O debate sobre os benefícios e riscos da inteligência artificial (IA) deixou de ser tema exclusivo da ficção científica e entrou na realidade à medida que a tecnologia se torna cada vez mais presente. No campo dos direitos animais, a IA pode tanto intensificar a exploração dos animais quanto contribuir para sua libertação.
Sam Tucker, fundador da organização Open Paws, alerta para os perigos do uso da IA pela indústria da carne, que busca utilizar essa tecnologia para tornar o confinamento e a mortr de bilhões de animais mais eficientes e lucrativos. Por outro lado, ele acredita que defensores dos direitos animais podem aproveitar a IA para ampliar seus recursos e fortalecer suas campanhas.
“O futuro da IA está em uma encruzilhada — ela pode ser usada para prejudicar animais na criação intensiva ou para ajudá-los, com uma defesa mais poderosa”, afirmou Tucker à Plant Based News. Ele defende que, com o poder persuasivo crescente da IA, é essencial direcionar essa tecnologia para promover o bem-estar animal.
Tucker tem como objetivo dificultar o uso da IA na criação industrial, ao mesmo tempo em que capacita organizações de proteção animal a utilizarem essa ferramenta para fortalecer suas iniciativas.
IA na pecuária: promessa ou ameaça?
A IA já está presente na pecuária, sendo usada para localizar animais, monitorar a saúde e controlar as condições ambientais nas fazendas. Embora se argumente que a IA pode melhorar o bem-estar dos animais ao alertar sobre doenças e minimizar o contato humano, que é fonte de estresse para os animais, críticos apontam que essa tecnologia também pode maquiar as piores práticas de criação intensiva, como o uso de gaiolas “inteligentes”.
Além disso, a IA pode aumentar a eficiência no abate de animais, beneficiando financeiramente a indústria da carne. Empresas como a Atarraya, que desenvolve fazendas de camarão alimentadas por IA, e a Meyn, que automatiza o abate de frangos, estão entre as que apostam na tecnologia para otimizar a produção. No entanto, críticos como Lewis Bollard, da Open Philanthropy, questionam se uma indústria que muitas vezes negligencia até mesmo o básico do bem-estar animal realmente investiria em melhorias significativas por meio da IA.
IA a favor dos direitos animais
Tucker acredita que a IA também pode ser uma aliada na luta pelos direitos animais. Defensores podem utilizá-la para otimizar campanhas, melhorar pesquisas e expandir seu alcance. Empresas de proteínas alternativas já estão explorando a IA para reduzir custos, tornando seus produtos mais acessíveis e competitivos em relação à carne animal.
A Open Paws oferece suporte para que instituições de caridade animal aproveitem as capacidades da IA em suas defesas. Uma das ferramentas desenvolvidas por Tucker é o VEG3, uma versão vegana do ChatGPT, projetada para automatizar tarefas e liberar tempo para ações mais estratégicas.
Além disso, Tucker ressalta a importância de influenciar o desenvolvimento de modelos de IA para que sejam mais favoráveis aos animais, alertando sobre o risco de a tecnologia reforçar o especismo e a violência contra os animais, especialmente no contexto agrícola.
Enfraquecendo o domínio da indústria da carne
Tucker também defende que é crucial pressionar por restrições ao uso de IA na pecuária industrial. Entre as propostas está a proibição do uso da tecnologia para aumentar a densidade de animais confinados e a exigência de transparência por parte das empresas sobre como problemas de bem-estar identificados pela IA estão sendo tratados.
Embora a indústria da carne tenha grande poder, Tucker acredita que os defensores dos direitos animais têm algumas vantagens, como a possibilidade de compartilhar dados de forma aberta, em contraste com o sigilo da indústria. Ele também destaca que o combate ao especismo é uma questão de justiça, pois essa discriminação está associada a outros tipos de preconceito contra humanos.
“Devemos agir agora para impedir a adoção generalizada da IA na pecuária industrial, que pode aumentar o sofrimento animal a níveis inimagináveis”, alerta Tucker. Ele sugere a construção de coalizões com sindicatos, ambientalistas e pequenos agricultores para resistir ao uso de IA na criação animal e redirecionar o progresso tecnológico para um sistema alimentar mais compassivo e sustentável.