Em janeiro, enchentes severas causadas por dois ciclones danificaram gravemente o Centro de Tartarugas Lavavolo, em Itampolo, localizado em Ampanihy, na costa sudoeste de Madagascar. O centro é administrado pela Turtle Survival Alliance (TSA) e é dedicado ao cuidado de tartarugas resgatadas.
As tartarugas-radiadas (Astrochelys radiata) e as tartarugas-aranha (Pyxis arachnoides), ambas espécies criticamente ameaçadas e nativas das regiões do sul de Madagascar, são frequentemente alvo de traficantes locais e internacionais. A equipe da TSA tem trabalhado há anos para protegê-las — e agora enfrenta a ameaça dupla do tráfico e dos eventos climáticos extremos causados pelas mudanças climáticas.
A região normalmente recebe pouca chuva, mas em janeiro enfrentou chuvas torrenciais que mataram mais de 800 tartarugas e causaram danos estimados em US$ 150.000 à propriedade e à infraestrutura.
“As enchentes anteriores mal chegavam ao tornozelo. Este ano, a água subiu até 180 centímetros [6 pés], engolindo metade do recinto das tartarugas em 24 horas”, disse Hery Razafimamonjiraibe, diretor da TSA em Madagascar, ao Mongabay. As áreas afetadas incluíram também as casas dos funcionários, pontos de acesso e diversas outras instalações.
A maioria das tartarugas morreu por asfixia. “Elas se abrigaram sob estruturas cobertas no recinto, mas ficaram presas ali. Outros animais já estavam em condições precárias, pois haviam sido resgatados apenas alguns dias antes do clima devastador. Eles ainda estavam exaustos quando as primeiras ondas atingiram”, explicou Tsanta Fiderana Rakotonanahary, chefe de suporte veterinário da TSA.
“Tivemos que definir prioridades. A segurança dos funcionários veio primeiro, seguida pelo resgate dos animais. Mobilizamos nossos recursos disponíveis para salvar o máximo de animais possível”, disse Rakotonanahary.
As estruturas de sombra foram rapidamente desmontadas para que flutuassem e servissem como balsas para os animais resgatados. Mais de 10.000 tartarugas sobreviveram e foram transportadas para terrenos mais altos. “Os menores e mais jovens foram levados primeiro, pois corriam maior risco de serem levados pela correnteza. Isso também permitiu que os socorristas transportassem mais animais de uma só vez”, afirmou Rakotonanahary.
O local de Lavavolo é dominado por um penhasco de calcário que margeia o Planalto Mahafaly e tem vista para o Oceano Índico. O santuário, de gestão privada, está situado em uma planície entre o penhasco e o mar, um local ideal para as tartarugas viverem em seu habitat natural. “Muitas tartarugas selvagens vivem ao redor do refúgio e no topo do penhasco”, disse Rakotonanahary.
Vários agentes da lei e voluntários locais ajudaram nos esforços de resgate em janeiro. Depois que as tartarugas encharcadas foram colocadas em segurança e as águas começaram a recuar, a próxima prioridade foi a alimentação. “Os moradores locais nos ajudaram muito a alimentá-las. Foram fornecidos entre 2.000 e 2.500 quilos [4.400-5.500 libras] de vegetais frescos por dia”, afirmou Rakotonanahary.
“Em nenhuma circunstância a alimentação poderia ser negligenciada, pois era essencial para a recuperação delas após o enorme estresse que haviam acabado de sofrer”, acrescentou. Enquanto as tartarugas eram alimentadas, uma equipe de veterinários foi enviada para examinar os animais feridos pela enchente.
Reconstrução ainda este ano
A TSA afirma que deseja reconstruir a infraestrutura danificada em breve, mas realizar qualquer obra significativa no local antes do final da estação chuvosa, entre abril e maio, é muito arriscado. Isso significa que a organização não poderá devolver as tartarugas sobreviventes às áreas suscetíveis a inundações do recinto até mais tarde no ano.
Vários locais temporários no Planalto Mahafaly foram identificados e preparados para manter os répteis em segurança enquanto o santuário de conservação estiver fora de operação. “As menores serão realocadas para o nosso centro de conservação de tartarugas em Tsihombe Androy [um distrito próximo]”, disse Razafimamonjiraibe.
A realocação tem o objetivo de reduzir a pressão de abrigar tantas tartarugas em Lavavolo enquanto o local se recupera das enchentes. A reintrodução dos animais na natureza continua sendo uma prioridade.
Em janeiro, engenheiros ainda estavam avaliando como drenar as águas das áreas baixas do centro de conservação. O plano é reconstruir a infraestrutura do local para melhor resistir a futuras condições climáticas adversas.
Traduzido de Mongabay