EnglishEspañolPortuguês

MAUS-TRATOS

Investigação expõe animais sendo transportado em condições péssimas pela Europa

Animais presos em caminhões por meses e aplicação desigual das regras de bem-estar animal da União Europeia são denunciados

1 de janeiro de 2025
Júlia Zanluchi
3 min. de leitura
A-
A+
Foto: Leitenberger S/Andia/Universal Images Group via Getty Images

Durante o mês de dezembro, o Comitê de Transporte e Turismo (TRAN) e o Comitê de Agricultura e Desenvolvimento Rural (AGRI) do Parlamento Europeu realizaram uma reunião conjunta para discutir a proposta da Comissão Europeia sobre a proteção de animais durante o transporte e operações relacionadas.

A proposta inclui medidas como a limitação do tempo de viagem, mais pausas para descanso, aumento do espaço durante o transporte, melhorias nas condições para exportação para países fora da UE e novas normas para o transporte em temperaturas extremas, tanto altas quanto baixas.

Jo Swabe, Diretora Sênior de Assuntos Públicos da Humane Society International (HSI)/Europa, elogiou o avanço em direção à maior proteção animal, destacando que a legislação atual está desatualizada e causa sofrimento. Ela defende que as regras sejam alinhadas com a ciência atual sobre bem-estar animal.

“Também é crucial incorporar avanços tecnológicos, como rastreamento por GPS e digitalização de sistemas, para monitorar o tempo de viagem e garantir rastreabilidade. Isso é essencial, especialmente para evitar a disseminação de doenças infecciosas quando animais cruzam fronteiras,” afirmou Swabe.

Swabe também observou a influência de lobbies da indústria na discussão, com narrativas repetidas sobre aumento de emissões devido ao maior espaço para os animais e a suposta necessidade de mais caminhões.

Grupos de direitos animais defendem o fim das exportações de animais vivos e a realização do abate localmente. No Reino Unido, por exemplo, foi aprovada uma lei que proíbe a exportação de animais vivos para abate ou engorda. Poderia a UE seguir o mesmo caminho?

A diretora ressaltou que a Comissão Europeia reconheceu a preferência por um comércio baseado apenas em carcaças, o que poderia gerar empregos locais ao estimular o abate regional e a exportação de carne, ao invés de animais vivos.

No entanto, críticos como Daniel Buda, vice-presidente do Comitê AGRI, afirmam que o transporte de animais vivos deve continuar, argumentando que ele é essencial para a reprodução e a sobrevivência econômica dos agricultores. Segundo ele, o foco deveria estar no desenvolvimento de uma rede de abatedouros locais, mas essa iniciativa exigiria financiamento da União Europeia.

O sofrimento nas fronteiras

Alguns dos piores casos de sofrimento animal ocorrem nas fronteiras da UE, como na fronteira Bulgária/Turquia. Em setembro, 69 vacas jovens grávidas da Alemanha foram barradas na fronteira turca por virem de uma área com febre catarral. Elas ficaram presas em caminhões por mais de um mês, resultando em mortes de 13 bezerros e 8 vacas, além de casos de animais que não conseguiam mais se levantar, vivendo entre carcaças.

Helena Bauer, gerente de projeto da Animals’ Angels, criticou a priorização das exigências de saúde animal em detrimento do bem-estar. Após o incidente, outros caminhões da Polônia e da Romênia enfrentaram condições semelhantes, resultando em mais mortes.

O futuro do transporte de animais na UE

Embora Buda defenda que o Regulamento 1/2005 garante os “mais altos padrões de bem-estar no mundo”, ele reconhece que sua aplicação é desigual e que a fiscalização precisa ser fortalecida. Ele também destacou a importância de prevenir crises, reduzir a burocracia e garantir padrões consistentes de bem-estar, dentro e fora da UE.

Os eventos recentes deixam claro que mudanças são urgentes. O sofrimento enfrentado por esses animais evidencia que o status quo não é suficiente. A reforma é imprescindível.

    Você viu?

    Ir para o topo