O planador-de-barriga-amarela, o mais habilidoso mamífero voador da Austrália, caminha a passos largos rumo à extinção, vítima de uma combinação mortal entre mudanças climáticas, incêndios florestais e perda de habitat. Com sua incrível capacidade de planar até 140 metros em um único salto – o maior alcance entre os mamíferos australianos –, essa espécie singular enfrenta um futuro incerto à medida que seu ecossistema desaparece sob as chamas e a ação humana.
Pesquisadores alertam que as características únicas do planador-de-barriga-amarela o tornam especialmente vulnerável. Dependendo de árvores antigas para abrigo e nidificação, alimentando-se de seiva, néctar e insetos, e exigindo vastas áreas de floresta para sobreviver, o marsupial vê seu mundo se reduzir rapidamente. O professor John Woinarski, ecologista da Universidade Charles Darwin, não tem dúvidas: “Eles estão numa trajetória inexorável para a extinção”, afirma, destacando que o desaparecimento acelerado de árvores ocas – seja por incêndios ou exploração madeireira – está tornando sua sobrevivência cada vez mais difícil.
Os incêndios florestais catastróficos de 2019-2020 foram um golpe devastador, queimando 41% do habitat da espécie e levando-a à lista nacional de animais ameaçados em 2022. Mas mesmo antes disso, o desmatamento e a fragmentação das florestas já pressionavam esses marsupiais, conhecidos por seus chamados estridentes – descritos por um pesquisador como “um porco satânico passando por um exorcismo”.
Com duas subespécies em risco – uma no norte tropical de Queensland e outra no sudeste australiano –, o planador-de-barriga-amarela enfrenta um cenário sombrio. Enquanto a população do norte é considerada ameaçada, a do sudeste já pode ter desaparecido na Austrália do Sul. Estima-se que restem entre 10 mil e 100 mil indivíduos, com um declínio de 30% em apenas 15 anos em algumas regiões.
O ecologista Rod Kavanagh, que estuda a espécie desde os anos 1970, relata que, após os incêndios, muitas áreas antes habitadas pelos planadores simplesmente os perderam. “Em locais severamente queimados, eles sumiram”, diz. Enquanto isso, o desmatamento continua a avançar em Queensland e Nova Gales do Sul, reduzindo ainda mais seu já frágil habitat.
Apesar do cenário desolador, especialistas acreditam que ainda há esperança. Desley Whisson, da Universidade Deakin, defende projetos de reflorestamento e conexão de fragmentos florestais para garantir a sobrevivência da espécie. Woinarski, por sua vez, reforça a necessidade de combater as mudanças climáticas com urgência: “Se não agirmos agora, em 20 anos será tarde demais”, alerta.
Enquanto cientistas correm para entender melhor os impactos da crise climática sobre esses marsupiais, uma coisa é certa: o planador-de-barriga-amarela, com sua beleza única e hábitos fascinantes, não pode ser mais uma vítima esquecida. Sua sobrevivência depende não apenas de políticas ambientais eficazes, mas também da conscientização de que perdê-lo seria perder parte da riqueza irreplaceável da vida selvagem australiana.