Entre setembro e outubro, o lago Catalina, no leste da Groenlândia, liberou 3,4 quilômetros cúbicos (o equivalente a 3 bilhões de litros) de água — o que corresponde a três vezes o consumo de água anual da Dinamarca.
Registrado pela primeira vez em tempo real por satélites, o evento está entre as três maiores inundações glaciais já documentadas, conforme divulgou na quarta-feira (11/12) a Universidade de Copenhague, na Dinamarca.
O lago, represado pelo glaciar Edward Bailey, acumulou água ao longo de 20 anos. Eventualmente, o volume crescente ergueu o glaciar, escavando um túnel de 25 quilômetros que levou à inundação no maior fiorde do mundo, o Scoresby Sound.
Eventos como esse são conhecidos como inundações de lagos glaciais (GLOF, na sigla em inglês) e têm se tornado mais frequentes devido às mudanças climáticas. Embora este caso não tenha causado danos devido à baixa densidade populacional da Groenlândia, 15 milhões de pessoas em todo o mundo vivem sob a ameaça de inundações glaciais, segundo estudo publicado na revista Nature em 2023.
Na animação a seguir, é possível ver o nível de água baixando 154 metros. Em comparação, a Torre Eiffel tem 324 metros de altura.
Oportunidade energética
A energia liberada pelo evento foi comparável à produção da maior usina nuclear do mundo, operando a plena capacidade, por 22 dias. Apesar desse potencial energético, a infraestrutura na Groenlândia é insuficiente para aproveitar fenômenos desse tipo.
“O perigo de lagos represados por geleiras aumenta com o aquecimento global. Precisamos entender melhor esses fenômenos para emitir alertas antecipados em áreas de risco”, afirmou Aslak Grinsted, pesquisador do Instituto Niels Bohr, da Universidade de Copenhague, em comunicado. “Se engenheiros brilhantes encontrarem formas de aproveitar essas liberações de água, há um enorme potencial de energia sustentável.”