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Irã se torna destino popular entre caçadores americanos

15 de agosto de 2015
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natureza
A indignação causada pela morte do leão zimbabuano Cecil, caçado por um dentista americano, jogou luz sobre a caça focada na obtenção de troféus. E, ainda que a África seja comumente associada a essa prática, entusiastas americanos têm descoberto outro popular destino para caçadas: a República Islâmica do Irã.
A agência ambiental do Irã emite, anualmente, cerca de 500 licenças a estrangeiros para caçar animais raros e protegidos.
E muitos desses caçadores vêm justamente dos Estados Unidos, apesar de os dois países não terem relações diplomáticas formais e viverem em estado constante de tensão nas últimas três décadas – e só recentemente terem chegado a um acordo quanto ao programa nuclear iraniano.
A permissão aos caçadores americanos é concedida também por um órgão interno do Departamento do Tesouro dos EUA, que cerca de dez anos atrás legalizou o agendamento de tours de caça por agências de viagem do país.
Mesmo no auge das hostilidades entre EUA e Irã, americanos passeavam pelos vales e montanhas do Irã em busca de troféus de caça: cabras selvagens, gazelas e o urial transcaspiano, uma rara espécie de carneiro selvagem que só pode ser legalmente caçado em território iraniano.
Uma rápida busca na internet revela uma variedade de agências de viagem, localizadas em lugares como Belgrado, Moscou e Pequim, oferecendo tours de caça no Irã.
Muitas claramente focam o turista americano, com ilustrações de caçadores ocidentais posando na montanha ao lado de ovelhas de chifre retorcido.
“Agora podemos oferecer-lhe uma experiência de caça verdadeiramente única e aventureira no Irã”, diz um dos anúncios em um site americano.
Outro site, baseado na China, admite que pode ser difícil para caçadores americanos pegarem em armas no Irã ou para tirar seus troféus do país, mas promete lidar com todos os eventuais obstáculos que impeçam “os caçadores de ovelhas de realizar seus sonhos”.
Espécies ameaçadas
A caça focada em troféus é um grande negócio tanto para as agências de turismo quanto para o próprio Irã.
Visitantes estrangeiros endinheirados chegam a pagar US$ 15 mil (cerca de R$ 52 mil na cotação atual) pela chance de caçar um urial transcaspiano e até US$ 20 mil (R$ 70 mil) pela tentativa de capturar outra ovelha rara, a laristan mouflon.
Para nacionalistas, a renda gerada pela caça parece superar eventuais preocupações quanto à quantidade de caçadores estrangeiros, em especial americanos, dirigindo-se ao país em busca de espécies raras.
Mas, para ambientalistas, trata-se de um problema crescente.
O Irã abriga uma vida selvagem diversificada, que inclui de ursos a gazelas; de focas do mar Cáspio a cobras raras.
E essa vida selvagem está cada vez mais ameaçada. A urbanização e a caça praticamente destruíram algumas das espécies incomuns que existiam no país.
Cerca de 120 animais de origem iraniana figuram na lista de espécies ameaçadas da União Internacional pela Conservação da Natureza.
O mais famoso deles é o guepardo iraniano, do qual sobraram apenas 50 espécimes, e o leopardo persa, cuja população é de cerca de 5 mil.
Preocupação crescente
Desde as eleições de 2013, o presidente do Irã, Hassan Rouhani, fez da preservação ambiental uma de suas prioridades – e tem crescido a preocupação da opinião pública quanto à caça.
Nas redes sociais do país há cada vez mais burburinho em torno de notícias sobre o meio ambiente, e estão em curso esforços para educar comunidades locais quanto à coexistência com a vida selvagem.
E o público tem manifestado mais indignação quanto a casos recentes de caçadores que documentaram suas caçadas em vídeo – algo que levou o Poder Judiciário a agir com mais rigor.
Declarações de apoio dos guardas florestais iranianos, cuja tarefa é proteger as espécies ameaçadas, também ganharam mais repercussão recentemente.
No entanto, isso não tem sido acompanhado de mais proteção legal ou aumentos no efetivo de guardas.
Assim, os guardas florestais entram em desvantagem na briga contra caçadores não licenciados que continuam ameaçando a vida selvagem do país.
Além disso, o lobby dos caçadores é poderoso e sustenta-se no argumento de que a caça legalizada é uma importante ferramenta conservacionista.
Ante as dificuldades orçamentárias, a agência ambiental do Irã tem nas licenças de caça uma importante fonte de renda.
Mas muitos ambientalistas se queixam da falta de fiscalização sobre a emissão de licenças e sobre como o dinheiro destas é gasto.
A própria agência manifesta preocupações quanto ao sistema atual: autoridades citam diversos incidentes em que caçadores estrangeiros parecem ter desrespeitado as leis e capturado leopardos em extinção – inclusive postando as fotos no Facebook e, em alguns casos, levando embora para casa a cabeça do animal.
Pássaros em perigo
Pássaros em extinção também são motivo de preocupação. No ano passado, a Marinha iraniana interceptou um barco no golfo de Omã e encontrou 140 falcões iranianos vivos a bordo.
As aves estavam sendo contrabandeadas para fora do país, rumo a Estados do Golfo Pérsico, após terem sido presas por caçadores árabes.
Ambientalistas dizem que a caça por estrangeiros – os quais têm acesso a animais raros – tem pressionado populações de pássaros que já estão próximas da extinção.
O Irã atrai caçadores por combinar biodiversidade com a uma infraestrutura relativamente moderna e uma boa rede de telecomunicações.
O avanço nas relações com os EUA após o acordo nuclear talvez se torne uma faca de dois gumes para a vida selvagem iraniana, caso anime mais caçadores americanos a viajar ao país persa.
O presidente Rouhani e sua ministra de Meio Ambiente, Massoumeh Ebtekar, enfrentarão a difícil escolha entre promover a caça como uma ferramenta cultural para a crescente abertura entre os dois países, ou coibir a prática e sofrer eventuais perdas econômicas.
Enquanto isso, a única certeza é de que as agências que promovem a caça continuarão a buscar oportunidades para expandir seus negócios no Irã.
Fonte: G1

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