A Irlanda aprovou na semana passada, na Câmara dos Deputados, um projeto de lei que obrigará o Estado a vender todos os investimentos em carvão, petróleo, gás e turfa – cerca de R$ 40 bilhões. A iniciativa teve apoio de todos os partidos na câmara baixa do parlamento, e agora segue para votação na câmara alta. Há grandes chances de que o projeto se torne lei antes do final do ano.
Estima-se que, após aprovado, o corte nos investimentos esteja completo em cerca de cinco anos ou, como colocado pelos parlamentares, “assim que for praticável”. O fundo de investimento estatal irlandês detém mais de R$ 1.3 bilhões em investimentos em combustíveis fósseis em aproximadamente 150 empresas. O país será o primeiro do mundo a abandonar permanentemente o uso e extração de combustíveis fósseis.
Defensores da reforma alegam que explorar e produzir mais combustíveis fósseis é moralmente errado e economicamente arriscado. De acordo com eles, os recursos existentes já alcançam níveis muito mais altos do que o adequado para não causar uma mudança climática catastrófica. Críticos da iniciativa argumentam que a melhor saída seria que o país permanecesse como acionista e convencesse as empresas de combustível fóssil a mudar as práticas.
“O movimento está destacando a necessidade de parar de investir na expansão de uma indústria global que deve ser abolida para evitar uma mudança climática catastrófica”, disse Thomas Pringle, membro independente do parlamento, e quem apresentou o projeto, em entrevista ao jornal The Guardian. “A Irlanda está enviando uma mensagem clara de que a população do país e a comunidade internacional estão prontos para pensar e agir além dos interesses limitados de curto prazo”.
Éamonn Meehan, diretor executivo da organização de caridade para o desenvolvimento internacional Trócaire, concorda com Pringle. “Hoje, o Oireachtas [parlamento irlandês] enviou um poderoso sinal à comunidade internacional sobre a necessidade de acelerar a eliminação dos combustíveis fósseis”, e completa: “No mês passado, a Irlanda foi classificada como o segundo pior país europeu em ação climática, então a aprovação deste projeto é uma boa notícia. Mas tem que marcar uma mudança significativa”.
“Os governos não cumprirão suas obrigações sob o acordo de Paris sobre mudança climática se continuarem a sustentar financeiramente a indústria de combustíveis fósseis. Países de todo o mundo devem agora seguir com urgência o exemplo da Irlanda”, acrescenta Gerry Liston, da Global Legal Action Network, redator do projeto.