Segundo o serviço meteorológico espanhol, Aemet, o país experimenta máximas sem precedentes neste mês de agosto. Os termômetros superaram os 45 graus em diversas regiões do sul. Dois bombeiros voluntários morreram, assim como um homem de 50 anos, que sofreu queimaduras em 98% do corpo ao tentar salvar cavalos presos em um estábulo na periferia de Madri. Sánchez chamou de heróis os agentes envolvidos no combate às chamas, alertando que a situação continua muito perigosa em diversos pontos do país.
Dados coletados pelo serviço Copernicus, que monitora por satélite a evolução dos incêndios na Europa, mostram que a temporada atual já supera o dobro da média histórica de área queimada. Até terça-feira (12), último dado disponível, 511.846 hectares queimaram no continente, contra uma média em período equivalente de 218.416 hectares da série iniciada em 2006.
O aquecimento global, provocado sobretudo pela queima de combustíveis fósseis, mostram estudos de atribuição, é fator preponderante na intensidade dos incêndios no sul europeu. “Nosso país é especialmente vulnerável à mudança climática“, disse a ministra Aagesen.
Se a crise climática cria um cenário propício aos incêndios, a maioria deles é iniciada por pessoas, em atos de negligência ou criminosos, alerta o braço europeu da WWF.
“A Europa encontra-se numa encruzilhada: podemos continuar a investir em respostas de emergência dispendiosas ou podemos tomar medidas estratégicas e baseadas na ciência para prevenir essas catástrofes antes que elas ocorram”, disse no começo do mês Edoardo Nevola, responsável pela área de florestas da ONG na Itália.
Quando a área queimada na Europa ainda beirava os 300.000 hectares, há 15 dias, a instituição e a BirdLife Europe publicaram um relatório listando uma série de medidas para substituir “a reação de combater o fogo por uma prevenção proativa”.
O estudo sugere proteger e restaurar ecossistemas, como florestas naturais, zonas úmidas e pastagens, que funcionam como barreiras naturais contra incêndios; manejo florestal, com substituição de plantações inflamáveis por espécies nativas resistentes ao fogo; revitalizar práticas tradicionais para aumentar a biodiversidade; reintegrar espécies da fauna que se alimentam de restos de vegetação, que viram combustível nas secas; investir em sistemas de alerta precoce e treinar comunidades para incêndios em áreas de alto risco.
Segundo as ONGs, as queimadas europeias emitem anualmente o equivalente a quatro meses do setor de aviação no mundo e causam prejuízo de € 13 bilhões (R$ 78,8 bilhões) a € 21 bilhões (R$ 128,6 bilhões), recurso suficiente para restaurar uma floresta do tamanho da Eslovênia por ano.
Um exemplo, citado pelo estudo, ocorre em uma área de Portugal, em que pinheiros exóticos, propensos a incêndios, estão sendo substituídos por espécies nativas, como azinheiro e sobreiro, de casca mais espessa e maior grau de regeneração após o fogo.
“Restaurar a natureza é a única solução viável e de longo prazo para prevenção de incêndios. Isso significa que o dinheiro público precisa ser direcionado para ações preventivas comprovadas que protejam os cidadãos e seus meios de vida”, declarou Riccardo Gambini, responsável por florestas e bioenergia da BirdLife Europe.
Fonte: Folha de S.Paulo