Quando as águas da inundação varreram as estradas dentro e fora da pequena cidade de Tricia Thorpe, na província canadense da Colúmbia Britânica, não havia meios de entrar ou sair por dias. Por um tempo, parecia que a rodovia fora de sua propriedade também seria destruída.
“Minha filha mais velha pensou que eu iria enlouquecer quando não havia acesso rodoviário para fora,” disse Thorpe, que vive em na pequena comunidade de Lytton no oeste montanhoso do Canadá, a quase 185 milhas (300km) a nordeste de Vancouver via estrada.
“Mas já passamos por tanto que às vezes você já está meio entorpecido ao que irá acontecer depois.”
Ela tem boas razões para ser emocional – as inundações devastadoras chegaram apenas quatro meses após grande parte de sua cidade ter sido queimada durante uma das piores temporadas de incêndios na história da província. Sua própria casa e sua fazenda foram completamente destruídas pelas chamas em julho. Thorpe passou semanas em um abrigo e voltou para descobrir que os restos de alguns dos animais que morreram queimados ainda estavam na propriedade.
Thorpe é apenas uma de centenas de milhares de pessoas no oeste do Canadá que estão se acostumando aos desastres naturais catastróficos no verão e no inverno, à medida que os efeitos das mudanças climáticas levam os eventos que ocorrem “uma vez a cada 100 anos” a acontecerem com uma frequência muito maior.
Três dos piores anos de incêndios na Colúmbia Britânica ocorreram nos últimos quatro anos, e as grandes inundações e deslizamentos na semana passada ocorreram após o volume de aproximadamente um mês de chuva ter caído em uma questão de dias, ocasionando deslizamentos que destruíram casas e estradas.
Pelo menos quatro pessoas morreram e cerca de 18.000 estavam isoladas após todas as principais estradas conectando Vancouver para o resto do país foram bloqueadas por pontes destruídas e pontos de deslizamentos perigosos.
Após toda a destruição nos anos recentes, Thorpe estava preparada para cuidar de si mesma. Ela tinha comida, água e combustível extras para aguentar por dias, e considerava-se sortuda por sua nova casa não ter sido uma das muitas que foram danificadas ou completamente destruídas nas inundações.
“Nós estávamos desconectados do resto do mundo,” disse Thorpe
Outros nas cidades montanhosas da região foram ainda menos afortunados. Cerca de 30 milhas a leste, a cidade de Merritt enfrentou uma severa inundação quando o rio que corre pela comunidade transbordou e atingiu ruas inteiras e casas.
O conselheiro da cidade Mike Bhangu disse que o rio parecia ter talhado um novo caminho pela cidade, criando uma ilha isolada onde algumas casas e terras existiam. Ele disse que a força da água foi severa o suficiente para que surgissem algumas conversas de simplesmente deixar o novo curso do rio continuar e construir ao redor da mudança.
A cidade de 7.000 pessoas continua sob ordem de evacuação após as inundações causarem a falha dos sistemas de tratamento de água, e o governo local alertou os residentes a não beberem água da torneira mesmo depois de fervida.
Embora Merritt não tenha sido atingida por incêndios durante os incêndios de verão, Bhangu disse que seus habitantes sofreram com a espessa fumaça que cobriu os céus, e com o calor extremo que atingiu 44,5°C no pico de uma onda de calor. Tiveram alguns tempos intensos nos quais a cidade foi colocada sob alerta de evacuação, e as pessoas estavam preocupadas em perder seus lares para as chamas.
As inundações vieram quando muitos na cidade ainda estavam sofrendo com as consequências emocionais das chamas do verão.
“Eu não acho que tivemos a oportunidade de processar a temporada de incêndios,” disse Bhangu, quem agora está evacuado para uma cidade próxima após as inundações terem atingido sua cidade. “Leva um tempo após um evento para compreender o que você passou, e as pessoas não tiveram a oportunidade para isso. É emocional, é estressante.”
O impacto da chuva torrencial tem sido generalizado. Vancouver, que encontra-se em um vale que afunila para um terreno montanhoso, tem efetivamente sido desligada do resto do Canadá, com acesso rodoviário possível apenas por um desvio pelos Estados Unidos. A mídia local reportou compras de pânico que deixou corredores de produtos vazios, e o governo provincial está limitando a venda de petróleo em regiões próximas aos deslizamentos após uma tubulação de gás ter sido danificada pela tempestade.
Nienke Klaver e Edward Staples, que vivem perto da cidade de Princeton na Colúmbia Britânica, também foram separados quando a cidade inundou e as estradas foram bloqueadas pelos deslizamentos. Sua casa escapou da inundação pois está em um terreno elevado, mas eles estão se preparando para semanas ajudando seus amigos menos afortunados.
Após um verão ficando dentro de casa para proteger seus pulmões da espessa fumaça, Staples disse que está triste de ver a perda da comunidade tão cedo após o incêndio. “É de partir o coração, eu me sinto sufocado em pensar nisso,” disse Staples. “Essas são pessoas reais que perderam tudo e levará meses ou anos para colocarem suas vidas em ordem.”
Staples e outros expressaram um senso de determinação para construir a comunidade de volta de maneira a protegerem-se melhor dos desastres naturais frequentes.
De volta à Lytton, Thorpe disse que o senso de comunidade é o que a manteve na cidade, apesar os terríveis eventos ao longo do último ano. Voluntários da comunidade juntaram-se para limpar sua propriedade e construir uma nova casa após o incêndio do verão, e ela disse que a comunidade irá superar essas inundações em conjunto também.
“As pessoas têm sido muito resilientes. Aqui é onde pertencemos, eles são família,” disse Thorpe.