Fátima ChuEcco/Redação ANDA – Agência de Notícias de Direitos Animais
Uma história bem contada, uma foto bem tirada e uma adoção bem encaminhada. Essa é a receita do projeto O Lobo Alfa para protetores independentes ou ONGs conseguirem lares definitivos e, especialmente, adequados para os cães, gatos e outros animais resgatados. O Lobo Alfa tem 10 anos de existência e um site muito interessante, bem ilustrado e organizado que pode servir de inspiração para muitos protetores de animais.
Não funciona como ONG, não tem sede e nem abrigo, mas divulga histórias comoventes de animais que precisam de um lar em todo o Brasil. “O nosso site foi criado com o propósito de divulgar animais para adoção, ajudando a outros protetores e a ONGs de Minas Gerais. Posteriormente foi reformulado e hoje conta com 10 portais, que cobrem todo o território brasileiro, sendo os mais acessados o de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul”, diz Crispim Zuim, um dos membros do projeto.
“A ideia de um site de histórias surgiu depois de um anúncio que fizemos de um cachorro que havia sido jogado na rua pelos filhos de sua tutora, após o falecimento dela. Ele viveu meses pelas ruas, foi atropelado duas vezes e se curou sozinho, ficando com sequelas. Foi resgatado após o último atropelamento. Depois dessa história bem dramática, recebemos aproximadamente 50 telefonemas. Alguns queriam adotar e outros queriam apenas ter notícias dele”, conta.
A história bem contada resultou na adoção do sofrido cãozinho, mas também ajudou outros animais que estavam na fila de adoção: “Este cãozinho em especial foi rapidamente adotado e, como de costume, tentamos aproveitar o interesse para tentar `vender outros peixes` aos pretendentes. Conseguimos doar 10 cães na carona de apenas uma história bem contada. O mais curioso é que muitos daqueles pretendentes disseram que não estavam interessados em adoção porque já tinham outros cães em casa, mas haviam sido tocados tão fortemente por aquela história que resolveram abrir vaga para mais um animal em suas vidas. Entendemos, naquele episódio, que uma boa história poderia fazer muito mais que apenas dar uma segunda chance ao seu protagonista. Ela teria o poder de despertar e sensibilizar as pessoas para outros casos”.
O perigoso resgate por impulso
Crispim explica que um dos objetivos de O Lobo Alfa é também orientar os protetores de primeira viagem que, muitas vezes, resgatam sem estarem psicologicamente ou financeiramente preparados para essa tarefa. “Quem resgata pela primeira vez, às vezes, age no impulso e não tem apoio dos familiares e nem sobras no orçamento para assumir um animal necessitado de cuidados médicos. Então, se esta pessoa encontrar apoio e tiver ajuda num anúncio ou post para doação ou apadrinhamento daquele animal, ela se sentirá estimulada a novos resgates. Teremos aí despertado mais um protetor de animais. Se, ao contrário, essa pessoa não tiver apoio e o resgate se tornar um problema, terá sido o primeiro e último. E aí teremos perdido a oportunidade de ter mais um protetor nas ruas”.
Segundo Crispim, outro ponto a se considerar é que, “quando alguém adota um cão conhecendo a sua história, suas dores e sofrimentos, entenderá o tamanho da responsabilidade que assumiu”, daí a importância de contar bem a trajetória do animal. Ele acredita que quem adota apenas por compaixão pode se arrepender depois: “A experiência mostra que é só uma questão de tempo para recebermos de antigos adotantes, pedido de anúncio de seu resgatado por motivo de compaixão sem estar de fato comprometido com aquele animal”.
Santuário Vale dos Sonhos
Há dois anos o Projeto O Lobo Alfa abriu mais uma “janela” de atuação com a inauguração do Santuário Vale dos Sonhos – fazenda reflorestada com árvores frutíferas e preparada para receber animais silvestres, além de alguns animais de fazenda resgatados. “Hoje temos o título Asas do Ibama e recebemos animais apreendidos do tráfico. Nós os recebemos, recuperamos e os soltamos, lá mesmo, onde passam a viver. Depois monitoramos os animais já em liberdade, procurando registrar as reintroduções bem- sucedidas, os acasalamentos e o nascimento de filhotes livres”, explica.
Como o objetivo do projeto sempre foi contar histórias com força para sensibilizar possíveis adotantes e ajudar protetores, os animais do Santuário também ganham nomes e têm suas histórias publicadas.
“É preciso explicar que temos ciência do estágio evolutivo de cada espécie. Sabemos que animais silvestres não criam vínculos tão afetivos com humanos e agem mais movidos pelo instinto de sobrevivência e preservação. Entretanto, quando damos um nome a um animal desses e a ele atribuímos características e sentimentos essencialmente humanos, nós os aproximamos das pessoas e criamos empatia. Este tem sido o caminho para despertar e sensibilizar adultos e crianças”, comenta o ativista.
O Santuário não é aberto à visitação por recomendação do IBAMA para evitar ação de traficantes. “Também não divulgamos sua localização. Foi idealizado para produzir apenas histórias e também para fazer a diferença para aquelas vidas que ali chegam. Precisamos manter o local o mais livre possível da presença humana. Só assim os animais terão um ambiente verdadeiramente natural para viver. Temos histórias bem-sucedidas de mamíferos, muitas aves e até de répteis”.
Uma história inspira outra
A história do sabiá-laranjeira batizado de João, velhinho e quase cego, acolhido pelo Santuário, levou os tutores de outro pássaro chamado Cicinho a procurar o Projeto e pedir que libertassem a Patativa que teria nascido em cativeiro e estava há 20 anos na gaiola. Por sua vez, a história da Patativa solitária incentivou duas crianças a também soltarem o Bilico, um passarinho que haviam ganhado do avô. E mais uma história se formou: Cicinho e Bilico, dois pássaros saídos da gaiola, se tornaram amigos e se arriscaram num novo mundo, cercado de natureza, juntos. Emocionante! Cada uma dessas histórias é deliciosamente contada no site do Projeto O Lobo Alfa com muitas fotos. Dariam excelentes livros infanto-juvenis.
O Lobo Alfa está também no Facebook.
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