Pela primeira vez, o nascimento de um cagarro, ave emblemática dos Açores, Portugal, e com estatuto de Vulnerável, foi acompanhado em tempo real pela Internet, a 24 de Julho, graças a uma câmara de vídeo instalada por ornitólogos num ninho na Ilha do Corvo.
O casal de cagarros (Calonectris diomedea) pôs o ovo a 1 de Junho e, a 24 de Julho, nasceu o filhote, um processo seguido em tempo real na Internet, no âmbito de um projecto da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (Spea).
Para os próximos tempos, “é de esperar elevada atividade no ninho durante a noite, pois a cria necessita de ser alimentada com frequência nos primeiros dias”, explica a organização em comunicado. Depois, a cria “irá permanecer sozinha no ninho, enquanto os pais passarão o tempo no mar a pescar para a alimentar e para recuperar forças depois do longo período de incubação”.
Desde o final de Maio que uma câmara de vídeo capta em direto os movimentos deste casal de cagarros no ninho. O site que disponibiliza as imagens já teve mais de 15 mil visitas de cerca de 70 países.
Esta iniciativa de divulgação faz parte do projeto “Ilhas Santuário para Aves Marinhas”, através do qual a Spea e a Secretaria Regional de Ambiente e do Mar estão a recuperar o habitat para uma série de espécies da avifauna.
“Chega a ser emocionante quando, ao final de cada dia víamos o ovo em perfeitas condições e, agora, um filhote com ótima saúde. Parece-me que é uma ótima forma de sensibilizar as pessoas para o interesse e, também, fragilidade destas aves”, afirmou Pedro Geraldes, coordenador do projeto.
“O cagarro é uma espécie de estatuto vulnerável que surge como exemplo dos variados problemas que afectam as aves marinhas e as tornam no grupo de aves mais ameaçadas do mundo. Nos Açores, nidifica a grande maioria da população mundial desta ave e, também por isso, Portugal tem responsabilidades acrescidas na sua proteção”, explica a Spea.
Frederico Cardigos, director regional dos Assuntos do Mar dos Açores, disse que “estas aves são muitíssimo estimadas nos Açores. Assim se explica que, desde há duas décadas, se salvem milhares de cagarros todos os anos no nosso arquipélago, durante a “Campanha SOS Cagarro”. A campanha, que decorre desde 1995, quer “envolver as pessoas e entidades no salvamento dos cagarros juvenis encontrados junto às estradas” quando estes saem dos ninhos para o primeiro voo transoceânico, nos meses de Outubro e Novembro.
Segundo o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal, o cagarro nidifica em cavidades naturais no solo e em fendas nas rochas. As maiores ameaças à espécie são a elevada pressão turística e a degradação do habitat, especialmente por causa da erosão. Além disso, a espécie é muito sensível aos predadores.
Fonte: Ecosfera