A cantora Anitta e seu grupo de convidados causaram polêmica ao restringir o acesso à Praia do Leão, principal sítio de desova de tartarugas-marinhas em Fernando de Noronha, durante as comemorações de seu aniversário de 32 anos. O episódio, ocorrido nesta semana, expõe um grave descaso com a proteção da biodiversidade local em um dos ecossistemas mais frágeis do país.
A praia, que é área de preservação permanente monitorada pelo Projeto Tamar, teve o acesso bloqueado para outros visitantes na última terça-feira (30), impedindo inclusive a passagem de turistas que já estavam no local. Testemunhas relataram que um casal com criança foi barrado por seguranças enquanto tentava observar filhotes de tartaruga-de-pente (Eretmochelys imbricata) – espécie criticamente ameaçada de extinção – em seu trajeto para o mar.
O período de dezembro a junho marca a temporada de desova das tartarugas-marinhas no arquipélago. Biólogos do Projeto Tamar alertam que qualquer interferência humana nesse processo – desde a presença excessiva de pessoas até a alteração do traço de luz na praia – pode comprometer o sucesso reprodutivo dos animais.
“É inacreditável que, em pleno 2025, ainda presenciemos esse tipo de comportamento em uma unidade de conservação federal”, declarou ao ECOA um pesquisador do Tamar que preferiu não se identificar. “Essas tartarugas já enfrentam ameaças naturais enormes. Não podemos somar a isso o desrespeito humano.”
Enquanto o acesso era restrito, João Vinícius, primo de Anitta, publicou em suas redes sociais fotos dos filhotes recém-nascidos seguindo para o mar – imagens que, ironicamente, mostravam justamente o espetáculo natural do qual outros visitantes estavam sendo privados.
Procurada pela reportagem, a assessoria de Anitta não se manifestou sobre o ocorrido até o fechamento desta edição. Já o ICMBio informou que “apura denúncias de irregularidades na área de proteção ambiental”.
Especialistas em conservação marinha ouvidos pela reportagem são unânimes: o episódio representa um retrocesso nos esforços de educação ambiental que vêm sendo realizados há décadas no arquipélago. Enquanto isso, nas redes sociais, a hashtag #NoronhaNãoÉDisney já começa a circular entre ambientalistas e moradores indignados.