Depois que a Índia anunciou o fim aos testes da indústria de cosméticos em animais, a discussão ressurge, agora, em torno dos testes em investigações médicas. Enquanto defensores dos direitos dos animais repudiam os testes de laboratório realizados em porquinhos-da-índia, camundongos, coelhos e macacos, afirmando que são cruéis e inúteis, os cientistas argumentam que, sem eles, os avanços da medicina seriam fortemente prejudicados. Mas em meio a esse embate, o National Institutes of Health (NIH), nos Estados Unidos, anunciou que vai deixar de usar chimpanzés em quase toda a sua pesquisa médica governamental.
O resultado da decisão, aguardada há vários anos por grupos de defesa dos animais, será a liberdade de 310 chimpanzés que são mantidos em gaiolas de laboratório durante quase toda a vida. Agora eles vão viver o resto dos seus dias em refúgios que imitam o habitat natural.
Para os pesquisadores, já não se justificava o uso de chimpanzés na investigação médica invasiva. “Os americanos têm-se aproveitado imensamente dos chimpanzés para a investigação biomédica, mas os novos métodos e tecnologias científicas tornaram a sua utilização em grande parte desnecessária”, disse em comunicado Francis Collins, diretor do NIH.
“Após uma extensa consideração com a orientação de especialistas, estou confiante de que reduzir o seu uso (dos chimpanzés) em pesquisas biomédicas é a coisa certa a fazer”, ressaltou.
A organização admite que 50 animais continuarão a serviço de estudos médicos importantes que não podem ser realizados de outra forma.
Nos EUA, mais de 100 faculdades de Medicina (70%) não utilizam animais vivos nas aulas práticas, e no Canadá, desde 2010, as universidades estão proibidas de usar animais para qualquer tipo de teste.
A exceção
No Brasil, foi aprovada em 2008 a Lei Arouca, que regulamenta o uso de animais em experimentos científicos. No entanto, o uso indiscriminado em bichos das mais variadas espécies continua legalizado no nosso país.
A Humane Society International (HSI), uma das mais importantes organizações de proteção animal no mundo, tem pressionado o governo brasileiro a também proibir os testes em animais. A extinção dos experimentos na Índia para fins da indústria de cosméticos foi uma das lutas da instituição.
A bióloga e pesquisadora, Camila Reis, concorda que existem métodos eficientes que possam minimizar o uso de animais nas pesquisas científicas, mas ela afirma que infelizmente ainda existem estudos no qual a utilização dos animais é indispensável.
“Acredito que existem casos em que o desenvolvimento de medicamentos depende sim de testes em animais. Por exemplo, muitos estudos já comprovam que as respostas imunológicas dos camundongos são muito mais semelhantes às dos humanos que as de macacos. Diversas vacinas e medicamentos foram desenvolvidos graças a isto e acho muita hipocrisia defendermos qualquer coisa que seja sem olhar o outro lado.”
Mas ela lembra que atualmente existe uma procura por formas alternativas que possam retirar ou ao menos minimizar o uso de animais nos experimentos.
Fonte: Ibahia
Nota da Redação: Reduzir o número de animais não diminui a dor e o sofrimento dos indivíduos que continuarão sendo submetidos aos testes, obrigados a viverem encarcerados, privados de qualquer liberdade e autonomia. Esta medida não muda o status de “objeto de pesquisa” atribuído pela ciência aos chimpanzés e outros animais vítimas em laboratórios.