Sou policial rodoviário federal há 20 anos e participei dezenas de vezes das famosas apreensões de animais silvestres que a PRF realiza com uma certa frequência – combate ao tráfico de fauna. Infelizmente, aquelas cenas grotescas com centenas animais espremidos em caixas imundas, sem alimentação e água, onde grande parte já está morta, é uma realidade.
Garanto que não tem como se acostumar com esse tipo de ocorrência, em que o ser humano mostra total desprezo às vidas dos animais e se torna um ser repugnante.
Porém, continuamos a realizar esse trabalho. A PRF consegue retirar dezenas de milhares de animais silvestres das mãos dessas organizações criminosas e entregá-los vivos aos centros de triagem e reabilitação de fauna (Cetas, Cras e Cetras) e ONGs de todo o Brasil, para que se recuperem e com o devido tempo sejam reintegrados ao meio ambiente.
Sabemos que é extremamente trabalhoso receber esses animais, recuperá-los e desenvolvê-los, quando possível, à natureza. Projetos de reintrodução e os centros de animais silvestres federais, estaduais e municipais sempre precisam de apoio para essa nobre missão.
Por isso, a Polícia Rodoviária Federal vem conseguindo atender, quando possível, às solicitações de instituições e ONGs que precisam desse apoio. É o caso das escoltas para o Santuário de Elefantes Brasil (SEB), em que a PRF conseguiu participar de todas as transferências desses animais enormes que estão indo viver livre no santuário no Mato Grosso.
Também participamos das escoltas das ararinhas-azuis, auxiliando o ICMBio e o zoológico de São Paulo nesse lindo projeto para não deixar a espécie ser extinta e viabilizar a reintrodução desse magnífico psitacídeo no sertão nordestino.
Também conseguimos realizar o transporte de animais silvestres endêmicos para Cetas que funcionam na região do bioma nativo do animal, pode que possam realizar a soltura. Parece pouco no longo processo de recepção, tratamento, reabilitação, treinamento e soltura, porém é uma ação necessária e fundamental para que o ciclo de retorno da fauna silvestre à vida livre aconteça.
Nesta reflexão, lembramos que na luta contra o tráfico de animais silvestres, em que o Brasil vergonhosamente ocupa uma posição de destaque mundial, percebemos ser possível que as instituições públicas consigam um relacionamento mais maduro e integrado para que pequenas faltas sejam absorvidas e o sistema para a reintrodução da fauna funcione.
A construção de uma rede ambiental é necessária. O meio ambiente não pode ficar à mercê da burocracia e vítima de atribuições institucionais desatualizadas e ultrapassadas.
Fonte: Fauna News