EnglishEspañolPortuguês

HABITAT DESTRUÍDO

Incêndios no MT ameaçam uma das maiores populações de onças-pintadas do mundo

Chuva conteve alguns focos, mas ainda não extinguiu o fogo no Parque Estadual Encontro das Águas.

13 de outubro de 2024
Isabella Baroni
4 min. de leitura
A-
A+
Foto: Sebastian Kennerknecht

Equipes do governo de Mato Grosso e do Ibama estão combatendo um grande incêndio que se alastra pelo Parque Estadual Encontro das Águas. A unidade de conservação é um dos principais pontos do para observação de onças-pintadas (Panthera onca) do mundo. Cerca de 33,5% da área protegida já foi consumida pelo fogo.

De acordo com o monitoramento do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Lasa/UFRJ), os incêndios tiveram início no dia 20 de setembro. Entre bombeiros e servidos do Estado e brigadistas do PrevFogo do Ibama, 120 pessoas estão atuando no combate ao fogo, que toma conta de cerca de 350 quilômetros quadrados. O parque está localizado nos municípios de Barão de Melgaço e Poconé,

Os bombeiros estão atuando desde 28 de setembro na área da fazenda de pecuária GCSJ, que fica no interior do parque. Apesar de pesquisadores e autoridades de fiscalização afirmarem que, pelo menos, 85% dos incêndios florestais no país são criminosos, o comandante-geral dos Corpo de Bombeiros do Mato Grosso, coronel Flávio Glêdson Bezerra, disse que a suspeita é de que o incêndio tenha origem natural, devido à queda de um raio.

“Sobrevoamos e verificamos que é uma área completamente remota, então há grandes chances de não ter sido por qualquer ação humana. As altas temperaturas, junto às rajadas de vento, contribuíram para propagação das chamas, mas estamos com todo o esforço voltado para controlar a extinguir esse incêndio”, completou.

Populações de onças-pintadas ameaçadas pelo fogo

Os incêndios deste ano que atingem o Parque Estadual Encontro das Águas já superaram a quantidade de hectares queimados em 2023, em que 28% da área da unidade de conservação foi destruída (aproximadamente 30.800 hectares). Ao todo, já foram queimados 36.225 hectares (33,5% da área total). Em 2020, 86% da reserva queimou (cerca de 90 mil hectares).

Outra importante unidade de conservação que está sendo prejudicada com os incêndios é a Estação Ecológica de Taiamãárea protegida conhecida pelas onças-pintadas pescadoras. Os incêndios nas duas unidades de conservação já somam mais de 40 mil hectares queimados desde o início de 2024.

A região onde se concentra o fogo no Parque Estadual Encontro das Águas é conhecida pelo turismo de vida selvagem, onde há grande número de onças-pintadas habituadas com a presença humana, sendo possível avistá-las com facilidade. O biólogo e coordenador de projetos da ONG Panthera, Fernando Tortato, receia que esses incêndios consecutivos afete as onças.

Fernando frisou que tanto o fogo quanto a seca persistente reduzem as principais fontes de alimento para a onça. “Em um primeiro momento, o hábitat é destruído e há uma redução no número de presas, que são os animais que mais sofrem com o incêndio”, explica. Sobre a estiagem, o coordenador da Panthera salienta que a base de alimentação da onça-pintada são grandes animais associados à ambientes aquáticos, como capivara e jacarés, impactados com a seca.

A fauna silvestre sofre duras consequências com a chegada do fogo às unidades de conservação, locais com vegetação mais densa e disponibilidade de recursos alimentares em maior abundância. A Secretaria Estadual de Meio Ambiente do Mato Grosso (Sema) afirmou estar com duas equipes trabalhando em conjunto com a equipe de combatentes, monitorando e realizando o resgate de animais, quando necessário, que são encaminhados para a base do órgão na estrada parque Transpantaneira. No Parque Estadual Encontro das Águas, já houve a necessidade de resgate de dois cervos-do-pantanal (Blastocerus dichotomus).

Animais resgatados precisam ser evacuados de base de ONG

A base do Instituto Ampara Silvestre no Pantanal, localizada em Poconé (MT), precisou  ser evacuada a partir do dia 10. Dois grandes focos cercavam a base, sendo que um deles chegou a quatro quilômetros das instalações, fazendo com que uma força-tarefa fosse necessária para a remoção dos animais que se encontravam sob cuidados da instituição.

Uma onça-parda (Puma concolor) foi transferida para o Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (Cras) do governo do Mato Grosso do Sul, em Campo Grande, enquanto uma anta (Tapirus terrestris), um tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) e um veado-campeiro (Ozotoceros bezoarticus) foram levados à base da Sema.

A s recentes chuvas extinguiram o fogo, mas há risco do surgimento de novos focos.

Apelo internacional para evitar mais perdas no Pantanal

Representantes do Pantanal estiveram no Parlamento Europeu, em Bruxelas, nas últimas semanas, chamando a atenção internacional para a situação dos ecossistemas úmidos no Brasil. A defensora da biodiversidade e do clima na Environmental Justice Foundation (EJF), Luciana Leite, reuniu-se com eurodeputados para alertar sobre a importância do Pantanal na regulação do clima global e entregou a eles cinzas das queimadas do bioma.

“Para muitos, o Pantanal ainda era desconhecido e, ao serem alertados da sua importância para biodiversidade e para comunidades locais, bem como da atual situação do bioma, ficaram em choque. O encantamento causado pelas belezas do Pantanal logo foi substituído pela preocupação diante das ameaças que enfrenta. Os incêndios sucessivos esstão causando grande perda de biodiversidade, o que pode ser irreversível”, alertou.

Fonte: Fauna News

    Você viu?

    Ir para o topo