Meu filho completou oito anos em setembro e pediu um mágico para animar a festa. Minha mãe chamou minha atenção para a possibilidade de ele vir acompanhado de um coelho assustado e pombas com asas amassadas dentro de uma caixa minúscula. Então pedimos que ele viesse sem animais. Entre mágicas e gargalhadas, enquanto eu gravava meu filho rindo encabulado por ser o ajudante da vez, de repente o mágico fez com que aparecesse um coelho encolhido e muito apavorado. Não sabia o que fazer. Olhava para a minha mãe, também sem entender absolutamente nada. Respirei fundo, esperei que o “espetáculo” acabasse para expor o meu descontentamento. O mágico me pediu mil desculpas. Explicou que confundiu a festa sem animais com uma festa que queria o coelho. Fiz um discurso que não adiantou muito. Ele me disse que, sem os animais, não conseguia tantas apresentações. Com certeza, de lá ele foi para outra festa com aquele coelhinho em pânico depois de passar por um monte de mãozinhas meladas e ficar horas em uma gaiola claustrofóbica.
No último final de semana, para relembrar o que senti aquele dia, fui com o meu filho à festa de aniversário da filha de uma amiga muito querida. Dois garotos fizeram a animação da criançada. Gincanas, brincadeiras, palhaçadas, até que um deles se transformou em um mágico. As crianças atentas, olhos fixos na caixa mágica e o que aparece? Pombas batendo suas asas desesperadamente, com as patas presas, sem poder voar. Como se não bastasse, logo em seguida também apareceu um coelho quietinho e de olhos arregalados. E lá foi ele, de mãos em mãos, de colo em colo, ser apalpado das orelhas ao seu rabinho pompom.
Não pude ficar quieta. Quando os animadores estavam indo embora, os chamei muito discretamente e falei: “Vocês estão de parabéns. São ótimos com as crianças e muito engraçados, mas podiam deixar de usar animais.”
O garoto que fez o mágico me disse que, se eu os contratasse, ele não levaria animais para a minha festa. Respondi que não morava na região e que não estava falando de gosto, mas dos direitos dos animais. A resposta foi exatamente a mesma do mágico que contratei: “Sem animais eu não vendo meu trabalho.”
Sem perder a elegância, mesmo querendo espremê-lo em uma caixa muito, mas muito apertada para ver se é bom, eu falei que isso não tinha diferencial nenhum. Sugeri que ele usasse sua criatividade em novas apresentações. Afinal, usar coelho e pombas não é novidade nem para a menor das crianças. Falei que ele era excelente como palhaço, mas como mágico era igual a qualquer outro. Expliquei que usar animais em mágicas era tão criticado quanto animais em circos e zoológicos. Ele tentou argumentar dizendo que os animais não sofrem, que nas caixas há ventilação e espaço suficiente. O questionei: Como você sabe disso? O coelho te falou?
Enfim, ele me disse que eu estava com a razão e que pensaria a respeito. Pode ser que tenha dito isso só para acabar com a conversa. Mas pode ser que, se um dia ele olhar nos olhos daqueles animais, realmente pense diferente.
É triste saber que, por culpa dos adultos, mais uma geração acha graça em bichinhos desolados que saem de cartolas. Essa é mais uma demonstração do quanto banalizamos a vida dos outros animais. E ainda levamos isso às crianças como se fosse diversão.