A rede de investidores Farm Animal Investment Risk and Return (Fairr) publicou em março um relatório, também divulgado pela Bloomberg, apontando que o aquecimento global e a competição com o mercado de proteínas de origem vegetal podem afetar os lucros das grandes empresas que compõem a indústria da carne.
Aumento dos custos e mortalidade dos animais no campo
Segundo a Fairr, temperaturas cada vez mais elevadas tendem a aumentar os custos com alimentação na agropecuária, assim como reduzir o rendimento das culturas utilizadas como ração animal e ainda elevar a mortalidade desses animais no campo.
Em um cenário-modelo, a Fairr prevê que um aumento de dois graus Celsius na temperatura média mundial pode reduzir o lucro das maiores empresas de processamento de carne do mundo em pelo menos 30% – o que equivale a bilhões de dólares.
Fairr sugere mais investimentos em proteínas alternativas
A Fairr sustenta que os efeitos desse cenário podem ser minimizados se essas empresas reduzirem a produção de carne e ampliarem sua participação no mercado de proteínas alternativas – se voltando mais para uma economia de baixo carbono.
O relatório cita as brasileiras JBS, BRF e Marfrig como empresas que precisam urgentemente rever seus modelos de negócios, e que ainda estão longe de fazerem o possível para diminuírem a contribuição às mudanças climáticas.
JBS pode sofrer queda de até 45% na receita
Conforme a Fairr, a brasileira JBS, que continua sendo a maior indústria de processamento de carne do mundo, pode sofrer em longo prazo queda de até 45% da receita em decorrência de temperaturas mais elevadas que impactem na cadeia produtiva da carne. Como a atual receita líquida anual da JBS é de cerca de 255,3 bilhões de reais, isso equivaleria a uma perda de 114,8 bilhões.
Não é a primeira vez que a Fairr faz um alerta sobre a cadeia de produtos de origem animal. Em 2018, a rede de investidores publicou um indicador de sustentabilidade global que revelou que os maiores fornecedores de carnes e laticínios estão colocando em risco as metas da missão do Acordo de Paris, que rege medidas de redução de emissões de gases do efeito estufa.
O indicador é resultado de um levantamento intitulado “The Coller FAIRR Protein Producer Index”, que avaliou à época os modelos de negócios das 60 maiores empresas fornecedoras de proteínas de origem animal – incluindo McDonald’s, KFC, Nestlé, Danone e Walmart.
Empresas não estão contribuindo com o Acordo de Paris
A conclusão foi que 60% dessas empresas foram classificadas como de alto risco se tratando de gerenciamento de sustentabilidade em todas as categorias – incluindo emissões de gases do efeito estufa, desmatamento e perda de biodiversidade, uso de água, bem-estar animal, desperdício, poluição, compromisso com a produção sustentável de proteínas vegetais e segurança dos trabalhadores.
Segundo o indicador, 87,5% das empresas de carne bovina e laticínios não têm divulgado dados sobre as suas emissões e gerenciamento de gases do efeito estufa. A Fairr destaca que a diversificação na produção de proteínas alternativas é fundamental nesse processo.