Por Claudia Braghetto (da Redação)
Animais são objetos, coisas, propriedade – pelo menos de acordo com a maioria das leis dos EUA. Existe pouco reconhecimento de que eles têm inteligência, emoções e interesses próprios (por exemplo, não estar com fome, ou brincar) apesar de um monte de evidências. Um cão esperto está oferecendo prova adicional de que animais merecem ser tratados melhor do que cadeiras.
Chaser conhece mais de 1.200 substantivos, verbos, preposições, advérbios e adjetivos, e ela entende o que eles significam quando estão combinados. Diga a ela o que fazer e ela o faz, corretamente.
Cientista e celebridade Neil deGrasse Tyson demonstrou que a inteligência dela vai além da compreensão de vocabulário e gramática. Ela também usa lógica. Primeiro, ele pediu que ela encontrasse diversos brinquedos dela (ela tem mil deles) pelo nome, o que ela fez sem falhas. Então, ele pediu que ela encontrasse “Darwin”, uma boneca que ela nunca tinha visto ou ouvido falar antes, que estava misturada a outros brinquedos que ela já conhecia. Chaser inferiu que a palavra desconhecida correspondia ao objeto desconhecido, o qual ela pegou e levou até Tyson. Ele ficou impressionado com a esperteza dela. Assim como o escritor da Popular Science, Dan Nosowitz, que chamou a habilidade de raciocínio inferencial dela de “doida”.
Você ver no vídeo abaixo.
Chaser sabe como brincar do jogo de “quente ou frio” para achar coisas. A memória dela é muito melhor do que as pessoas tendem a esperar de animais: ela se lembra de objetos e de seus nomes até quando não tem os visto há anos. Ela entende o que significa quando uma pessoa aponta para alguma coisa, e ela sabe quando alguém quer que ela o copie e assim o faz. Essas últimas especificamente provam que ela tem uma “teoria da mente” – ela entende que outros seres têm suas próprias mentes com pensamentos diferentes dos que ela tem.
Houve um tempo em que cientistas acreditavam que apenas humanos, ou no máximo primatas, tinham uma teoria da mente, e que isso seria a diferença crucial entre humanos e animais, que justificava a exploração deles por nós. Isso foi depois que cientistas argumentaram que animais não humanos não conseguiam utilizar ferramentas como nós, então nós poderíamos fazer o que quiséssemos com eles, e antes deles decidirem que a diferença real entre humanos e todos os outros animais é empatia e altruísmo.
Todos esses argumentos foram refutados. Por exemplo, quando ratos veem outro rato em uma jaula, eles conseguem abri-la, mesmo que muitas tentativas sejam necessárias. Se acontecer de ter uma pilha de gotas de chocolate ao alcance, eles a dividem com o recém-chegado – que, afinal de contas, está tendo um dia ruim e tiraria bom proveito. Ratos são mais atenciosos do que algumas pessoas que já conheci.
As diferenças na inteligência de outras espécies têm sido desculpas confiáveis para pessoas que querem justificar tratar animais não humanos muito pior do que humanos, como pessoas que fazem experimentos neles, ou os caçam, ou os comem. Com o avanço da ciência, fica mais claro que a inteligência de alguns animais não humanos é mais aproximada da nossa do que essas pessoas gostariam.
Golfinhos, elefantes e chimpanzés ganharam algum respeito por suas habilidades intelectuais, assim como Koko, o gorila que conversava com pessoas usando a Linguagem de Sinais Americana. Agora Chaser, cuja inteligência está párea com a de um humano de dois anos e meio, está trazendo cães para o debate.
Então animais são espertos. Essa é mais uma razão para dar a eles proteção legal contra a tortura que muitos sofrem rotineiramente nas mãos humanas. Outra razão irrefutável é que animais sentem dor, física e emocional. Eles sofrem quando fazendas industriais os prendem em jaulas tão apertadas que eles não conseguem se mover. Eles sofrem quando pesquisadores jogam produtos químicos em seus olhos para testar (imprecisa e desnecessariamente) a segurança de alguns produtos de uso doméstico ou cosméticos.
Existem incontáveis outros exemplos que deveriam fazer a nossa espécie se envergonhar. Chaser tem sorte, mas e os cães inteligentes que são forçados a uma curta, violenta vida de rinhas, ou a uma vida inteira em uma pequena jaula fazendo filhotes para as pet shops venderem? Não há diferença entre nós e eles que torne nada disso aceitável.
Chaser é inteligente como uma criança pequena, e mais educada, mas americanos estão livres para tratar a espécie dela chocantemente mal. Até os exemplos mais domésticos são surpreendentes. Se os pais de uma criança pequena se divorciam e discutem sobre custódia, um juiz do tribunal da família tomará a decisão baseada no que for melhor para o bebê, mas se o casal que está se separando discute sobre quem vai ficar com o cachorro, o juiz não irá averiguar quem o trata melhor ou criar um calendário de visita para que ele mantenha ambas as pessoas amadas em sua vida, da mesma forma como faria com um piano. Chaser sabe o que está acontecendo. Ela merece mais do que isso.