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LUTA CONTRA AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Investigação mostra que funcionários da FAO teriam sido censurados após alertarem sobre emissões de metano na pecuária

Membros da equipe da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura relataram sofrer pressão dos estados financiadores favoráveis ​​às atividades agrícolas, segundo apuração do The Guardian

24 de outubro de 2023
Redação Um só planeta
4 min. de leitura
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Foto: Ilustração | Freepik

Não tem como falar de aquecimento global sem citar a pecuária: no Brasil, esse setor é o segundo que mais emite gases de efeito estufa (GEE), respondendo diretamente por aproximadamente 27% de todas as emissões do país. Já no mundo, um estudo recente de 2021 mostra que as emissões provenientes de produtos de origem animal ficam entre 16,5% e 28,1%.

No entanto, cientistas estão preocupados com o fato da estimativa da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) sobre a contribuição global da pecuária para as emissões estar diminuindo nas últimas décadas: em 2006, um relatório falava em 18% e recentemente o número foi revisto e caiu para 11,2%.

Neste cenário, uma investigação do The Guardian conversou anonimamente com cerca de 20 funcionários e eles admitiram que entre 2006 e 2019, a administração fez inúmeras tentativas para suprimir informações sobre a relação da produção de carne com o agravamento das mudanças climáticas. A organização teria escondido passagens-chave em relatórios sobre o tema, “enterrado” alguns dados e censurado funcionários. Segundo os relatos, eles foram “sabotados, minados e vitimizados” durante mais de uma década após divulgarem a contribuição extremamente prejudicial das emissões de metano causada pela pecuária ao planeta.

Os membros também admitiram que a pressão veio dos estados financiadores favoráveis ​​à agricultura e foi sentida em toda a sede da FAO em Roma. As alegações remontam a anos posteriores a 2006, quando veio à tona o dado de 18% das emissões e o número chocou a indústria, o que teria levado à repressão interna no órgão da ONU.

“Os lobistas obviamente conseguiram influenciar as coisas”, disse um ex-funcionário ao Guardian. “Eles tiveram um forte impacto na forma como as coisas eram feitas na FAO e havia muita censura. Sempre foi uma luta árdua fazer com que os documentos produzidos passassem pelo escritório de comunicações corporativas e era preciso evitar uma boa dose de vandalismo editorial.”

“Houve uma pressão interna substancial e houve consequências para os funcionários permanentes que trabalharam nisso, em termos de carreira. Não era realmente um ambiente saudável para trabalhar”, disse outro ex-funcionário.

Henning Steinfeld, chefe da unidade de análise pecuária da FAO, disse que diplomatas e lobistas da carne conversaram com gestores seniores da FAO e os encorajaram a não investir em trabalhos que lidassem com impactos ambientais.

Os dados da FAO são a principal fonte para relatório do Painel Internacional sobre Alterações Climáticas da ONU sobre silvicultura e agricultura. Anne Mottet, responsável pelo desenvolvimento pecuário da FAO, sublinhou que as alterações nos números refletem as melhores práticas e a evolução das metodologias, em vez de uma suposta redução. “A pecuária faz parte da estratégia da FAO sobre as alterações climáticas e também trabalhamos com governos, agricultores e indústria neste programa”, disse ela. “Não podemos ignorar os principais intervenientes do setor, mas não tem havido nenhuma pressão particular por parte deles.”

Segundo ela, a metodologia do novo relatório produziu números mais precisos porque “temos acesso a melhores dados e ferramentas e os cálculos do IPCC para as emissões também estão a ser melhorados e atualizados regularmente”.

Por outro lado, um artigo recente de Matthew Hayek, professor assistente de ciências ambientais na Universidade de Nova Iorque, afirma que a utilização de modelos pela FAO – em vez de dados de monitorização verificáveis ​​– poderia subestimar as emissões de metano provenientes do gado em até 90% em países como os EUA. “Os modelos são apenas estimativas que precisam de ser constantemente validadas – e tem havido uma alarmante falta de validação ao longo das últimas décadas em que esta investigação [da FAO] foi produzida”, disse.

Fonte: Um Só Planeta

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