Em 2024, a Amazônia teve a temporada de incêndios florestais mais devastadora em mais de duas décadas, gerando aproximadamente as emissões anuais da Alemanha, de acordo com novo estudo do Centro Comum de Pesquisa da Comissão Europeia (JRC).
Os dados mostram que 3,3 milhões de hectares foram afetados pelas chamas. Essa área é maior que a Bélgica e representa 0,7% da floresta intacta remanescente – a maior parcela atingida por incêndios desde 2021 e nove vezes maior que a média em mais de 20 anos.
O aumento é provavelmente causado por uma combinação de estresse extremo por seca devido ao aquecimento global, fragmentação florestal e manejo insustentável do solo.
No período analisado, estima-se que 791 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) tenham sido liberadas na atmosfera, um aumento de sete vezes em relação à média dos dois anos anteriores.
Os autores, em artigo publicado no European Geoscience Union, indicam que a crescente frequência e a extensão dos incêndios ameaçam empurrar a floresta amazônica para um ponto crítico catastrófico.
Eles destacaram a urgência de tomar medidas coordenadas para mitigar esses fatores e prevenir danos irreversíveis ao ecossistema. Dentre elas estão reduzir o uso de fogo, fortalecer a aplicação da lei e apoiar os esforços de gestão local e indígena. Além disso, salientaram a necessidade de mecanismos internacionais de financiamento aprimorados para a mitigação climática que reconheçam e abordem a degradação florestal, não apenas o desmatamento.
Degradação causada pelo fogo
A análise do JRC, que faz parte de uma cooperação mais ampla entre a União Europeia e os países da América Latina no âmbito do programa Amazônia+ da UE, baseou-se em uma combinação de dados de duas ferramentas desenvolvidas pelo centro: o Sistema Global de Informação sobre Incêndios Florestais e o Sistema de Monitoramento de Florestas Tropicais Úmidas. Este último identifica áreas florestais afetadas por incêndios e exclui áreas de terra usadas em atividades de desmatamento ou terras já desmatadas.
Para avaliar as emissões e as incertezas relacionadas a variáveis como densidade de biomassa acima do solo, completude da combustão e porcentagem de cobertura florestal afetada pelo fogo, os autores aplicaram uma estrutura de simulação de Monte Carlo, uma abordagem que usa modelagem computacional para obter resultados numéricos de amostragem aleatória.
Os resultados mostraram que a maior parte das florestas afetadas pelos incêndios está no Brasil (50%) e na Bolívia (42%), seguidos pela Venezuela (4,9%) e Peru (1,5%). No Brasil, 2024 marcou o maior nível de emissões por degradação florestal já registrado. Na Bolívia, os incêndios afetaram mais de 9% da cobertura florestal intacta remanescente do país.
Os pesquisadores dizem que o trabalho lança luz sobre a degradação causada pelo fogo, que corrói a integridade da floresta sem necessariamente resultar no desmatamento completo – florestas degradadas podem parecer intactas vistas de cima, mas perdem uma parcela significativa de sua biomassa e função ecológica e, ao contrário das áreas de corte raso, frequentemente não são detectadas pelos sistemas contábeis nacionais e pelas estruturas políticas internacionais.
Fonte: Um só Planeta