Os incêndios dos últimos dias queimaram toda a floresta da cordilheira central da Madeira e destruíram 95% do Parque Ecológico do Funchal, uma área com 1.000 hectares a uma altitude que varia entre os 470 e os 1.810 metros. No continente, o fogo no Mezio, no Parque Nacional da Peneda-Gerês, continuava ontem a não dar descanso aos bombeiros.
Para o ambientalista Raimundo Quintal, presidente da Associação dos Amigos do Parque Ecológico do Funchal, este é “um desastre bem mais grave, em termos ecológicos, que o temporal de 20 de fevereiro”, embora sem vítimas humanas. O fogo, impelido por rajadas de vento da ordem dos 100 km/h, subiu veloz, ao início da tarde de sexta-feira, as vertentes da Ribeira do Cidrão, vindo do fundo do Curral das Freiras. Ao chegar ao Pico do Areeiro, começou a descer e queimou tudo pelo caminho.
A plantação da Associação dos Amigos do Parque Ecológico não escapou à voracidade das chamas e muito do trabalho realizado nos últimos dez anos foi destruído em instantes, lamenta Quintal. Do Pico do Areeiro ao Pico Ruivo, a biodiversidade foi profundamente afetada, descreve.
“Uma enorme dilapidação da biodiversidade e um monstruoso caos de blocos à espera das próximas chuvas para correr encosta abaixo, são marcas do perigoso deserto que agora ocupa uma grande parte da cordilheira central”, alerta Quintal. Preocupado com este risco, o presidente da Câmara Municipal do Funchal, Miguel Albuquerque, anuncia hoje um projecto de reflorestação do parque ecológico. “Houve um trabalho, de mais de 12 anos, realizado pela câmara e pela Associação dos Amigos do Parque Ecológico de reflorestação das serras escalvadas que está praticamente destruído”, lamentou o autarca.
Gerês continuava a arder
O Governo Regional identificou alguns suspeitos pela deflagração de incêndios nas serras da Madeira, garantiu o secretário regional do Ambiente, Manuel António Correia. As informações foram enviadas à Polícia Judiciária (PJ), adiantou o governante. Em declarações à RTP-Madeira, que está cobrindo “as férias do presidente”, Jardim disse não ter “dúvidas que os incêndios têm origem criminosa” com o objetivo de criar “na Madeira um clima de terrorismo florestal como no continente”. A PJ deteve um suspeito, anteontem, na Madeira, e, no continente, foram também detidos outros dois alegados incendiários em Lamego e em Paredes, que serão hoje presentes a primeiro interrogatório. Eleva-se assim para 19 o número de suspeitos por fogo posto detidos este Verão.
Ao final da tarde de ontem, a Protecção Civil contava 321 fogos, 23 dos quais ativos (448 no total de sábado). A maior preocupação continuava a ser o incêndio de Mezio/Travanca, no Parque Nacional Peneda-Gerês (PN-PG), combatido por 216 bombeiros, apoiados por 51 veículos. Durante a tarde, atuaram dois aviões bombardeiros pesados Canadair franceses da Força de Reserva Tática da União Europeia. Este incêndio destrói mato desde a última terça-feira. Melhores notícias para o fogo da Mata do Cabril, também no PNPG, que, apesar de um reacendimento na manhã de ontem, acabou por ser extinto.
Fonte: Público