Oceanos desempenham um papel essencial na manutenção da vida em terra, contribuindo para a produção de oxigênio (pelos plânctons) e abrigando boa parte da biodiversidade. Mas um novo estudo da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara, nos EUA, indica que as pressões humanas sobre esses ecossistemas estão os levando a um limite perigoso.
“Nosso impacto cumulativo nos oceanos, que já é substancial, vai dobrar até 2050 — em apenas 25 anos”, afirma o ecologista Ben Halpern, que liderou o projeto de pesquisa, em comunicado. “É preocupante e inesperado, não porque os impactos aumentarão, mas porque aumentarão extremamente rápido.”
O grupo acredita que os ambientes oceânicos podem se curvar sob as pressões combinadas das atividades humanas, as quais resultam no aquecimento das águas, na perda de biomassa pesqueira, na elevação do nível do mar, na acidificação e na poluição por nutrientes. Também foi descoberto que os trópicos e os polos sofrerão as mudanças mais rápidas, e que as áreas costeiras sentirão o maior impacto.
Estima-se que os impactos cumulativos aumentem de 2,2 a 2,6 vezes globalmente nos próximos anos. As observações aparecem em um artigo científico, o qual foi publicado no dia 4 de setembro dentro da respeitada revista Science.
Modelo de impacto humano
Conforme a atividade humana nos oceanos e ao longo das costas se intensifica, também se intensificam os impactos no ambiente marinho. Halpern e sua equipe já tinham enfrentado o desafio de entender como essas peças se encaixam para afetar o oceano há quase 20 anos, e esse projeto lançou as bases para o estudo atual.
“As pessoas monitoravam um problema de cada vez, mas não todos juntos”, lembra Halpern. “Mais importante, havia uma sensação generalizada de que o oceano é tão vasto que os impactos humanos não poderiam ser tão graves.”
Originalmente, a busca por um modelo abrangente dos impactos humanos no oceano levou à publicação de um artigo em 2008 na Science, que sintetizou 17 conjuntos de dados globais para mapear a intensidade e a extensão da atividade humana nos oceanos do mundo. Essa visão inicial revelou resultados surpreendentes: nenhum lugar permaneceu intocado e 41% dos ambientes marinhos do mundo já foram fortemente impactados.
Previsão do futuro
“O artigo anterior nos diz onde estamos; nossa pesquisa atual nos diz para onde estamos indo”, destaca Halpern. Espera-se que o aquecimento dos oceanos e a perda de biomassa devido à pesca sejam os maiores contribuintes globais para os impactos cumulativos futuros.
De acordo com o novo estudo, o alto nível de impactos futuros pode exceder a capacidade dos ecossistemas de lidar com as mudanças ambientais. Por sua vez, isso pode representar desafios para as sociedades e instituições humanas de diversas maneiras.
“As costas são onde as pessoas extraem mais valor do oceano”, aponta o pesquisador dos EUA. “Além disso, muitos países dependem do oceano para alimentação, subsistência e outros benefícios. Muitos desses países enfrentarão aumentos substanciais.”
Destino não é imutável
Os autores argumentam que a implementação de políticas para reduzir as mudanças climáticas e fortalecer a gestão pesqueira pode ser uma forma eficaz de gerenciar e reduzir os impactos humanos. Isso, considerando, sobretudo, o papel descomunal que o aquecimento dos oceanos e a perda de biomassa desempenham na estimativa dos impactos humanos futuros sobre o oceano.
Da mesma forma, priorizar a gestão de habitats que se espera que sejam fortemente impactados — como pântanos salgados e manguezais — pode ajudar a reduzir as pressões sobre eles. E, ao apresentar essas previsões e análises, os pesquisadores esperam que medidas eficazes possam ser tomadas o mais rápido possível para minimizar ou mitigar os efeitos do aumento das pressões da atividade humana.
“Ser capaz de prever o futuro é uma ferramenta de planejamento extremamente poderosa. Ainda podemos alterar esse futuro; este artigo é um alerta, não uma receita”, avalia Halpern.
Fonte: Um só Planeta