Depois de se cumprimentarem, os jovens mostram a sua carga oculta: 16 jacarés vivos. Os animais, que mediam entre oito pés, foram empilhados e tiveram as bocas e membros colados para evitar que se movimentassem e Blackledge os comprou por US$ 1.600.
Os vendedores dos jacarés não sabiam, mas Blackledge tinha era um investigador disfarçado: seu nome verdadeiro era Jeff Babauta e foi enviado pela Comissão de Proteção de Pesca e Vida Selvagem da Flórida (FWC), nos EUA, para prender os caçadores de jacarés. Ele se tornou uma figura confiável, comprando e vendendo centenas de jacarés mas, simultaneamente, rastreando secretamente os criminosos.
Durante a operação “Sequestradores de Jacarés”, foram realizadas nove prisões e os caçadores receberam diversas acusações. Depois de uma das operações secretas mais longas e ambiciosas da agência, o Estado até fez acusações de extorsão contra quatro dos homens.
Esses casos denunciam a caça subterrânea de jacarés do estado. Quase metade dos caçadores agora ficará presa durante décadas devido à investigação.
Ao longo dos anos, os ovos de jacarés foram vendidos por mais de US$ 60 enquanto suas peles foram comercializadas por até US$ 40 por um pé. Apenas em 2015, as 17 fazendas de jacarés ativas da Flórida comercializaram US$ 6,8 milhões em peles e US$ 1,7 milhão em carne dos animais.
Os dados não incluem as vendas não registradas, que ocorrem desenfreadamente porque é impossível registrar todos os jacarés e ninhos na região.
A indústria em expansão evoluiu tanto que até mesmo alguns dos réus dizem que a investigação estava muito atrasada. “Se eles tivessem mantido a operação em segredo, acho que teriam capturado mais pessoas. Não acredito que eles realmente chegaram à superfície do que está acontecendo”, afirmou Wayne Nichols, um guia de safári da vida selvagem de 42 anos.
Robert Albritton, Matthew Evors e Wayne Nichols estão entre os nove réus que enfrentam acusações criminais depois que a FWC enviou uma equipe secreta para uma fazenda falsa de jacarés no Sudoeste da Flórida.
Os moradores da região que cresceram ao lado de jacarés como Nichols mostram certa reverência pelos animais pré-históricos, cujos ancestrais existem há pelo menos 200 milhões de anos. A população nativa do estado vivia com os animais do pântano, que foram assassinados para a alimentação e tinham os dentes utilizados como joias, revela a reportagem do Miami News Times.
Porém, conforme os colonizadores europeus popularizaram a caça de jacarés nos anos 1800, as populações tiveram uma queda abrupta de um século antes de fazerem uma das maiores recuperações de qualquer espécie em extinção da história norte-americana.
Inicialmente, os colonos europeus matavam jacarés porque os consideravam perigosos e uma ameaça aos bois e vacas. Mas, em meados dos anos 1800, os caçadores começaram a matá-los pela moda. Por volta de 1855, os estilistas franceses começaram a usar peles de jacaré para produzir bolsas e sapatos.
Em apenas um século, os caçadores da Flórida mataram cerca de 10 milhões de jacarés. Na década de 1950, o número total de animais nos Estados Unidos diminuiu para apenas 100 mil.
Temendo que a população nunca se recuperasse, a Flórida proibiu a matança em 1962. Cinco anos depois, as autoridades federais seguiram o exemplo, classificando os jacarés como um animal ameaçado.
Em poucos anos, as espécies haviam feito uma recuperação tão boa que os pântanos estavam repletos de répteis imensos. Oficiais da vida selvagem removeram os jacarés da lista de espécies ameaçadas em 1987, descrevendo o fato como uma das maiores histórias de sucesso da Lei de Espécies Ameaçadas de Extinção.
Quando a Flórida começou a emitir licenças de caça de jacarés no verão seguinte ocorreram protestos. Os críticos disseram que era inconcebível transformar a vida selvagem do estado em uma mercadoria econômica. Porém, os assassinatos continuaram. Em 1993, a Flórida estava produzindo mais peles e carne de jacarés do que qualquer outro lugar do país.
A caçada anual de jacarés da Flórida – em breve na sua 30ª temporada – ainda ocorre todos os anos de Agosto a Novembro. De acordo com os regulamentos estaduais, os animais podem ser mortos com arcos e flechas, armas de lança, varas de pesca e arpões. Os caçadores não podem usar armas de fogo, a menos que seja um dispositivo chamado bang stick, que dispara um projétil na medula espinhal e cérebro do animal, causando a morte instantânea.
Cada uma das seis mil públicas de caça do estado tem duas marcas para a captura de dois jacarés e estabelece um limite de 20 jacarés por pessoa.
Na realidade, enquanto a operação estava em andamento, o mercado estava tão ativo que algumas empresas até foram vítimas de roubos. Em 2015, criminosos invadiram Gatorama, uma fazenda de jacarés de 60 anos e uma atração turística no Oeste do lago Okeechobee.
Eles levaram 1.100 ovos de jacaré no valor de US$ 66 mil. O proprietário Allen Register diz que os ovos também foram roubados de cerca de 150 dos 600 ninhos de jacaré que ele foi autorizado a manter em torno do lago.
A carne de jacaré tornou-se uma novidade em restaurantes em todo o Sul. De 2013 a 2015, o preço dobrou para US$ 8,75 por libra no mercado e os caçadores não conseguiam atender a demanda. O mercado de peles poderia ser ainda mais lucrativo, mas era claramente volátil, pois dependia da demanda dos estilistas europeus. As peles de jacaré poderiam ser vendidas qualquer lugar por um valor entre US$ 20 e US$ 40 por pé.
Em geral, os investigadores argumentam que a operação longa e onerosa valeu a pena. O caso terá um impacto internacional, apontam. “Espero que esteja muito claro para qualquer um que esteja caçando jacarés, que está caçando ovos: não irá valer a pena”, diz o promotor Nick Cox.