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TEMPORADA DE SECA

Incêndios que começam cada vez mais cedo e terminam mais tarde: entenda o que está acontecendo com o Pantanal

Bioma passa por alerta, com temporada seca e número elevado de focos de incêndios florestais

10 de junho de 2024
Marco Britto, para Um Só Planeta
6 min. de leitura
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Brigadas Pantaneiras da SOS Pantanal — Foto: Gustavo Figueiroa/SOS Pantanal

A temporada seca no Pantanal vem causando preocupação neste ano, com baixo nível dos rios e um aumento de quase dez vezes em relação ao número de focos de incêndio registrados. Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), as ocorrências cresceram 931% em um ano nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

“Estamos vivenciando as mudanças climáticas“, afirmou o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), órgão do governo federal, em nota. O instituto declarou ainda que mobilizou brigadistas e os “meios necessários” para combater os incêndios na região. “Os incêndios provocam muita fumaça, o que pode afetar a saúde de populações próximas, e trazem efeitos negativos para a flora e fauna.”

Um Só Planeta procurou especialistas para analisar as características desse bioma, e entender o que compõe este cenário de seca e incêndios florestais.

Temporada seca

O bioma de planícies alagadas costuma ter uma temporada seca, sendo que as chuvas costumam acontecer com maior volume a partir de outubro, e normalmente perduram até abril, explica a pesquisadora Marília Guedes Nascimento, do Inpe.

Influência do El Niño

Os incêndios florestais desta época não configuram uma situação excepcional, avalia o Inpe, porém podem ser intensificados por eventos climáticos atípicos. “Desde maio do ano passado o fenômeno El Niño esteve atuante e dessa forma contribuiu para o aumento da temperatura sobre a região”, afirma Nascimento.

Incêndios vêm ganhando força

“[O fogo] faz parte das características deste bioma, mas os incêndios estão começando cada vez mais cedo, terminando mais tarde, sendo maiores do que o observado até o século passado”, observa a meteorologista e fundadora do Climatempo e da C3 TV (Climate Change Channel), Ana Lúcia Frony. “Se considerarmos nossos dados passados é anormal, mas a população deve se preparar para este novo normal, que inclui o aumento do fogo no Pantanal.”

Fogo subterrâneo

O fogo subterrâneo pode ocorrer no Pantanal, facilitando com que o incêndio se espalhe até mesmo por áreas onde passam rios. Recentemente, dois incêndios de grandes proporções foram suficientes para destruir o equivalente a 5 mil campos de futebol no Pantanal de Mato Grosso do Sul, como mostrou o Jornal Nacional.

“São áreas de difícil acesso, com fogo de subterrâneo também, fogo de turfa. O que dificulta mais ainda a ação do combate é a necessidade de abrir trincheiras como linha de controle, escavar até o solo mineral para que o fogo não passe por baixo dessa linha. É difícil de andar, muito calor também. Nós estamos em junho, mas a temperatura está alta”, afirma Márcio Yule, coordenador estadual Ibama Prevfogo, em entrevista à TV Globo.

Pouca chuva

Segundo dados do Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima (Cemtec), do governo de Mato Grosso do Sul, este ano, no mês de abril, as chuvas mantinham níveis de 600 a 800 milímetros, enquanto o normal seria de 1.400 milímetros. Para Frony, é possível que a seca até dure menos, mas a chuva a seguir não será volumosa. “O que devemos esperar é que este ano a chuva volte mais cedo que no ano passado, mas também que seja abaixo da média utilizada hoje, que vai dos anos de 1991 a 2020.”

Por conta do alerta de chuvas abaixo da média, o governo do Mato Grosso do Sul decretou situação de emergência ambiental no dia 9 de abril, por 180 dias. No início de maio, com base em dados do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), a Agência Nacional de Águas (ANA) avaliou que os estados de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso já estão em situação de seca. Diante da falta de chuvas e temperaturas acima da média histórica na Bacia do Alto Paraguai, a ANA declarou situação de escassez hídrica iminente na região.

Reação do poder público

No Dia Mundial do Meio Ambiente (5 de junho), a ministra Marina Silva, que lidera o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, alertou para o risco elevado de incêndios no Pantanal e de seca na Amazônia, além de defender a decretação antecipada de emergência climática nos municípios que estão sob risco, para investir em prevenção.

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