Criada há dez anos, a Associação Amigos do Peixe-Boi (Ampa) se depara, pela primeira vez, com a superlotação de peixes-bois resgatados.
Nos tanques instalados no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia e mantidos por pesquisadores, existem 52 peixes-bois adultos e filhotes.
Nos tanques do Centro de Preservação e pesquisa em Mamíferos Aquáticos de Balbina, distrito do município de Presidente Figueiredo, são mais 47 peixes-bois, onde há três tanques.
O diretor da Ampa, Jones César Silva admite que a superlotação vai obrigar a instituição de pesquisa a investir na construção de mais tanques e, sobretudo, em medidas que garantam com segurança a reintrodução dos peixes-bois à natureza.
No Amazonas, as instalações mantidas pelo Inpa são as únicas que recebem peixes-bois restados. Os animais são, em geral, encontrados sem a companhia das mães por ribeirinhos e encaminhados para os órgãos ambientais como secretarias de meio ambiente, Batalhão Ambiental e Ibama.
Segundo Silva, a grande preocupação é com o crescimento dos peixes-bois. Os filhotes, devido ao tamanho, são abrigados em piscinas. Mas, na fase adulta, eles precisam ser encaminhados para os tanques.
O projeto de reintroduzir os animais no habitat natural foi efetivado apenas parcialmente.
Quatro animais foram soltos em 2998 e 2009, mas somente dois deles sobreviveram. Um deles, contudo, voltou doente de pneumonia para os tanques do Inpa. Ele estava sendo monitorado, no rio Cueiras, e diante da doença os cientistas decidiram trazê-lo de volta.
É que não basta soltar os peixes-bois na natureza. Criados em águas superficiais e recebendo alimentação diferente do seu habitat, eles precisam ser monitorados por radiotelemetria. No entanto, esta estrutura exige muito recursos. O projeto da Ampa recebe recursos da da Petrobrás.
Recorde
Desde o início do ano, a Ampa já recebeu oito filhotes de peixes-bois. Um deles morreu. Ao longo de 2010, foram 13 no total.
A proveniência dos animais é variada. Somente este ano, três foram resgatados na comunidade ribeirinha Barreira do Andirá, no município de Barreirinha, na calha do baixo rio Amazonas. Um deles chegou ao Inpa nesta semana, bastante debilitado.
Há também animais vindos da zona rural de Manaus e de municípios como Iranduba e Silves, além do Pará.
No Inpa, os atuais 14 filhotes estão acomodados em nove tanques. Os 38 adultos estão em três. Há ainda um tanque só para os machos e outro para as fêmeas, além de um específico para exposição a visitantes. São 333 mil litros de água para cada tanque.
“Antes o nosso grande problema era a mortalidade dos filhotes. A gente diminuir a mortalidade. Agora, tem o crescimento deles”, disse.
Para Silva, a superlotação dos tanques deve-se a dois fatores: ao sucesso do projeto para tentar salvar os animais e ao crescimento de mortes das mães dos animais.
“Mesmo com a superlotação, a gente não vai deixar de receber os animais. O ideal era que o Ibama os acolhesse, mas o órgão não tem recurso. Então, é a nossa missão. O que podemos fazer também é construir um semi-cativeiro na própria natureza, para que o peixe-boi fosse se familiarizando, até ser devolvido ao habitat”, conta o diretor da Ampa.
Em abril deste ano, o primeiro peixe-boi nascido em cativeiro, Erê, fez 13 anos. O nascimento é considerado um marco na ciência e nos projetos de proteção desta espécie. Erê é filho de Boo, primeiro peixe-boi resgatado pelo Inpa, nos anos 70. Boo é mãe de quatro filhotes, dois deles são adotivos.
Fonte: A Crítica