dezembro, mas o tribunal administrativo regional de Trento marcou para daqui a um mês, em 27 de junho, uma audiência para a apresentação de propostas alternativas. A principal é a transferência da ursa, que tem 17 anos e 150 quilos, para um santuário selvagem na Alemanha, na Romênia ou na Jordânia.

Isso já aconteceu antes com os ursos da província de Trentino, com os envios de DJ3 para uma reserva alemã e de M57 para a Hungria. A decisão desta sexta contempla também outra fêmea da região, a MJ5, de 18 anos, que atacou um homem no início de março, mas que ainda não foi capturada.

“Estamos muito felizes com o resultado alcançado. Gaia [nome que se deu recentemente a JJ4] está atualmente segura, e acreditamos firmemente que ela continuará a estar”, disseram, em nota conjunta, as advogadas Rosaria Loprete e Giada Bernardi.

“E como ela, outros ursos vão continuar no caminho para que os animais deixem de ser o bode expiatório de omissões e/ou erros humanos”, acrescentaram as duas, que representaram as ONGs Liga Leal Antivivisseccionista e Associação Patas que Dão a Mão.

Para os juízes, a periculosidade do animal não foi comprovada por documentos fornecidos pela província de Trentino. Seu governador, Maurizio Fugatti, era quem liderava o movimento pelo abate da ursa. Desde que JJ4 foi capturada, em 18 de abril, uma centena de associações se colocaram publicamente contra o sacrifício, e mesmo os pais do alpinista morto declararam que estavam do lado da ursa.

“Sou contra o sacrifício, mas eles devem colocar a mão na consciência, porque se isso acontecesse com um filho deles não sei o que fariam. Só quero justiça para o meu filho”, disse Franca Ghirardini no mês passado, sobre as autoridades de Trentino, a quem atribui a culpa. Já Carlo Papi, pai de Andrea, afirmou que não havia placas alertando sobre os perigos na região.

Andrea Papi, alpinista morto no início de abril após ser atacado por urso no nordeste da Itália – Reprodução/Redes sociais

“Estou convencido de que a morte não foi um acidente. A responsabilidade é do programa de ursos e das entidades provinciais e locais que o geriram ao longo do tempo”, disse à Folha Marcello Notarianni, consultor da União Internacional para a Conservação da Natureza, da ONU.

Ele se refere ao programa Life Ursus, da União Europeia, que trouxe dez animais da Eslovênia entre 1999 e 2002 para reintroduzi-los nos Alpes italianos, já que a população de ursos de Trentino estava quase extinta devido à caça indiscriminada que durava pelo menos um século.

“Mas a gestão dos ursos de Trentino ficou fora de controle”, explica Notarianni, um especialista em turismo sustentável com experiência de trabalho com animais selvagens como tigres e elefantes na Ásia.

“O programa previa a reintrodução de cerca de 50 indivíduos, mas atualmente, de acordo com fontes oficiais, existem pelo menos 100, enquanto outros falam mesmo de 200. Além disso, é necessário um controle com rádio-colares, uma comunicação mais eficaz e contínua com sinais que alertem para a presença de ursos e a educação da população sobre a relação homem-urso, uma vez que os habitantes da região não convivem com esses animais há décadas”, acrescentou.

De acordo com o especialista, é necessário comunicar à população o protocolo para entrar numa floresta com esses animais, como o uso de um sino a ser colocado nos tornozelos e um bastão para bater no chão a cada passo para avisar o urso da sua presença.

“No caso de se encontrar um deles no mato, não se pode de forma alguma correr, caso contrário o urso vai persegui-lo. A pessoa deve manter contato visual com o urso e andar para trás, muito lentamente, sem mostrar sinais de agressividade”, ensinou Notarianni.

 

Fonte: Folha de SP

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