Por Adriane R. de O. Grey (da Redação – Austrália)
Com a crescente pressão de grupos antitouradas em toda a Europa e a iminente proibição dessa prática em toda a região da Catalunha, Espanha, a indústria tauromáquica tenta abrir novos mercados.
Em 2004, o “matador de touros” e empresário espanhol Gabriel de la Casa organizou as primeiras touradas da China, na cidade de Xangai. Depois disso, houve tentativas de sediar touradas em outras cidades em 2005, 2006 e 2007 sem sucesso, devido a trâmites burocráticos com o governo chinês.
No entanto, agora, de acordo com vários artigos publicados em jornais espanhóis, as touradas retornarão à China. Desta vez, infelizmente, não para um evento pontual, mas para o estabelecimento definitivo desta prática atroz e obsoleta num país frequentemente associado à falta de respeito com os direitos dos animais.
O governo chinês fez um acordo com o “matador de touros” Manolo Sánchez, que gerencia um projeto em que estão previstas a construção de uma arena de touros e a instalação de criadouros naquele país.
O criadouro de touros tem como objetivo possibilitar o estabelecimento definitivo da indústria tauromáquica na China e para tal serão importados 100 touros e 100 vacas parideiras que serão pagos pelo governo chinês. Estes animais serão transportados para a China dentro de 2 ou 3 meses.
Planeja-se construir a arena em Huaitou, um distrito de Pequim, perto da Grande Muralha, como parte de um parque temático dedicado e ambientado à Espanha, no qual as touradas possam ser a grande atração. A construção da arena deve começar na mesma época da importação dos animais e prevê-se sua inauguração para 2010 com a realização de duas touradas, numa primeira temporada. A partir de então, pretende-se, para 2011, instaurar definitivamente a tauromaquia na China, com temporadas de 16 corridas cada uma, entre os meses de maio, junho, julho e agosto, por uma série de anos, até que esta prática torne-se vastamente apreciada e inserida na cultura local.
O “matador de touros” e, não esqueçamos, empresário, Manolo Sánchez, assessorando o governo chinês, estabelecerá diretrizes na organização dos “festejos” e mediará a relação entre criadores e toureiros para facilitar as contratações e o transporte dos animais.
O “matador” declara: “É sem dúvida uma ideia muito bonita e muito interessante. Penso que vamos fazer um grande trabalho porque, até momento, o governo chinês tem mostrado um interesse muito grande, além de querer fazê-lo o mais perfeito possível, o mais próximo e fiel à Espanha, respeitando a tourada em toda a sua essência.”
E pergunto eu: o que é exatamente belo e o que é interessante em uma tourada? Seria a preparação pela qual os touros passam para chegar ao enfrentamento, onde são intencionalmente debilitados, por meio de sacos de areia colocados em suas costas, pela raspagem das guampas que compromete seu equilíbrio no combate e pela administração de drogas que diminuem sua força natural? Ou estaria a beleza no fato de que os touros são muitas vezes mantidos por 48 horas na escuridão antes do confronto, para que, quando liberados na arena, mal consigam enxergar quem lhes enfrenta?
Talvez o “matador” Manolo Sánchez ache belo um touro só, assustado, encurralado e desorientado, tentar escapar de diferentes grupos de homens. Numa tourada comum espanhola, o touro é primeiramente provocado pelo matador que, atormentando-o com sua capa, faz com que ele corra em círculos para que se canse, colida e se machuque. Quando cansado e sem fôlego, o animal é cercado pelos “picadores”, que vêm a cavalo (mais um detalhe de crueldade: os cavalos têm as cordas vocais cortadas para não perturbarem as plateias com os gritos de sua agonia se forem chifrados mortalmente. Seu olho direito está vedado, para que não vejam o touro, e os ouvidos, tapados com jornal molhado) e cravam lanças nas suas costas e músculos do pescoço, impedindo o touro de levantar a cabeça, comprometendo a capacidade de dar a chifrada. Estas lanças são giradas para que haja grande perda de sangue. Entram, então, os banderilleros, que circundam o touro cravando-lhe banderillas coloridas, que são espetos de madeira com ponta de metal. Os banderilleros fazem correr em círculos o já enfraquecido animal até que, tonto, ele para de persegui-los. Por fim, entra na arena o “bravíssimo matador” que, a esta altura, enfrenta um animal já em agonia e mata-o com uma espada. A autoimagem de bravura do “matador” é o extremo oposto da realidade da tourada, que é um ato de extrema covardia e crueldade.
A informação quanto à promoção e ao estabelecimento das touradas na China foi transmitida pela página da Care2, que propõe uma enxurrada de e-mails com mensagens de protesto ao governo e à mídia chineses na esperança de que eles reavaliem sua posição e retrocedam em sua decisão. Nós, simpatizantes ou ativistas da defesa dos direitos dos animais, precisamos a todo custo prevenir o desenvolvimento deste projeto para que se evite a expansão da indústria tauromáquica.
Abaixo, reproduz-se o texto sugerido no site da Care2 para a carta a ser enviada:
Dear Sirs,
I was saddened to learn that a Spanish matador named Manolo Sánchez has been contracted to provide breeding stock and matadors to establish bullfighting in China in a bullring to be constructed in Beijing near the Great Wall.
http://www.abc.es/20091116/toros-/china-toros-200911161347.html.
Bullfighting is a horribly cruel ritual in which a bull is slowly killed with swords. China is a country which is developing rapidly, and its people are quickly becoming more understanding in their relationship with animals. Bullfighting however, is an outmoded tradition in Europe that is steadily losing support due to the suffering that is inflicted upon the bulls. This is why its advocates are so keen to export it to what they see as a new market. They know that unless they expand into other countries, their “sport” will be ended soon.
In Europe, bullfights are becoming increasingly unprofitable, with many bullrings much less than half full. There are some European customs that might possibly enrich the Chinese people, but this is not one of them.
I urge you to do all that you can to prevent this loss-making barbarity from corrupting China and its culture.
Yours sincerely,
(Assinatura)
Para: [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected].
CC: [email protected], [email protected], [email protected], [email protected]
A quem estes e-mails são endereçados:
President Hu Jintao, Vice President Xi Jinping: [email protected], [email protected]
Minister of Agriculture: [email protected], [email protected], [email protected]
Minister of Education: [email protected]
Minister of Culture: [email protected]
Minister of Foreign Affairs: [email protected]
Minister of Commerce: [email protected],
http://gzly.mofcom.gov.cn/website/pubmail/send_mail_en.jsp
China Daily: [email protected]
Beijing Daily: [email protected]
People’s Daily: [email protected]
China View: [email protected]
Pode-se igualmente enviar e-mails às embaixadas da China, pelo site http://chinese-embassies.mychinastart.com/, ou fazer comentários na página http://service.china.org.cn/link/wcm/comments.
Além desta ação de caráter mais imediato, a Care2 também está promovendo um abaixo-assinado endereçado ao presidente espanhol, Jose Luis Rodriguez Zapatero, requerendo a abolição deste “esporte” cruel e sangrento de uma vez por todas de seu país: http://www.thepetitionsite.com/takeaction/638133842.
Mais informações sobre a luta antitouradas no site: http://www.latortura.es/.